Por Talita da Silva Jeremias – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC
Nossos olhos possuem uma cavidade, entre a córnea e o cristalino, que é preenchida por um líquido chamado de humor aquoso, constituído de água e sais. Esse líquido possui a importante função de nutrição da córnea e manutenção da temperatura do olho, mas quando em excesso pode ocasionar um aumento na pressão dentro do olho (pressão intraocular) e, consequentemente, lesionar o nervo óptico e prejudicar a visão.
O aumento na pressão intraocular é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de glaucoma, uma doença oftalmológica que, se não controlada, pode levar à cegueira. Assim, uma das maneiras de controlar a progressão da doença é monitorar a pressão intraocular para que tratamentos adequados possam ser conduzidos.
Mas, como monitorar a pressão nos olhos? Atualmente, exames laboratoriais simples são utilizados, mas estes não permitem uma detecção contínua da pressão. Existem também lentes de contato com sensores embutidos, porém essas são rígidas, espessas, bloqueiam parcialmente a visão e são pouco sensíveis. Então, pesquisadores de bioengenharia vêm buscando uma solução adequada para monitorar a pressão intraocular.
Nesse sentido, de maneira mais sofisticada e, digo, quase futurística, cientistas desenvolveram uma lente de contato macia e transparente para monitorar a pressão intraocular em tempo real usando um smartphone. Para isso, a lente de contato desenvolvida possui um sensor de tensão, uma antena sem fio, capacitores, resistores, interconexões de metal extensível e um circuito integrado para comunicação sem fio. Ok! Simplificando, essa lente de contato tecnológica monitora a pressão intraocular através de um sensor e a transmissão desses dados ocorre via wireless (sem fio) para um smartphone. Isso não é fantástico? Você recebe os valores da pressão do seu olho no seu celular! A qualquer momento!
Ficou curioso para ver essa lente? A figura acima mostra um esquema e uma foto da super lente de contato. Vejam que a lente não interfere o campo de visão do usuário, porque todos os componentes são colocados fora da pupila, local onde a imagem/luz é captada pelo olho.
Os testes em coelhos e em humanos mostraram boa biocompatibilidade da lente e os dados coletados foram semelhantes àqueles obtidos através dos melhores métodos de detecção de pressão intraocular usados atualmente, o que mostra que as medições são precisas. Além disso, a lente não provocou inflamação e mostrou estabilidade térmica quando em funcionamento, ou seja, um aquecimento adequado.
Os resultados do estudo foram satisfatórios e são muito promissores para o controle de doenças associadas a alterações na pressão intraocular, como o glaucoma. Ainda, de forma entusiasmante, mostram que monitorar alterações fisiológicas do nosso corpo em tempo real, com precisão e acesso fácil aos resultados via um smartphone é uma realidade cada vez mais próxima e em breve poderá ser acessível a todos nós.
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