Repensando o Transplante de Medula óssea: será o fim da quimioterapia?

Por Patrícia Shigunov – Instituto Carlos Chagas – FIOCRUZ

O transplante de medula óssea, também conhecido como transplante de células-tronco hematopoiéticas, é um procedimento médico complexo utilizado para tratar diversas doenças do sangue, como leucemias, linfomas e algumas condições genéticas. As células-tronco hematopoiéticas desempenham um papel vital na saúde sanguínea, sendo responsáveis pela produção de todas as células sanguíneas ao longo da vida de uma pessoa. Antes de realizar o transplante de medula óssea, é essencial preparar o ambiente da medula óssea do receptor para receber as novas células-tronco saudáveis.

A quimioterapia e/ou radioterapia são administradas para eliminar as células-tronco hematopoiéticas doentes do receptor e eliminar o sistema imunológico, minimizando o risco de rejeição das células transplantadas. Apesar de sua eficácia, o transplante está associado a diversos efeitos colaterais e complicações, cuja gravidade varia conforme o estado do paciente, o tipo de transplante e as fontes de células-tronco utilizadas. Embora esse procedimento seja fundamental, acaba impactando as células saudáveis.

Diante desse cenário, cientistas descobriram que nanopartículas lipídicas carregadas com RNA mensageiro (mRNA) têm a capacidade de acessar as células-tronco hematopoiéticas no nicho da medula óssea de camundongos com uma única injeção na veia. As nanopartículas foram direcionadas pelos anticorpos contra o receptor CD117, proteína presente na membrana das células-tronco hematopoiéticas. As nanopartículas lipídicas carregadas com mRNA, capazes de codificar enzimas de “edição genética”, editaram o genoma de células-tronco hematopoiéticas tanto in vitro quanto in vivo por longo período, alcançando níveis terapeuticamente relevantes para a cura de doenças sanguíneas (hematopoiéticas), incluindo a anemia falciforme.

Além disso, os cientistas testaram uma outra abordagem inovadora, entregando mRNA que codifica a uma proteína que promove a morte da célula (pró-apoptótico PUMA), com as nanopartículas lipídicas direcionado às células-tronco hematopoiéticas em camundongos. Esse método permitiu a eliminação das células-tronco hematopoiéticas doentes da medula óssea, o que poderia eliminar as limitações dos protocolos convencionais do transplante.

O desenvolvimento de complexos com nanopartículas lipídicas, mRNA e anticorpo contra um receptor específico, representa um marco na pesquisa científica, promovendo avanços na terapia com células-tronco hematopoiéticas. Essa inovação não apenas aprimora a eficácia no tratamento de doenças genéticas relacionadas ao sangue, mas também aponta para uma mudança de paradigma, potencialmente eliminando a necessidade de transplantes de células-tronco para algumas condições. O futuro da genética médica se mostra mais promissor do que nunca, graças a essa descoberta curiosa.

Referências

Breda L, Papp TE, Triebwasser MP, Yadegari A, Fedorky MT, Tanaka N, Abdulmalik O, Pavani G, Wang Y, Grupp SA, Chou ST, Ni H, Mui BL, Tam YK, Weissman D, Rivella S, Parhiz H. In vivo hematopoietic stem cell modification by mRNA delivery. Science. 2023 Jul.

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