Ode a um amigo cientista…

Por Giordano W. Calloni, Dpto de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC 

Caros leitores, no presente texto, tomarei a liberdade de apresentar a vocês a descoberta feita por um dos eminentes cientistas que fazem parte desse blog. Tomo essa liberdade na certeza de que ele (por modéstia) não se outorgaria o direito de fazê-lo. Entretanto, sinto que os leitores desse blog merecem conhecer um pouco mais de apenas um de seus diversos trabalhos. 

Falo do trabalho publicado por nosso colega Bruno Costa da Silva, ex-aluno do curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina, que se lançou ao mundo e fez seu Pós-Doutorado em Nova York, no Weill Cornell Medical College. Atualmente, Bruno é o chefe de um grupo de Pesquisas na Fundação Champalimaud em Lisboa, Portugal. 

Figura feita pelo próprio autor no BioRender.

No ano de 2015, Bruno publicou, como primeiro autor, um belíssimo artigo científico na conceituada revista científica Nature Cell Biology. Suas descobertas são fascinantes e mostram que exossomos de tumores primários são capazes de preparar o fígado para metástases. Pareceu complicado isso, leitor? Opa! Vamos com calma. Farei uma alegoria para que essa aparentemente complicada informação possa ser melhor digerida. 

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Eletrônica de papel

Por Keli F. Seidel – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR

Vivemos em uma era altamente tecnológica. Talvez você não faça ideia de quantos e quais componentes eletrônicos em escala micro e/ou nanoscópica existem dentro do seu computador, celular, televisor. Porém, é um fato que os avanços sob estes componentes trouxeram aos equipamentos eletrônicos que usamos em nosso cotidiano uma maior eficiência em: alta densidade de processamento de dados, menor tempo de processamento, maior resolução de imagens nas telas, etc. Entretanto, toda essa geração de tecnologia não é, necessariamente, só benéfica, uma vez que sua produção passa por processos geradores de poluição na natureza.

Pensando em uma frente de geração de dispositivos eletrônicos “eco-friendly” (amigos na natureza), também chamada de eletrônica “green” (verde), pesquisadores têm desenvolvido uma eletrônica baseada em papel. O papel utilizado pode ser aquele formado por fibras de celulose como numa folha de seu caderno, ou ainda, formado por algo mais tecnológico como a nanocelulose. Quando descartada, a (nano)celulose gera resíduos que não são tóxicos à natureza. Além desta vantagem, a celulose apresenta para a eletrônica o potencial de criar dispositivos eletrônicos muito baratos, junto ao fato de ter flexibilidade mecânica (se curvar) e biocompatibilidade, podendo ser aplicado em biossensores, por exemplo.

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O efeito paralisante do estresse sobre as células de defesa

Por Marco Augusto StimamiglioInstituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

É provável que você já tenha ouvido falar, ou mesmo tenha lido em algum texto, que o estresse nos torna fracos e débeis para combater as doenças. Talvez você tenha até percebido que, após uma situação de grande estresse, sentiu seu corpo debilitado e teve um resfriado ou apareceram aquelas pequenas erupções de pele. Esta relação entre estresse e saúde é bastante conhecida e estudada na área médica. Muitos trabalhos científicos apontam uma relação causa-consequência que vincula o estresse (psicológico ou físico) à redução da imunidade. Entretanto, os mecanismos fisiológicos pelos quais esta relação acontece são pouco conhecidos.

Em um estudo conduzido nas universidades australianas de Melbourne e Monash, cientistas descobriram que, em condições de estresse, o neurotransmissor noradrenalina – que desempenha um papel fundamental na resposta ao estresse agudo ou reação de ‘luta ou fuga’ – prejudica as respostas imunológicas ao inibir os movimentos de várias células de defesa (os glóbulos brancos) em diferentes tecidos. Para fazer esta descoberta, os cientistas usaram técnicas avançadas de microscopia que permitem visualizar os tecidos vivos para examinar como as células de defesa de camundongos respondem à noradrenalina. Os cientistas então perceberam que, minutos após a injeção deste neurotransmissor, as células de defesa dos animais pararam de se mover. Por outro lado, a injeção de outros neurotransmissores, como a dopamina, não teve o mesmo efeito.

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O novo coronavírus já estava circulando no Brasil antes dos primeiros relatos de infecção ao redor do mundo?

Por Catielen Paula Pavi PPG em Biotecnologia e Biociências/UFSC; Profa. Dra. Izabella Thaís Silva Dpto. de Farmácia, UFSC

Em dezembro de 2019, houve o primeiro relato de infecção pelo SARS-CoV-2, causador da COVID-19, em Wuhan, na China. Já nas Américas, o primeiro caso foi reconhecido nos Estados Unidos, em janeiro de 2020. Desde então, o vírus já causou mais de 4,5 milhões de mortes ao redor do mundo.

O SARS-CoV-2 possui rota de transmissão através das vias respiratórias e gera sintomas distintos em cada indivíduo. Por também afetar células do trato gastrointestinal (esôfago, estômago, intestino), acaba sendo eliminado por meio das fezes, gerando acúmulo de partículas virais nos esgotos. 

Observando isso, cientistas descobriram que o novo coronavírus estava circulando no município de Florianópolis, no estado de Santa Catarina (sul do Brasil), pelo menos desde novembro de 2019. Em contrapartida, o primeiro caso no Brasil foi confirmado 91 dias depois e, na região de Santa Catarina, 97 dias depois do observado no estudo. Mas como isso foi feito? 

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Da tragédia à oportunidade: a nova geração de vacinas antitumorais

Por Bruno Costa da Silva – Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa – Portugal

No começo de 2020, tivemos o início da trágica pandemia global do COVID-19, que mesmo quase dois anos depois ainda assombra as nossas vidas. Por se tratar de uma doença nova, contra a qual ninguém possuía imunidade pré-existente, tornou-se urgente o desenvolvimento de vacinas que prevenissem casos graves e se possível a propagação da infecção pelo novo coronavírus. Felizmente, apesar de estarmos ainda longe de obtermos altos índices de vacinação globais (especialmente nos países subdesenvolvidos), o que se viu foram múltiplas parcerias científicas-biotecnológicas que desenvolveram múltiplas vacinas através de diferentes estratégias. Neste cenário catastrófico, a gigante farmacêutica Pfizer, em parceria com a startup alemã BioNTech e sob a liderança da cientista Kathrin Jansen, viu o COVID-19 como uma oportunidade perfeita para testar uma tecnologia vacinal revolucionária. Ao invés de induzir imunidade a partir da injeção de partículas virais inativadas, a estratégia da Pfizer-BioNTech envolveu o uso de pequenas bolhas de gordura (chamadas de lipossomas) contendo fragmentos de material genético (RNA mensageiro – mRNA) do novo coronavírus. A ideia é que, uma vez injetadas, esses lipossomas carregam o material genético viral para células do indivíduo vacinado, sendo convertidos em proteínas virais. Essas proteínas virais, então, desencadeiam a montagem de uma resposta imunológica contra o vírus, tornando os vacinados imunes à infecção. O sucesso dessa nova estratégia tem levado cientistas a questionar se essa tecnologia pode ser útil no tratamento de outras doenças, incluindo outros vírus e até mesmo o câncer.

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