Embriões humanos já podem ser cultivados por mais de 14 dias!

Por Ricardo Castilho Garcez

Os pesquisadores agora têm permissão para cultivar embriões humanos no laboratório, por mais de 14 dias. Mas o que isso significa? Teremos humanos cultivados em laboratórios? 

Em maio de 2021, a Sociedade Internacional para Pesquisa em Células-Tronco (ISSCR), publicou novas regras que permitem o cultivo de embriões humanos para pesquisa, por mais de 14 dias. Até então, o 14º dia de desenvolvimento embrionário humano era o limite máximo que um pesquisador poderia cultivar um embrião. É importante lembrar que essa regra criava um limite máximo para o cultivo de embriões humanos, mas cada país tem autonomia para decidir por limites menores, ou até mesmo proibir. 

Mas, na prática, o que isso significa? Como seria um embrião de 14 dias ou mais? E, principalmente, por que fazer isso?

A regra antiga limitava o cultivo de embriões humanos por no máximo 14 dias, pois é nessa idade que a gastrulação inicia. É nesse momento que começa a ser definido onde será o lado direito e esquerdo, a cabeça, o ânus etc. Ou seja, o que os cientistas estavam autorizados a ver eram apenas os estágios do desenvolvimento antes da gastrulação. (Fig 1). 

Figura 1: Embrião humano de 12 e 14 dias. Weatherbee et al., 2021
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Consumo de gordura, bactérias intestinais e saúde, qual é a relação

Por Daniel Fernandes, Depto. de Farmacologia UFSC

Embora a gordura seja essencial para o funcionamento do nosso organismo, hoje sabemos que o seu consumo excessivo favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 

Mas como exatamente isto acontece?

Uma série de estudos científicos tem mostrado que as bactérias presentes no intestino, e que compõem a nossa microbiota, são capazes de converter uma substância chamada colina, presente na nossa dieta (abundante em ovos, por exemplo), em uma outra substância chamada trimetilamina (TMA). A TMA é absorvida no próprio intestino e chega até o fígado onde é metabolizada formando um composto de nome um pouco mais complexo, o N-óxido de trimetilamina (TMAO). O TMAO é uma substância tóxica e que favorece o surgimento de doenças do coração. 

Mas afinal o que isso tem a ver com a pergunta inicial sobre a relação entre uma dieta rica em gordura, microbiota e doenças cardiovasculares?

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Um Invasor Silencioso: a Misteriosa jornada do Peixe-Leão…

Por Paulo César Simões-Lopes – Dpto de Ecologia e Zoologia – UFSC

Nem todas as invasões são tão silenciosas… H. G. Wells, em sua Guerra dos Mundos, nos contou sobre uma invasão marciana para lá de escandalosa, com máquinas gigantes que sugavam pessoas num mundo em caos. Na Europa dos séculos II a VII, os godos, visigodos e hunos também promoveram invasões escandalosas, mas o que os romanos não sabiam era o que aquelas carretas transportavam. Enquanto os tais ‘bárbaros’ se deslocavam, ratazanas asiáticas apeavam por toda Europa, depois da bem-vinda e improvável carona. Foi uma invasão silenciosa, mas de consequências devastadoras.

Invasões biológicas são uma história à parte e nem sempre tiveram a mão do homem, mas a verdade é que demos um empurrão e tanto depois da nossa chegada. As ratazanas e camundongos embarcaram secretamente em nossos navios e invadiram todos os continentes. Os vírus foram infiltrados como arma de guerra espanhola contra os astecas, maias e incas (existem várias evidências disso!) e mais recentemente se valeram de aviões para conquistar o mundo. Porcos, cabras, galinhas, cães, gatos, lebres, pombos e pardais foram convidados oficiais, além de uma miríade de plantas frutíferas. Também seriam transportados, com todo esmero, o caramujo-gigante-africano, minhocas, rãs-touro, carpas, tilápias, camarões-da-Malásia e por aí vai.

Recentemente, outras invasões silenciosas estão em curso. O mexilhão-dourado desembarcaria no Brasil e na Argentina durante a década de 1990, vindo na água de lastro dos navios mercantes. Logo invadiria as bacias dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai, Tietê, Sinos e Caí e obstruiria as tubulações de usinas hidroelétricas, filtros e motores. 

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