Músculos e Miocinas: um salto para uma vida saudável

Músculos e Miocinas: um salto para uma vida saudável

Por Heiliane de Brito Fontana – Dpto. de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Toda forma de atividade física envolve a contração de músculos estriados esqueléticos. Lições aprendidas com a exposição prolongada à microgravidade ou ao desuso nos mostram o quão indispensável é o estímulo mecânico dos músculos para a nossa saúde.

A capacidade dos músculos esqueléticos de se encurtar e produzir força durante a contração advém do deslizamento de miofilamentos contidos nas fibras musculares, as células contráteis do músculo. Esses miofilamentos se organizam como elos de uma corrente no músculo através de unidades funcionais microscópicas chamadas de sarcômeros (do grego Sarx, Sarkos, carne e Meros, parte).

É o alinhamento dos sarcômeros nos músculos que resulta nas estrias presentes na fibra muscular quando observada ao microscópio.

O nome “músculo estriado esquelético” reflete essa organização dos sarcômeros e o fato desses músculos se ancorarem no esqueleto. Os únicos órgãos em nosso corpo sob comando voluntário são os músculos, sendo capazes de gerar a força necessária ao movimento das nossas articulações.

Continuar lendo

Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV): Se não há um tratamento que leve à cura, então como existem alguns pacientes considerados curados?

Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV): Se não há um tratamento que leve à cura, então como existem alguns pacientes considerados curados?

Por Ricardo MazzonDepartamento de Microbiologia – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Desde o surgimento da epidemia de HIV na década de 1980, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) tem chamado atenção da população, autoridades sanitárias e cientistas. De uma sentença de morte no início da epidemia para os dias de hoje com tratamentos muito avançados, embora não curados, os portadores do vírus podem viver uma vida normal com pouco ou nenhum efeito colateral das medicações modernas. Mas a cura não veio e os pacientes precisam utilizar a medicação por toda a vida, assim como qualquer paciente com uma doença crônica como diabetes ou hipertensão.

Mas mesmo na ausência de um tratamento que promova a chamada cura esterilizante, na qual os vírus são destruídos de todo o organismo, alguns casos se tornaram célebres. Até a presente data (Abril/2024), há relatos na literatura científica de seis pacientes completamente curados do HIV (a chamada cura esterilizante) e que, portanto, não necessitam mais tomar as medicações antirretrovirais.

Continuar lendo

Testes genéticos podem levar à indicação de cirurgias mamárias desnecessárias

Por Bruno Costa Silva – Champalimaud Centre for the Unknown – Lisboa, Portugal 

A identificação de modificações genéticas associadas a cânceres tem, há mais de 100 anos, despertado esperança na possibilidade de identificar pacientes mais suscetíveis a desenvolver esta doença e tratá-los antes da progressão maligna dos tumores.  Essa história iniciou com as ideias do citologista Theodor Boveri, que previu a relação entre a instabilidade da composição do DNA de células com o aparecimento de tumores em 1911. Esse conceito foi confirmado nos anos 1960 pelos cientistas Peter Nowell e David Hungerford que associaram a anomalia genética, conhecida como “cromossomo Filadélfia”, com o desenvolvimento de leucemias e, posteriormente, aprofundado por Robert Weinberg, Michael Bishop e seus colegas nos anos 1970, que descobriram as primeiras mutações genéticas (conhecidas como oncogenes) ligadas à ocorrência de tumores.

Em meados dos anos 90, em um trabalho liderado pela cientista Mary-Claire King, envolvendo 329 participantes, descobriu-se modificações nos genes BRCA1 e BRCA2, associadas ao maior risco (~13% em mulheres sem a mutação vs. ~45-80% naquelas com a mutação) de desenvolvimento hereditário de tumores de mama.

Apesar da maioria dos casos de tumores de mama não possuir associação com mutações hereditárias, tem sido cada vez mais comum a tomada de decisões por procedimentos radicais, como a remoção profilática das mamas, em casos onde modificações em BRCA1 ou BRCA2 são identificadas.

Continuar lendo

Novas Reviravoltas na Guerra dos Tronos? Um tal fóssil da Anatólia…

Por Paulo César Simões-Lopes – Departamento de Ecologia e Zoologia – UFSC

Ossos e dentes fragmentados! Isso é tudo o que temos ao olhar em direção ao passado da evolução humana e de nossos parentes mais antigos. Sim, saímos da África ou do Oriente Médio e nos espalhamos pelo mundo. Essa foi a nossa sina. Mas o que aconteceu antes? Bem antes…

Estamos falando de uma data difícil de compreender mentalmente. Seis ou sete milhões de anos é uma abstração para a maioria de nós. Mas foi nesse tempo que um tal ancestral comum, que partilhamos com os outros grandes primatas − especialmente com a linhagem chimpanzé −, vagou por algum lugar da África.

Os cientistas costumam dar o crédito a um tal Sahelanthropus tchadensis, filho da fornalha da África. É uma boa pista, mas não a única. A ele caberia o trono − a alcunha de elo perdido −, por fim descoberto e coroado. Mas e antes dele? Lá pelos oito milhões de anos em direção ao passado?

Bem, em verdade há um mar de ossos e dentes fragmentados, alguns pedaços de mandíbula, crânios quebrados, ossos do quadril e assim por diante. Todos de primatas quadrúpedes, mas que partilhavam seu parentesco com outros grandes primatas como os gorilas e orangotangos. Assim, eles não pertenciam ao nosso ramo evolutivo imediato. Estavam espalhados pela Ásia, África e Europa, mas foi então que os Cientistas Descobriram Que nesse quebra-cabeças complexo, poderia haver algo mais… 

Continuar lendo