Os 10 fungos mais temidos pela humanidade

Por Elisandro Ricardo Drechsler-Santos, Depto. BOT-CCB, PPGFAP – UFSC

Figura 1: Infecção cerebral causada pelo fungo número 1 da lista, Cladophialophora bantiana (cérebro de um gato). Fonte: modificado de Hyde et al. 2018: com permissão de Russell et al. (2016). Barra de 1,5 cm.

Existem milhares de espécies de fungos que causam benefícios (medicamentos, alimentos etc.), mas também há muitos que representam um verdadeiro mal para o ser humano. Um grupo internacional de cientistas Micólogos divulgou a lista dos 10 fungos mais temidos na atualidade. A conceituada revista Fungal Diversity, em seu volume de outubro de 2018, apresenta  espécies  de fungos causadoras de doenças que matam milhares de pessoas, desde patógenas oportunistas de pacientes com imunidade baixa até produtoras de micotoxinas que são responsáveis por severas intoxicações. Dentre as espécies de fungos tóxicas está o exemplo de um cogumelo mortal, que por vezes é confundido com alguma espécie comestível. Também citam fungos que causam danos irreparáveis, tanto para nossas construções e plantações, quanto para a biodiversidade, pois são responsáveis por extinções de outras espécies. Vamos a lista por ordem:

1- Cladophialophora bantiana: o fungo mais temido é o que “come” cérebros (the brain-eating fungus) (Fig. 1). Essa levedura pode ficar incubada por anos sem causar sintomas em suas vítimas. Quando os sintomas aparecem pode ser tarde demais, pois a taxa de mortalidade é de 60%. Esse fungo “silencioso” pode ser fatal inclusive em pessoas saudáveis. Ainda bem que é um fungo raro!

2- Candida auris: essa levedura causa uma infecção que se espalha rapidamente na corrente sanguínea de pacientes com sistema imunológico comprometido. Além disso, é extremamente resistente a várias drogas, sendo considerado um problema sério de saúde pública em todo o mundo, pois há registros de surtos em mais de 30 países.

Figura 2 Paciente infectado com Talaromyces marneffei. Fonte: http://dieutrihivaids.com/

3- Talaromyces marneffei: esse fungo causa a talaromicose, doença infecciosa que pode levar a morte (Fig. 2). Depois da tuberculose e criptococose a talaromicose é a infecção mais comum em pacientes com AIDS, mas recentemente foi registrada também em indivíduos não portadores do vírus HIV.

4- Malassezia globosa: embora não seja um patógeno perigoso, pode nos trazer consequências indesejáveis. Essas leveduras ocorrem normalmente na pele animal, talvez sejam o componente fúngico mais comum na pele humana saudável. No entanto, qualquer desordem na pele, pode resultar em uma série de dermatites, incluindo a seborreica. Também pode causar caspa, psoríase e possivelmente acne. Em casos extremos, em indivíduos imunocomprometidos, principalmente em crianças e recém-nascidos, pode causar infecções via corrente sanguínea.

Figura 3: Milho infectado com Aspergillus flavus. Fonte: CIMMYT (https://www.cimmyt.org/)

5- Aspergillus flavus: respirar os esporos dessa espécie é algo comum, mas pode causar aspergilose (doenças alérgicas e infecções cutâneas) em animais e humanos com sistema imunológico comprometido. Esse fungo também é responsável por infectar plantações e grãos estocados (Fig. 3). O problema não está somente nas perdas significativas, mas também na ingestão da aflatoxina B1, que é produzida pelo fungo nas rações e alimentos contaminados. Esta micotoxina está entre os compostos naturais mais tóxicos, sendo um potente carcinogênico.

6- Stachybotrys chartarum: conhecido como “o hóspede indesejado”, por aparecer com frequência como um bolor negro em ambientes úmidos das nossas casas, já foi considerado o responsável por casos de hemorragias pulmonares em crianças, por dermatites, inflamações e rinites sanguinolentas em adultos.

7- Amanita phalloides: o primeiro macrofungo da lista é considerado um dos cogumelos mais letais, provavelmente já matou milhares de pessoas. As toxinas amanitina e faloidina juntas são extremamente nocivas às células e apenas 30 gramas (aproximadamente meio cogumelo) já é suficiente para matar um indivíduo adulto entre 24 e 36h. A descoberta de um antídoto efetivo ainda é um desafio. Por outro lado, essa espécie tem potencial para uso na medicina, confira, clicando aqui, aqui texto publicado no CDQ.

8- Serpula lacrymans: esse agressivo decompositor de madeira é conhecido como o “câncer das construções” (building cancer). Causa sérios danos estruturais em casas ou qualquer outro tipo de construção à base de madeira. Em ambientes mais úmidos esse mofo também pode atacar papeis, livros, roupas e móveis.

Figura 4: Goiaba infectada por Austropuccinia psidii

9- Austropuccinia psidii: esse fungo pertence ao grupo das ferrugens, que são patógenos de plantas. De modo geral, as ferrugens são específicas, mas essa espécie é generalista. Pode atacar centenas de espécies vegetais, principalmente do grupo das Myrtaceae, família do eucalipto e de várias frutíferas como goiaba, pitanga e jabuticaba (Fig. 4). Ou seja, além de ser um problema econômico atacando espécies cultiváveis, pode se espalhar por ambientes naturais e ser responsável por perda de diversidade de plantas nativas.

10- Batrachochytrium dendrobatidis: causa quitridiomicose em anfíbios. É um dos mais sérios casos de descuido da humanidade, que comprovadamente levou esse fungo a ser responsável pela acentuada perda de diversidade em ambientes naturais. Confira, clicando aqui, texto publica no CDQ sobre essa espécie de fungo.

Entre outras, todas são espécies indesejadas pelo ser humano, não só por serem perigosas, podendo causar um grande mal à vida, mas também por estarem presentes no nosso dia a dia. Muito mais do que destacarem como exemplo essas 10 espécies, os autores pretendem com este trabalho promover uma conscientização pública sobre o custo e a importância dos fungos.

Para saber mais acesse o artigo original, clicando aqui.

IMPORTANTE: para autoria dos nomes científicos citados no texto, bem como sinonímias, acesse search index fungorum.

Um comentário sobre “Os 10 fungos mais temidos pela humanidade

  1. Matéria importante. Seria também válido publicar o nome de substâncias que podem combater tais fungos, como dispersões coloidais de alguns metais, para orientar a população indefesa.

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