O importante é ter saúde: lições sobre a resistência a tumores aprendidas com ratos-toupeira-pelados

Por Bruno Costa da Silva – Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa – Portugal

RUFUS rato-toupeira do desenho animado Kim (Foto: Divulgação Disney)

Linhas de investigação que buscam novos tratamentos para pacientes com câncer, em sua enorme maioria, focam em entender como pessoas inicialmente saudáveis podem, em algum momento de suas vidas, desenvolver doenças oncológicas. Apesar de muito bem-sucedida, essa abordagem peca por desconsiderar o fato de que (ainda bem) a maior parte das pessoas não desenvolve câncer durante o seu período de vida. Dessa forma, dependendo do ângulo que se olhe para o problema, pode-se considerar que, como espécie, os humanos são, em sua maioria, resistentes ao desenvolvimento de cânceres. Com isso em mente, ao invés de perguntarmos “Por que algumas pessoas desenvolvem câncer” não seria o caso de perguntarmos “O que a maioria dos humanos tem de especial que os tornam imunes ao desenvolvimento de cânceres” Continuar lendo

Materiais autorreparáveis

Por Caroline Pereira Martendal – Dpto. De Engenharia Mecânica, UFSC 

Cofundadora do blog Engenheiro de Materiais

Figura 1: Autorreparo por adição de agentes reparadores. Adaptado de WHITE et al. (2001)

Materiais falham a todo o momento, seja por envelhecimento, desgaste, fadiga ou ação de defeitos concentradores de tensões. Exemplos desses concentradores são os furos nas sacolas plásticas, que fazem com que elas se rasguem mais facilmente, ou os vários poros que existem no interior de tijolos, que os fragilizam, tornando-os quebradiços. A ação humana é necessária para eventuais reparos, substituições ou medidas preventivas para evitar que um componente falhe. Se os materiais pudessem se reparar sozinhos, portanto, nossa vida seria simplificada. Pensando nisso, vários grupos de pesquisa ao redor do mundo iniciaram estudos sobre materiais autorreparáveis a partir dos anos 2000. Nos próximos parágrafos, serão apresentados quatro dos mecanismos eficazes de autorreparação que eles descobriram. Continuar lendo

As promessas não cumpridas do gerencialismo

Por Vitor Klein Depto de Governança Pública da UDESC

A política é feita de bordões. Poucos, contudo, causaram tamanho impacto como àquele de Al Gore (1993), que afirmou, durante o governo de Bill Clinton, que era preciso criar um governo que custasse menos e funcionasse melhor [1]. Tal bordão ressoou (e ainda ressoa) como uma promessa sedutora, afinal quem poderia ser contra a ideia de que os governos devem custar menos e funcionar melhor. A ideia se tornou, no entanto, uma ambição resiliente por trás das inúmeras reformas nas administrações públicas ao redor do Globo. Conhecido como a Nova Gestão Pública (do inglês New Public Management), esse movimento visava tornar a administração pública mais parecida com a administração privada, objetivo levado a cabo por meio do uso de tecnologias da informação, de formas de accountability similares às das corporações privadas e da comunicação intensiva com os cidadãos. Hood e Dixon (2015) decidiram testar até que ponto a Nova Gestão Pública cumpriu com suas promessas no Reino Unido. A conclusão: após 30 anos de reformas, o governo britânico custa hoje um pouco mais e funciona um pouco pior. Continuar lendo