Células-tronco cardíacas “vestidas a rigor” com a ajuda das plaquetas… O “último grito da moda” na terapia celular de reparação da lesão cardíaca

Por Hélia Neves – Faculdade de Medicina de Lisboa – Portugal

Células estaminais cardíacas (azul e magenta) revestidas na sua superfície com nanovesículas de plaquetas (amarelo torrado). Creditos: NC State University.

As doenças cardiovasculares representam a maior causa de morte em países ricos e emergentes, causando um grande peso na sociedade. Todos os anos morrem mais de quatro mil portugueses, e mais de trezentos mil brasileiros, vítimas de enfarte agudo do miocárdio (vulgarmente conhecido como ataque cardíaco).

O enfarte do miocárdio é causado por coágulos que obstruem as artérias coronárias. Essas artérias são responsáveis pelo fornecimento de oxigénio ao coração e quando obstruídas levam a uma redução da oxigenação (isquemia) do músculo cardíaco, causando lesão e morte celular na região afetada. Nas lesões cardíacas isquémicas, a formação do coágulo resulta de alterações das paredes dos vasos que expõem os componentes da matriz extracelular do tecido conjuntivo (como o colagénio, fibronectina e factor de von Willebrand) no lúmen (interior) do vaso. Em condições normais estes componentes da matriz mantêm-se separados do lúmen do vaso por uma barreira epitelial (endotélio), e quando entram em contacto com o sangue circulante, interagem com as plaquetas, dando início ao processo de coagulação sanguínea. Continuar lendo

Materiais ultrafortes e superleves: seria possível utilizar nanoestruturas para proteção balística?

Por Keli F. Seidel, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR

Não é nenhuma novidade científica falar que diferentes estruturas do carbono são capazes de formar materiais extremamente duros e/ou resistentes. Podemos começar com o velho exemplo da comparação entre o grafite (aquele do seu lápis mesmo) e o diamante. Ambos são formados por átomos de carbono que diferem na posição (tipo de ligação) em que esses átomos se agrupam resultando propriedades completamente diferentes ao material. Continuar lendo

Invisibilidade: a ciência por trás do ocultamento de objetos

Por Caroline Pereira Martendal – Depto. De Engenharia Mecânica, UFSC. Cofundadora do blog Engenheiro de Materiais

Figura 1: Carro invisível de James Bond em 007 – Um novo dia para morrer (2002)

Quem nunca imaginou poder ser invisível? A ideia de ocultar um objeto à visão é comum em filmes e desenhos animados. Um exemplo é o filme 007 – Um Novo Dia para Morrer, de 2002, no qual James Bond dirige seu carro Aston Martin Vanquish invisível (Figura 1). Para tornar isso possível, recorreu-se a uma forma especial de filmagem: o lado do carro que aparecia na cena funcionava como uma tela, a qual projetava o que era filmado por câmeras instaladas no lado oposto do veículo, de forma a parecer que ele não estava ali. Foi só na década seguinte, no entanto, que a invisibilidade começou gradualmente a deixar de ser mera ficção científica para se tornar realidade, como já foi mencionado aqui no CDQ. Conseguimos enxergar um objeto quando a luz que ele reflete chega à nossa visão. Dessa forma, para que seja possível alcançar a invisibilidade, a luz deve ser manipulada de forma a enganar os nossos olhos, o que é um tema de pesquisa da ciência contemporânea. Atualmente, recorre-se a espécies de capas para atingir esse objetivo, as quais são as principais aplicações dos materiais artificiais, conhecidos como metamateriais. Continuar lendo