Retirando os vírus do banco dos réus

Por Giordano W. Calloni – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC

Meu caro leitor, talvez este não seja o momento oportuno para o assunto que irei abordar. Confesso que relutei em alguns momentos a escrever essa postagem justamente no momento em que o Covid19 tem ceifado a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.

As descobertas que lhes contarei hoje não são atuais, mas justamente gostaria de trazê-las aos holofotes para tentar tirar os vírus do banco dos réus, bem, ao menos alguns deles. Meu intuito será justamente colocar os vírus no outro lado da balança (o da vida e não o da morte) e mostrar que é graças a eles que novas e maravilhosas formas de vida surgiram em nosso planeta. Continuar lendo

A nova geração de exames de sangue: a resposta para encontrar as primeiras células tumorais?

Por Bruno Costa da Silva – Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa – Portugal

Adaptado de Lui et al., 2020. Annals of Oncology

Em seu livro “The first cell” ou em tradução livre “A primeira célula”, ainda não publicado em português, a médica oncologista Azra Raza expõe de maneira clara o que para ela tem sido, há décadas, a maior limitação dos fundos de financiamento de pesquisa, passando pelos projetos de pesquisa básica e aplicada e chegando aos ensaios clínicos de novos medicamentos antitumorais: o foco na investigação e tratamento de doenças tumorais em fases avançadas. Esta observação é baseada não apenas na opinião pessoal da Dra. Azra, mas em dados sólidos que mostram que uma vez em fases tardias, ou seja, com presença de metástases em gânglios linfáticos e em órgãos distantes, os tumores são, de maneira geral, intratáveis e letais. Visto isso, ela propõe que, se de fato quisermos erradicar mortes por doenças tumorais, devemos aprender não sobre as células que adoecerão os pacientes tumorais até as suas mortes, mas sobre como identificar o aparecimento das primeiras células tumorais. Uma vez que tivermos tecnologias para isso, possivelmente seremos capazes de identificar tumores em suas fases iniciais e de agir na remoção segura e definitiva destas células de forma a garantir a cura de pacientes oncológicos. Continuar lendo

A influência das redes sociais em nossa alimentação

Por Filipe Modolo – Dpto. de Patologia, UFSC

Todos nós conhecemos a importância da internet em nossas vidas, nos mais diversos temas, inclusive na saúde, como pudemos ler no texto “Dr. YouTubeTM, a evolução do Dr. GoogleTM”, publicado em dezembro de 2019. Dentre as utilidades mais populares presentes na internet estão as redes sociais, ferramentas que permitem interação entre as pessoas, mesmo quando distantes. Como a internet é um “território livre”, ou seja, um local onde pouco ou nenhum controle é exercido, o fluxo de informações é extremamente volumoso e heterogêneo. Isso pode ter diversos efeitos sobre o bem-estar físico e mental dos usuários, principalmente neste momento da pandemia do COVID-19. Diversos bons exemplos são encontrados nas redes sociais, como as comunidades de alimentação saudável, que recentemente ganharam muita popularidade. No geral, esse movimento de filosofia da alimentação saudável tem sido positivo, com os usuários se esforçando para comer mais frutas e vegetais e menos alimentos processados. Continuar lendo

Uma nova estratégia para driblar o sistema imune no transplante de órgãos

Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

Quando o assunto é transplante de órgãos, um dos grandes problemas a ser enfrentado é a possível rejeição imunológica desencadeada pelo paciente receptor e a consequente perda do enxerto (órgão ou tecido doado). O enfrentamento deste problema normalmente requer o uso contínuo de muitos medicamentos imunossupressores (que reprimem o sistema imune do paciente receptor e evitam a rejeição do órgão ou tecido doado). Entretanto, esta estratégia de imunossupressão após o transplante pode tornar os pacientes mais vulneráveis a outras doenças, além de causar muitas complicações devido a seus efeitos colaterais. Assim, a rejeição do enxerto e os efeitos indesejados da imunossupressão ao longo da vida continuam a dificultar a ampla aplicação clínica dos transplantes. Continuar lendo

Podem não acreditar, mas também há vírus “bons”!

Por Rita Zilhão, Faculdade de Ciências de Lisboa, Portugal

Estando o mundo num tempo de epidemia viral, a pandemia do SARS-CoV-2, os vírus ficarão seguramente ainda mais “mal vistos” e assustadores do que já são. Lembrei-me, no entanto, em defesa dos vírus, que seria interessante recordar que alguns vírus podem ser muito úteis, nomeadamente para combater infeções bacterianas. De facto, há quase um século “Os Cientistas Descobriram que”1,2 um determinado tipo de vírus, os bacteriófagos (i.e., vírus que infectam bactérias), podiam ser utilizados para combater infeções bacterianas – a chamada terapia fágica. Contudo, cerca de 20 anos depois, em 1945, descobre-se a primeira molécula com função anti-microbiana – a penicilina –despoletando o desenvolvimento do mundo dos antibióticos, com a consequente descontinuação na investigação da terapia com fagos (sobretudo nos países do Ocidente). Continuar lendo