“Donzelas invocadinhas” estruturam os comportamentos de disputa em recifes de corais

 Por Luisa Fontoura & Sergio R. Floeter, Dpto. de Ecologia e Zoologia, UFSC

Conhece aquela frase “no fundo, somos todos muito parecidos”? Pois é, nas profundezas dos recifes de coral de quase todo o mundo, as disputas por recursos entre pequenos peixes são muito parecidas. Apesar de distribuídos por todos os oceanos tropicais, os recifes não são todos iguais.

No Brasil, os recifes abrigam uma diversidade menor de espécies de peixes comparados aos do Caribe que, por sua vez, têm menor diversidade que os belíssimos e complexos recifes do Indo-Pacífico. Nos recifes, em meio a corais arborescentes, coloridas esponjas tubulares e delicados tufos de algas, pequenos peixes estão em constante disputa. Este comportamento agonístico (quando um peixe é agressivo e persegue outro, por exemplo), pode representar a competição por recursos, como é o caso do alimento ou espaço. E espaço para alguém que mantém um território, como muitas Continuar lendo

Reflexões em tempos de pandemia: cientistas são cidadãos e a ciência pode ser cidadã

Por Kelmer Martins da Cunha & Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos,  Depto. BOT-CCB/UFSC

Você já viu um cogumelo com deformação por causa de poluição? Na figura 1 são mostrados cogumelos “saudáveis” (imagem da esquerda) e cogumelos com uma deformação (imagem da direita) causada por gases poluentes da queima de diesel. Essa história é bem interessante e vem lá da Austrália. Um grupo de cidadãos voluntários, de uma associação que monitora espécies ameaçadas de extinção, acompanhou as anomalias na formação de cogumelos da espécie Hygrocybe reesiae. O caso foi parar no senado australiano, que considerou que a má qualidade do ar na área, além de colocar em risco a saúde humana daquela comunidade, também representava um risco para fungos ameaçados de extinção.

Figura 1: Cogumelos de Hygrocybe reesiae, saudáveis na esquerda e com deformação na direita. (fonte: Irga, et al., 2018).

Pois é, todo mundo sabe que os cientistas vêm alertando há décadas sobre as ameaças e extinções de espécies, mas poucos sabem que cidadãos voluntários podem se envolver em defesa da biodiversidade. Esse é um belo exemplo de ciência cidadã, onde cidadãos se engajam para ajudar a construir o conhecimento científico.

Temas como “crise da biodiversidade” e “extinção em massa do antropoceno” são assuntos atuais e carregam consigo uma realidade cruel e ainda ignorada pela maioria. Você sabia que, a cada hora, de duas a cinco espécies são extintas em florestas tropicais? Exatamente, são espécies Continuar lendo

Como curar um coração partido? As respostas do peixe-zebra

Por Aline Guimarães Pereira e Geison Souza Izídio, Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC  – UFSC

O coração dos mamíferos, incluindo o nosso, mostra pouca capacidade de se regenerar após um infarto do miocárdio. Popularmente chamado de ataque cardíaco, o infarto é basicamente a morte de uma parte do músculo cardíaco causada pela falta de irrigação sanguínea.

Mas quando se trata de problemas do coração (sem ser os causados pelo amor), outros animais têm mais sorte do que nós humanos. Por exemplo, várias espécies de vertebrados não-mamíferos são capazes de regenerar seus corações após uma lesão.

A regeneração do coração lesionado foi observada pela primeira vez em anfíbios (sapos, rãs) e agora é descrita em várias espécies de peixes, incluindo o peixe-zebra, também conhecido, no Brasil, como “paulistinha”. Tanto em peixes, quanto em anfíbios, o local da lesão é regenerado através da “reposição” de células, chamadas de cardiomiócitos, que formam o tecido muscular cardíaco em um período variável de 60 a 180 dias, dependendo do tipo de lesão.

A capacidade de regeneração do coração parece ser uma característica herdada, ao longo da Continuar lendo

O estresse pode causar o aparecimento prematuro dos cabelos brancos

Por Marco Augusto Stimamiglio, Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

A crença de que o estresse nos deixa de cabelos brancos é uma relação causa-efeito bastante antiga e popular. Entretanto, se esta relação é verdadeira e de que forma isso acontece tem permanecido um mistério. O conhecimento científico nos ensina que a cor do cabelo é determinada por células chamadas melanócitos, que produzem um pigmento conhecido como melanina. Estes melanócitos são originados a partir de células-tronco melanocíticas que vivem dentro do folículo piloso, na base do fio. Entretanto, à medida que envelhecemos, essas células-tronco desaparecem gradualmente. Assim, os cabelos que crescem dos folículos capilares que perderam as células-tronco melanocíticas possuem menos pigmento, o que os deixa com aparência acinzentada.

Entendido! Mas, qual seria a relação do estresse com a redução de pigmentação dos cabelos? Será que o estresse pode realmente causar o surgimento de cabelos brancos? O estresse afetaria diretamente as células-tronco melanocíticas?

Para responder a estes questionamentos, um grupo de cientistas liderados pelo Dr. Ya- Continuar lendo