O estresse pode causar o aparecimento prematuro dos cabelos brancos

Por Marco Augusto Stimamiglio, Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

A crença de que o estresse nos deixa de cabelos brancos é uma relação causa-efeito bastante antiga e popular. Entretanto, se esta relação é verdadeira e de que forma isso acontece tem permanecido um mistério. O conhecimento científico nos ensina que a cor do cabelo é determinada por células chamadas melanócitos, que produzem um pigmento conhecido como melanina. Estes melanócitos são originados a partir de células-tronco melanocíticas que vivem dentro do folículo piloso, na base do fio. Entretanto, à medida que envelhecemos, essas células-tronco desaparecem gradualmente. Assim, os cabelos que crescem dos folículos capilares que perderam as células-tronco melanocíticas possuem menos pigmento, o que os deixa com aparência acinzentada.

Entendido! Mas, qual seria a relação do estresse com a redução de pigmentação dos cabelos? Será que o estresse pode realmente causar o surgimento de cabelos brancos? O estresse afetaria diretamente as células-tronco melanocíticas?

Para responder a estes questionamentos, um grupo de cientistas liderados pelo Dr. Ya-Chieh Hsu, da Universidade de Harvard, nos EUA, com a colaboração de cientistas brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de São Paulo, realizaram uma série de experimentos em camundongos de pelo escuro. Os camundongos foram expostos a três tipos de estresse: estímulos de dor; restrição de movimentos; e estresse psicológico (devido a alterações rápidas de iluminação noturna/diurna, isolamento/aglomeração, dentro outros). Todos eles causaram a perda perceptível de células-tronco melanocíticas e o surgimento de pelos brancos.

Diante deste resultado, os cientistas avaliaram quais seriam as possíveis causas da morte das células-tronco melanocíticas. A resposta não estava nas alterações do sistema imunológico ou no aumento dos níveis dos hormônios do estresse, como a corticosterona, mas sim no neurotransmissor noradrenalina, responsável pela reação de “luta ou fuga” em resposta ao estresse. Diante deste achado, a equipe finalmente descobriu que a sinalização do sistema nervoso simpático, o qual prepara nosso organismo para reagir a situações estressantes, desempenha um papel crítico no envelhecimento induzido pelo estresse.

Acontece que os nervos simpáticos, que enervam os folículos pilosos, liberam noradrenalina em resposta ao estresse, fazendo com que as células-tronco melanocíticas, que normalmente ficam inativas no folículo até que um novo cabelo cresça, sejam ativadas. Isto faz com que toda a reserva de células-tronco se diferencie rapidamente em melanócitos maduros e migrem para a raiz do folículo piloso e outras porções da pele. Sem células-tronco remanescentes, nenhum novo melanócito pode ser criado e, daí em diante, os novos fios de cabelo ficam brancos.

As descobertas deste trabalho foram publicadas na renomada revista Nature, em janeiro de 2020. A equipe de cientistas acredita que o conhecimento gerado com este trabalho será útil em futuras investigações sobre o impacto do estresse no corpo e no desenvolvimento de novas intervenções.

Acesse o artigo original, no link abaixo:

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