Por Paulo César Simões-Lopes – Dpto de Ecologia e Zoologia – UFSC

“Há vários lobos dentro de mim, mas todos eles uivam para a mesma lua”, teria dito Virgílio. Os lobos traduzem nossos medos, que são muitos, no mais das vezes medos do mundo natural. Para muitos, natureza é só aquela que pode ser modificada, transformada, subjugada. E com os lobos não foi diferente. Nossa relação com eles não é nada nova, tampouco amistosa. Foram caçados, comidos, sequestrados e por fim modificados. Precisávamos de sentinelas gratuitas para nossos acampamentos quando ainda éramos caçadores-coletores nômades. Precisávamos de alguém com um bom focinho para seguir as trilhas olfativas de nossas presas. Precisávamos de carne quando tudo mais faltasse.
E foi assim que roubamos filhotes de lobos ou matamos suas mães zelosas para cria-los como parte de nossa família humana. Logo ficaríamos com os lobinhos mais mansos e abateríamos os mais ferozes. De geração em geração, dobramos seu temperamento, sua autonomia, sua iniciativa. Mas quando esse lento processo começou? Quando os lobos viraram cães? Onde foi que essa transformação ocorreu pela primeira vez? Teria ela ocorrido em diferentes locais ao mesmo tempo?
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