Por Geison Souza Izídio, Laboratório de Genética do Comportamento, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Atualmente, estima-se que para cada célula do nosso corpo, existe mais de uma outra de hospedeiros que pegam uma “carona” conosco. Estes hospedeiros são bactérias, fungos e vírus, que compõem a nossa microbiota. Aliás, esta proporção numérica é tão impressionante, que, pelo ponto de vista lógico, como nossas próprias células estão em menor número, na verdade nós seríamos os “caroneiros” da nossa microbiota.
Sabe-se que a composição da microbiota varia entre indivíduos e possivelmente tem a contribuição de fatores genéticos e da idade. Mas, o ambiente representado pelo contato que temos com pessoas próximas, ou animais de estimação, também influenciam a composição da nossa microbiota. Por exemplo, pessoas que dividem a mesma casa têm a tendência a compartilhar a mesma microbiota entre elas, ou também com seus animais de estimação.
As bactérias da nossa microbiota têm papel fundamental na digestão de alimentos, síntese de vitaminas, regulação energética, proteção contra patógenos e na modulação do sistema imune. Mas, recentemente, diversos cientistas vêm demonstrando também a importância da microbiota na nossa saúde física ou mental. Transtornos neuropsiquiátricos, como os de depressão, ou neurodegenerativos como o Alzheimer, estão sendo explicados, em parte, devido à microbiota. Aparentemente, algumas bactérias da microbiota, ou produtos delas, modificam o funcionamento de sistemas neuronais, favorecendo o aparecimento da depressão, ou causam a morte de neurônios, favorecendo doenças neurodegenerativas. Provavelmente, esta relação se dá através da comunicação direta entre intestino e o nosso cérebro (eixo intestino-cérebro). Inclusive alguns pesquisadores já propõem também uma expansão do conceito para um eixo boca-intestino-cérebro ressaltando a enorme importância da nossa boca na composição da microbiota. O compartilhamento da microbiota entre pessoas que moram juntas inclusive parece explicar, ao menos em parte, a tendência de predisposição comum a transtornos neuropsiquiátricos.
Continuar lendo