Jejum intermitente: vale a pena ou não?

Por Rita Zilhão – Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa

Com o desenvolvimento econômico, a disseminação das dietas e os modernos estilos de vida ocidentais, a obesidade duplicou entre 1980 e 2015 e tornou-se um problema. Cerca de 60% das mortes globais anuais estão relacionadas com a obesidade na medida em que esta, enquanto distúrbio metabólico crônico, contribui para doenças como as cardiovasculares ateroscleróticas, diabetes tipo 2 e diferentes tipos de cancro (câncer em português brasileiro).

As estratégias de tratamento da obesidade passam pela cirurgia, medicação, exercício físico, dietas variadas e também o jejum. Nesta última categoria, entra o jejum intermitente (IF – intermittent fasting) que se tem revelado eficiente na sua relação com a perda de peso, e em alguns casos até descrito como mais eficaz do que programas de treino físico.

Por outro lado, a remodelação da microbiota intestinal também tem sido uma estratégia para a prevenção da obesidade na medida em que impede ou promove a absorção de nutrientes regulando o metabolismo do hospedeiro. Também se sabe que nos programas de dieta o tipo e o tempo em que se consomem os alimentos modificam o ritmo da microbiota intestinal.

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Ciência da vida da gente: como cientistas descobriram que exercícios físicos combatem a obesidade

Por Alessandra Melo de Aguiar – Instituto Carlos Chagas, Fiocruz.

Caros leitores, é com alegria que eu escrevo o meu primeiro texto para o Cientistas descobriram que… No artigo de hoje, vou falar de uma descoberta que pode trazer explicações científicas para o uso da atividade física no combate à obesidade. Cientistas descobriram que os exercícios físicos estimulam a produção de uma substância que reduz o apetite e a obesidade. A pesquisa de Veronica L. Li e colaboradores (2023) foi publicada online no dia 15/06/22 na conceituada revista Nature e, até a presente data, já teve cerca de 69 citações em revistas científicas, o que indica que o artigo serviu de base para novas pesquisas e novos achados científicos!

A prática de exercícios físicos regulares é tão importante para a saúde que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 a 300 minutos semanais de atividade aeróbica moderada a vigorosa para os adultos (OPAS, 2020). 

A OMS também indica que a prática de atividade física regular é de extrema importância para prevenir e controlar várias doenças, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e câncer, além de reduzir os sintomas de depressão e ansiedade, reduzir o declínio cognitivo, melhorar a memória e exercitar a saúde do cérebro (OPAS, 2020). Contudo, as substâncias produzidas no organismo e seus mecanismos de ação, responsáveis por mediar os benefícios da atividade física, não são totalmente conhecidos. 

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Consumo de gordura, bactérias intestinais e saúde, qual é a relação

Por Daniel Fernandes, Depto. de Farmacologia UFSC

Embora a gordura seja essencial para o funcionamento do nosso organismo, hoje sabemos que o seu consumo excessivo favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 

Mas como exatamente isto acontece?

Uma série de estudos científicos tem mostrado que as bactérias presentes no intestino, e que compõem a nossa microbiota, são capazes de converter uma substância chamada colina, presente na nossa dieta (abundante em ovos, por exemplo), em uma outra substância chamada trimetilamina (TMA). A TMA é absorvida no próprio intestino e chega até o fígado onde é metabolizada formando um composto de nome um pouco mais complexo, o N-óxido de trimetilamina (TMAO). O TMAO é uma substância tóxica e que favorece o surgimento de doenças do coração. 

Mas afinal o que isso tem a ver com a pergunta inicial sobre a relação entre uma dieta rica em gordura, microbiota e doenças cardiovasculares?

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Será que estamos tratando o sintoma, mas não a causa do diabetes tipo 2?

Por Alex Rafacho, Dpto de Fisiologia – UFSC

(versão estendida em vídeo, clique aqui)

”No tempo de Copérnico e Galileu, a ciência virou o mundo de cabeça para baixo. A Terra não estava mais no centro do universo, enquanto novas descobertas de anatomia, fisiologia, química e física lembravam as pessoas de que, no final das contas, os antigos não sabiam tudo. Ainda havia muita coisa a ser descoberta”.1 Como dizia um dos grandes filósofos da ciência, o inglês Francis Bacon (1561-1626), um dos precursores do método científico, ‘conhecimento é poder’. A ciência, por meio do método científico, nos permite compreender os fenômenos da natureza e, com isso, melhorar nosso conforto, nossa saúde e até nossa felicidade. A ciência deve ser praticada sem o viés de quem a realiza, deve ser imparcial e estruturada num formato que possa ser confrontada e até mesmo colocada em xeque-mate, ou seja, que as conclusões refutadas deixem de ter seu significado, como reforçava o grande filósofo da ciência Karl Popper (1902-1994).2 Contudo, nem Continuar lendo

Uma nova droga potencialmente poderosa contra a obesidade

Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

A obesidade está se tornando cada vez mais comum em todo o mundo e as intervenções médicas disponíveis não abordam o problema de forma integral. Atualmente, a cirurgia é o procedimento mais eficaz, especialmente para a obesidade grave. Entretanto, as cirurgias trazem mais riscos à saúde do que os tratamentos não invasivos, causando efeitos colaterais permanentes. Há décadas os cientistas têm procurado por moléculas que regulam o ganho de peso em humanos na esperança de poder intervir em nosso metabolismo de forma a controlar a obesidade. Recentemente, pesquisadores de três grandes indústrias farmacêuticas publicaram, de forma independente, artigos científicos apontando para uma proteína que parece ajudar ratos e macacos obesos a perder peso sem gerar efeitos colaterais aparentes. Continuar lendo

Como podem as bactérias intestinais contribuir para a obesidade?

Por Hélia Neves                                                                                                                                    Prof. da Faculdade de Medicina de Lisboa – Portugal

Hoje voltamos a falar da microbiota intestinal (comumente conhecida por flora intestinal), considerada por alguns investigadores como um “novo órgão “ do nosso corpo. Num indivíduo adulto, a microbiota intestinal pode contribuir com até 2 kg do peso total e contem dezenas de bilhões de microrganismos (o seu número é 10 vezes superior ao número de células do nosso corpo). Nela estão incluídas pelo menos 1000 espécies diferentes de bactérias (micróbios), com mais de 3 milhões de genes (150 vezes o número de genes no ser humano). Continuar lendo