E os cientistas do Afeganistão… Será que podemos ajudá-los?

Por Ricardo Castilho Garcez Dpto. Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC.

Muito foi noticiado sobre a retomada do poder no Afeganistão pelo Talibã. No entanto, pouco se falou sobre os cientistas afegãos e seus alunos. E, principalmente, por que eles estariam precisando de ajuda?

Desde 2002, com o fim do regime Talibã, o Afeganistão testemunhou um boom de conhecimento e informação. Foram criadas Universidades e 1.900 veículos de mídia, de acordo com a organização cultural das Nações Unidas, UNESCO. A população estudantil aumentou de 8.000 para 170.000, um quarto dos quais são mulheres. A Academia de Ciências do Afeganistão cresceu para empregar mais de 300 pessoas. Diversas colaborações científicas foram estabelecidas com países da Europa e Estados Unidos. Isso faz com que a maior parte da produção científica afegã esteja atrelada, de alguma forma, ao financiamento e/ou colaborações desses países. E é aqui que mora o perigo!

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As promessas não cumpridas do gerencialismo

Por Vitor Klein Depto de Governança Pública da UDESC

A política é feita de bordões. Poucos, contudo, causaram tamanho impacto como àquele de Al Gore (1993), que afirmou, durante o governo de Bill Clinton, que era preciso criar um governo que custasse menos e funcionasse melhor [1]. Tal bordão ressoou (e ainda ressoa) como uma promessa sedutora, afinal quem poderia ser contra a ideia de que os governos devem custar menos e funcionar melhor. A ideia se tornou, no entanto, uma ambição resiliente por trás das inúmeras reformas nas administrações públicas ao redor do Globo. Conhecido como a Nova Gestão Pública (do inglês New Public Management), esse movimento visava tornar a administração pública mais parecida com a administração privada, objetivo levado a cabo por meio do uso de tecnologias da informação, de formas de accountability similares às das corporações privadas e da comunicação intensiva com os cidadãos. Hood e Dixon (2015) decidiram testar até que ponto a Nova Gestão Pública cumpriu com suas promessas no Reino Unido. A conclusão: após 30 anos de reformas, o governo britânico custa hoje um pouco mais e funciona um pouco pior. Continuar lendo

O Ministério da Saúde Adverte: O excesso de poder causa danos ao cérebro

Por Vitor Klein Professor do Depto de Governança Pública da UDESC

O ano é 2018; a TV dispara uma sequência nauseante de notícias. De um lado, em tom de ameaça, o líder norte-coreano faz um pronunciamento no qual enfatiza ter à sua mesa um botão nuclear; do outro lado, o presidente norte-americano replica, em sua conta do twitter, possuir um botão maior e mais poderoso. A sensação de que homens de poder podem nos lançar a um precipício, ao mesmo tempo em que permanecem alheios ao seu eleitorado e imunes aos conselhos de sua administração, é bastante perturbadora. O fenômeno Trump nos remete, no entanto, a uma intuição bastante antiga, a de que o poder tende a intoxicar e a corromper. Estudos recentes não só confirmam essa intuição, mas descrevem como o poder intoxica (Figura 1) e sugerem o que fazer para evitar que isso ocorra.
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Ciência e Política em tempos de intolerância

Por Vitor Klein                                                                                                                         Professor do Depto de Governança Pública da UDESC

vitor-imagemO que o estado islâmico, constantes crises econômicas e discursos xenofóbicos na política têm a ver com ciência? Para Stephen Toulmin tudo, pois foram esses os ingredientes que vieram a moldar nossa concepção moderna de ciência. Contrariando a noção comum de que com o Iluminismo as sociedades Europeias teriam substituído tradição e superstição por ciência e método, Toulmin faz uma incursão minuciosa na história das ideias Continuar lendo