A Rede Social do Microbioma Intestinal 

Por Heiliane de Brito Fontana – Departamento de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 

O microbioma intestinal, conhecido por seu importante papel na saúde humana, continua a revelar novas dimensões em estudos recentes. Este ecossistema microbiano, composto por trilhões de organismos simbióticos, é afetado por dieta, medicamentos, estilo de vida e exposições ambientais. Pesquisas mostram que sua composição é determinante no desenvolvimento humano, fisiologia, imunidade e nutrição, enquanto desequilíbrios estão associados a diversas doenças.

Figura 1 – Família de pequena comunidade hondurenha. Fonte: Sofía Marcía

Um estudo, publicado em 20 de novembro de 2024, avança no entendimento do impacto das interações sociais no microbioma intestinal. Usando mapeamento detalhado das interações sociais e sequenciamento genômico em 18 vilarejos isolados de Honduras, pesquisadores investigaram como as relações sociais influenciam o compartilhamento de cepas microbianas. As aldeias, com populações entre 66 e 432 pessoas, mantêm um estilo de vida tradicional, com dietas locais e baixa exposição a antibióticos.

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Dispositivos neuromórficos capazes de imitar sinapses neuronais

Por Keli Fabiana Seidel – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR 

A computação neuromórfica refere-se ao desenvolvimento de hardwares e algoritmos projetados para imitar a eficiência do processamento de dados do cérebro humano, funcionando de maneira semelhante às redes neurais. Ainda dentro do uso desse termo neuromórfico, é possível relacioná-lo ao desenvolvimento de circuitos ou dispositivos capazes de replicar comportamentos similares às sinapses dos neurônios. O cérebro humano é uma máquina de processamento altamente eficiente, operando com um consumo de energia extremamente baixo. Esse desempenho inspirador tem sido o foco de diversas pesquisas, buscando recriar essa capacidade em sistemas eletrônicos. Um exemplo promissor de dispositivo com comportamento neuromórfico é o transistor de porta eletrolítica, ao qual vamos nos referir aqui neste texto apenas como transistor neuromórfico.

O transistor é o componente eletrônico fundamental presente em computadores, celulares e inúmeros outros equipamentos eletrônicos. Esses equipamentos podem conter bilhões de transistores, cuja função principal é realizar operações de chaveamento e amplificação de sinais, viabilizando o processamento de informações. Os transistores tradicionais, baseados na eletrônica de silício, são dispositivos que operam em modo binário tradicional (liga/desliga), que baseia-se na lógica digital de 0 ou 1. Em contraste, os transistores neuromórficos vão além da operação binária, sendo capazes de funcionar de forma analógica e multiestados, imitando as sinapses neuronais do cérebro humano. Essa característica permite-os integrar memória e processamento no próprio dispositivo, graças à sua plasticidade sináptica, como ocorre no aprendizado e na memória em sistemas biológicos.

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Reposicionamento de fámacos: como um medicamento para outra finalidade pode ser tornar um tratamento para gordura no fígado?

Por Alessandra Melo de Aguiar – Instituto Carlos Chagas, Fiocruz Curitiba – Paraná

Imagine a seguinte situação: você combinou de levar sua receita especial de torta de limão para uma confraternização no trabalho. Ao preparar a receita, você não acha o espremedor de limão, sem demora você olha os utensílios disponíveis no escorredor de louça e vê o pegador de macarrão, você então improvisa e utiliza o pegador de macarrão para espremer o limão, e dá tudo certo com o preparo da receita. O pegador de macarrão não foi feito para espremer limões, mas ele funcionou muito bem para isso. Essa pequena história de nosso cotidiano pode explicar como alguns cientistas pesquisam novos medicamentos. Você sabia que vários dos medicamentos utilizados hoje em dia foram desenvolvidos inicialmente para o tratamento de algo totalmente diferente? Esse processo é chamado de reposicionamento de fármacos e é como dar um novo uso a remédios usados para tratar outra doença. Assim como você encontraria novos usos para utensílios de cozinha, os cientistas estudam novos usos para remédios já existentes. 

Por exemplo, a semaglutida, medicamento inicialmente desenvolvimento para o tratamento do diabetes tipo 2, em pesquisas posteriores se mostrou promissor para a perda de peso e já existem hoje remédios aprovados para o tratamento da obesidade. Outro exemplo, é o Sildenafil, que foi desenvolvido inicialmente para tratamento de pressão alta, porém mostrou um efeito adverso curioso, e atualmente é utilizado no tratamento de disfunção erétil. Estes casos mostram como os cientistas podem descobrir que medicamentos já conhecidos podem ser estudados para novos tratamentos de problemas de saúde completamente diferentes. 

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