Podemos ganhar resiliência ao Alzheimer!?

Por Rita Zilhão – Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (ULisboa)

A doença de Alzheimer (AD) é a forma mais comum de demência, afetando 47 milhões de indivíduos em todo o mundo. Por esta razão, urge identificar fatores de risco e avançar na identificação de fatores e componentes que possam reduzir a incidência do AD. 

O diagnóstico final inclui a detecção de características neuropatológicas clássicas da AD, como as designadas placas de beta amiloide (Aβ) e a agregação desordenada da proteína Tau fosforilada (pTau) em determinadas zonas do cérebro. 

Recentemente verificou-se que alguns indivíduos mostram uma discrepância entre a cognição e a quantidade de alterações neuropatológicas, indicando que estas alterações em si podem não ser suficientes para explicar o declínio cognitivo. Por outras palavras, algumas pessoas apresentam alterações compatíveis com o Alzheimer, não tendo, no entanto, nenhum sintoma da doença … quase como se os seus cérebros fossem mais resistentes a esta patologia neurodegenerativa. A compreensão dos mecanismos moleculares e celulares subjacentes a este fenômeno que se designou de “resiliência”, ainda é mal compreendida. A fim de elucidar melhor como indivíduos resilientes podem permanecer cognitivamente intactos, e quem sabe no futuro descobrir novas vias terapêuticas, um grupo de cientistas na Holanda selecionou numa coleção cerebral do Banco de Cérebros*, um conjunto de:

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Você ouve sua voz interior? Explorando as consequências comportamentais da anendofasia 

Por Vanessa Shigunov (Psicóloga) e Patrícia Shigunov (FIOCRUZ)

A anendofasia é um fenômeno psicológico caracterizado pela ausência de um monólogo interno ou fala interior, que é a capacidade de “ouvir” pensamentos verbais na mente. Enquanto muitas pessoas experimentam uma forma contínua de diálogo interno que ajuda na organização de ideias, na tomada de decisões e na reflexão sobre experiências, indivíduos com anendofasia não possuem essa narrativa interna verbalizada. Em vez disso, seus processos de pensamento podem ocorrer de maneira não verbal, utilizando imagens visuais, sensações ou outras formas de cognição. Cientistas descobriram que a variabilidade na fala interna das pessoas possui consequências comportamentais e em tarefas cognitivas.

Pesquisadores da Dinamarca e dos Estados Unidos estudaram as diferenças entre pessoas com graus distintos de fala interna em relação aos processos da memória operacional verbal. Eles acreditavam que lembrar de palavras seria mais difícil para as pessoas sem voz interna, pois elas não utilizam o exercício de repetir para si mesmas o que precisam memorizar. Por outro lado, aquelas que possuem voz interior mais ativa reforçariam a informação que precisam reter por meio desse diálogo interno. Essa hipótese foi confirmada pela pesquisa, demonstrando que a presença de uma voz interna facilita a memorização de palavras.

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Desvendando o elo: irisina, exercício e o desafio contra a demência

Por Heiliane de Brito Fontana – Departamento de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

À medida que envelhecemos, nosso cérebro também passa por esse processo, e isso pode resultar em um declínio cognitivo. A demência é um desafio global para a saúde no século XXI, principalmente entre pessoas com mais de 65 anos. Seu impacto tem sido impulsionado nas últimas décadas, afinal – ainda bem – a ciência tem nos ajudado a reduzir mortes prematuras por doenças tratáveis, aumentando a longevidade.

Embora o envelhecimento do nosso cérebro seja um fato, a Comissão Lancet sobre Prevenção, Intervenção e Cuidados com a Demência alerta: “a demência de forma alguma é uma consequência inevitável de atingir a idade de aposentadoria, ou mesmo de entrar na nona década de vida”. Existem fatores que podem ajudar a modificar o declínio cognitivo, e a atividade física é um dos mais promissores e mais suportados por evidências. 

Estudos prospectivos, acompanhando milhares de indivíduos sem demência por longos períodos, revelaram que a atividade física possui um efeito protetor significativo contra o declínio cognitivo. Especificamente, exercícios de alta intensidade mostraram a maior eficácia na preservação da cognição. Além disso, o exercício reduz substancialmente o risco de desenvolver a doença de Alzheimer, chegando a uma diminuição de quase 50%. 

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