Fungos podem sobreviver no espaço

Por Cauê Oliveira & Elisandro Ricardo Drechsler-Santos                                                            Depto. de Botânica e PPGFAP – UFSC

Acima, placas com os liquens e fungos citados no experimento. Abaixo Estação Espacial Internacional.

Acima, placas com os liquens e fungos citados no experimento. Abaixo Estação Espacial Internacional.

A vida existe no planeta Terra há bilhões de anos e acredita-se que tenha surgido no ambiente aquático. Ao longo do tempo, os organismos que foram se diversificando através da evolução contribuíram para a formação da atmosfera do planeta, o que permitiu, inclusive, a adaptação e desenvolvimento de diferentes formas de vida também no ambiente terrestre, entre elas os fungos e liquens. O próximo passo seria o espaço?

A atmosfera é composta por várias camadas e algumas funcionam como filtros de energias eletromagnéticas invisíveis, ou seja, que impedem a entrada de radiações como ultravioleta, infravermelho, microondas, entre outras, que causam danos ao funcionamento das células ou, até mesmo, mutações no DNA. Essa exposição poderia levar os organismos à morte. Mesmo com essa proteção natural, como, por exemplo, da camada de Ozônio, precisamos utilizar cremes, óculos ou até mesmo roupas para nos proteger daqueles raios UV que conseguem passar a atmosfera. Do contrário, sofreríamos com queimaduras e, em alguns casos, até com câncer de pele. Por outro lado, a vida no planeta também depende das energias eletromagnéticas do sol, que assegura condições ambientais ótimas, como temperatura mais estável ou luz para a fotossíntese das plantas. Sem essas condições, teoricamente, a vida não existiria. Já no espaço, os organismos estariam expostos, inclusive a outras condições letais.

Os avanços tecnológicos (novos e melhores telescópios) auxiliam os cientistas a encontrar outros planetas cuja superfície foi ou seria propícia para a vida. As descobertas feitas em Marte pelo robô Curiosity, da NASA, mostram que já existiu água no planeta vermelho, uma condição essencial para a vida. Se já existiu vida em Marte e algo deu errado, a possibilidade de uma vida resistente, que pudesse recuperar a atmosfera do planeta vizinho, seria uma possível solução para os planos de colonização daquele planeta. Mas quais seriam essas formas de vida capazes de proezas tão incríveis de sobrevivência?

Recentemente, pesquisadores de Universidades dos Estados Unidos e Europa utilizaram fungos e liquens em um dos experimentos mais agressivos já realizados com organismos vivos. Em um dos laboratórios da Estação Espacial Internacional, o EXPOSE-E, esses fungos e liquens foram expostos durante um ano e meio às condições de temperaturas extremas e radiações eletromagnética e cósmica intensas do espaço. Esses fungos e liquens foram coletados já em condições extremas aqui no planeta Terra. Os liquens estavam vivendo na altitude de montanhas da Europa e os fungos foram encontrados em comunidades de microorganismos que vivem dentro de rochas sedimentares (criptoendolíticos) abaixo do gelo do continente Antártico. Ou seja, seriam os candidatos perfeitos para esse tipo de experimento.

Nem todos os organismos passaram no teste, mas aqueles que sobreviveram, mostraram capacidade inclusive de reprodução quando foram trazidos de volta para a Terra. Assim, as condições extremas, similares à atmosfera atual de Marte, não provocaram danos no DNA daqueles sobreviventes. Para os pesquisadores, essa capacidade de proteção do DNA impede que mutações, decorrentes da exposição à radiação eletromagnética e cósmica, aconteçam, não limitando o ciclo de vida desses organismos. Ainda, acreditam que nesses organismos, que evolutivamente se adaptaram às condições extremas no nosso planeta, reside o segredo para a sobrevivência fora da proteção da atmosfera terrestre.

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