Por Michelle T. Biz. Dpto. de Ciências Morfológicas, UFSC

Embora a cárie seja a doença mais conhecida do dente, esta não é a única a acometê-lo. A doença do periodonto (doença periodontal) também pode levar à perda de um dente por lesão dos tecidos de sustentação.
A palavra periodonto vem do latim e refere-se aos tecidos que estão ao redor do dente (perio, ao redor; odonto, dente) e estes garantem uma boa implantação e sustentação do dente no osso da maxila e mandíbula, sendo eles: o cemento, o ligamento periodontal e o osso alveolar. Quando ocorre uma inflamação/infecção com lesão destes tecidos, o dente pode perder sustentação. Hoje em dia, os tratamentos instituídos conseguem estacionar a progressão da doença periodontal, mas ainda não há um tratamento efetivo para a recuperação/regeneração destes tecidos, principalmente quando as perdas são mais extensas e complexas.
A formação dos tecidos de sustentação ocorre durante a formação da raiz e requer a presença de um grupo de células chamado de Bainha da Epitelial de Hertwig (BEH) e de células do folículo dentário (figura 1). Estas são estruturas transitórias, presentes apenas neste momento da formação do dente. Mas, eis que um grupo de cientistas se interessou pelo potencial indutor-formador destas células e passou a questionar: e se fosse possível transplantar estas células para um local de lesão periodontal de um dente? Será que manteriam o seu potencial de indução-formação de tecidos de periodonto e poderiam ajudar na regeneração em um dente já formado?
Figura 1: corte histológico de um dente com a raiz em formação (coloração de Masson). Em maior aumento, o detalhe da região de indução-formação, com destaque para os dois tipos celulares usados na pesquisa: Baínha Epitelial de Hertwig e células do folículo dentário. (Imagem produzida por Michelle Tillmann Biz para o perfil instagram @histoiscool)
Pensando em responder a esta pergunta, isolaram células da BEH e do folículo dentário de um dente que estava com a raiz em formação. Em laboratório, primeiro analisaram as características das células em relação ao seu potencial de migração, proliferação, diferenciação e formação de tecido mineralizado. Os testes foram feitos com cada tipo celular isolado (células da BEH; células do folículo dental) e também em conjunto (células da BEH misturadas com células do folículo dental). Os cientistas encontraram os melhores resultados quando havia interação entre os dois tipos celulares. Em seguida, analisaram a capacidade das células em regenerar os tecidos periodontais. Para isso simularam em ratos a perda dos tecidos do periodonto confeccionando uma lesão padrão onde estas células seriam aplicadas. Novamente, as células foram usadas de forma isolada ou em conjunto, mas agora depositadas no local da lesão. Decorridas quatro semanas, o local foi analisado por microtomografia e por cortes histológicos. E assim, Cientistas Descobriram Que as células da BEH juntamente com as células do folículo dentário quando transplantadas para uma lesão periodontal complexa de um dente já formado são capazes de promover a regeneração destes tecidos.
Embora o resultado inédito tenha sido satisfatório e aponte um possível caminho para um processo de regeneração destes tecidos, é preciso pensar que por se tratar de células presentes apenas no momento da formação do dente, sua obtenção para uma terapia de regeneração pode ser um entrave. De toda forma, estes resultados trazem importantes pontos chaves no entendimento do papel das células da BEH e do folículo dentário na formação dos tecidos de sustentação, e, quem sabe, a partir destes achados, possa-se chegar a uma terapia de regeneração dos tecidos periodontais passível de ser transladada para a clínica. Afinal, em Ciência, cada novo achado colabora para futuras investigações.
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Maravilha, tomara que investidores possam investir mais em saúde do que em foguetes e armamentos !!! Parabéns aos pesquisadores !!!