Planetas semelhantes à Terra existiram por quase toda história do Universo

Por Emille Ishida                                                                                                                   Pesquisadora no Instituto de Astrofísica Max Planck, Alemanha

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Comparação de tamanho entre os planetas mais internos do Sistema Solar e aqueles descobertos ao redor de Kepler-444. Daniel Huber & NASA

Comparação de tamanho entre os planetas mais internos do Sistema Solar e aqueles descobertos ao redor de Kepler-444. Daniel Huber & NASA

A descoberta do mais antigo sistema planetário já observado, composto por planetas rochosos, foi recentemente anunciada por um grupo de astrônomos liderados por Tiago Campante, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. O sistema em questão se concentra ao redor da estrela Kepler-444, com idade estimada em 11,2 bilhões de anos. A descoberta de um sistema tão antigo traz duas consequências importantes:ajuda-nos a entender melhor a história da formação de sistemas planetários em nossa galáxia; e nos diz que a presença de planetas parecidos com a Terra é, provavelmente, mais comum do que imaginávamos. O estudo intitulado An ancient extrasolar system with five sub-earth size planets (em uma tradução livre “Um sistema extrassolar antigo com cinco planetas menores que a Terra”) foi publicado em 27 de janeiro de 2015 no periódico The Astrophysical Journal.

A probabilidade de existência de vida fora do nosso planeta depende fortemente de dois fatores principais: o número de estrelas que possuem planetas ao seu redor; e a porcentagem desses planetas cuja superfície é capaz de suportar vida como a conhecemos na Terra. Entretanto, a detecção de tais planetas é um desafio tanto científico quanto tecnológico. Como os planetas não emitem luz, somos capazes de detectá-los apenas por meio de pequenas variações de brilho que estes causam na estrela central, o que requer medidas muito precisas. Ao medirmos o brilho de uma estrela, esse deve ser relativamente constante, ou seja, seu brilho não deve mudar com o passar do tempo. Quando existe um planeta ao redor da estrela, nós percebemos uma queda em seu brilho sempre que o planeta passa pelo nosso campo de visão. Se monitorarmos a estrela por tempo suficiente, veremos que essa diminuição do brilho é momentânea e se repete dentro de um certo intervalo de tempo. Em suma, como a estrela é muito grande, não podemos detectar o planeta diretamente, mas podemos perceber essa diminuição periódica no brilho da estrela e assim inferir a existência de um ou mais planetas ao seu redor.

Realizar tais medidas a partir da superfície da Terra é bastante desfavorável porque a nossa própria atmosfera introduz variações no brilho que detectamos, mesmo quando estudamos estrelas muito próximas.

A fim de possibilitar a observação de estrelas a partir do espaço, a agência espacial americana (NASA) lançou, em 2009, o telescópio espacial Kepler. Seu objetivo é medir continuamente o brilho de 150 mil estrelas na nossa região da galáxia, a procura de planetas parecidos com a Terra. Foi a partir de observações feitas com esse instrumento que o Dr. Tiago Campante e seus colaboradores foram capazes de detectar os cinco planetas que orbitam a estrela Kepler-444.

Para determinar a composição, idade, tamanho e massa da estrela central, o grupo utilizou a asterosismologia (o estudo de oscilações na estrutura interna das estrelas). A técnica permitiu determinar, com precisão inédita, a dimensão de seus planetas. A estrela central desse sistema é uma anã-laranja um pouco mais fria que o nosso Sol, encontra-se a, aproximadamente, 116 anos-luz de distância de nós e é cercada por planetas pequenos. O menor deles tem cerca de 40% e o maior por volta de 70% do tamanho da Terra, o que os torna comparáveis a Mercúrio e Vênus. Todos os planetas estão bastante próximos da estrela central, completando uma volta ao seu redor em menos de 10 dias. Isso os torna, nos dias atuais, quentes demais para abrigar vida como a conhecemos.

Apesar do ambiente hostil, a descoberta de um sistema tão antigo contendo planetas rochosos é importantíssima, pois indica que esses planetas estiveram presentes durante a maior parte da história de evolução do Universo, aumentando a probabilidade da existência de vida em outros sistemas – talvez muito antes do seu surgimento na Terra. Para colocar em perspectiva, o recém descoberto sistema planetário formou-se quando o Universo tinha apenas um quinto de sua idade atual. Ou seja, quando o nosso Sistema Solar foi criado, Kepler-444 já era mais velho do que a Terra é atualmente.

É importante ressaltar o que essa descoberta significa frente à imensidão da nossa galáxia: nós somos capazes de mapear apenas uma parte extremamente pequena da Via-Láctea. O telescópio espacial Kepler investiga uma área que cobre menos de 1% do céu e monitora uma porcentagem ainda menor, se considerarmos o número de estrelas na galáxia. Descobertas como está apenas indicam que as condições para existência da vida podem ser muito mais recorrentes do que imaginamos. Entretanto, dadas as imensas distâncias que nos separam e, consequentemente, as limitações impostas pelas leis da física, é provável que nunca tenhamos uma comprovação direta. Como afirmou Daniel Huber, um dos autores do estudo, “Estamos um passo mais perto de encontramos o Santo Graal dos astrônomos – um planeta do tamanho da Terra com uma órbita de um ano à volta de uma estrela semelhante ao nosso Sol”. Mas isso não quer dizer que haverá alguém lá para nos receber.

O importante é continuarmos sempre procurando.

Para acessar o artigo original, clique aqui.

Para saber mais:

http://amestrib.com/news/isu-researcher-helps-find-ancient-solar-system

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/kepler444-o-sistema-solar-mais-antigo-com-planetas-terrestres-1683541?page=1#/follow

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