Tatuagem temporária como forma de monitoramento dos níveis de glicose no corpo humano…adeus agulhadas?

Por Bruno José Gonçalves da Silva                                                                                                    Prof. Dpto. de Química – UFPR

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Fonte: UC San Diego News Center (14 de Janeiro de 2015)

Fonte: UC San Diego News Center (14 de Janeiro de 2015)

Nos dias de hoje, é comum encontrarmos alguém próximo, amigos ou familiares, que possua diabetes, seja de qual tipo for. Talvez por isso, a grande maioria de nós sabe que esta enfermidade está relacionada com um aumento anormal do nível de glicose, ou açúcar, no sangue. Apesar de ser a principal fonte de energia do nosso organismo, quando em excesso, a glicose pode trazer várias complicações à saúde, desde cansaço até ataque cardíaco, derrame cerebral e insuficiência renal, por exemplo. Por isso, pacientes com essa doença precisam monitorar seus níveis de glicose no sangue constantemente. Daí surge um dos principais incômodos no tratamento: a necessidade que alguns diabéticos têm de automonitoramento dos níveis exatos de glicose no sangue por meio de medidores portáteis, os glicosímetros. Sim… aqueles desgostosos dispositivos que dão uma pequena agulhada nos dedos para expor a gota de sangue a fim de que a medição da glicose seja realizada, em um procedimento que gira em torno de 30 a 45 segundos.

Pensando nisso, pesquisadores do Departamento de Nanoengenharia da Universidade da Califórnia (San Diego, Estados Unidos) desenvolveram um novo dispositivo, não invasivo, que promete acabar com essas dolorosas e constantes picadas. A previsão é que em pouco tempo os pacientes diabéticos não tenham mais que usar uma agulha diariamente para furar seus próprios dedos e realizar o monitoramento em questão. Curioso para saber que dispositivo é este? Pois bem… trata-se de algo que se assemelha bastante à uma tatuagem!

Na verdade, este dispositivo funciona como um sensor, e foi desenvolvido pela estudante Amay Bandodkar e seus colegas de laboratório.  No artigo publicado em dezembro de 2014 na Revista Internacional “Analytical Chemistry”, o grupo descreve o seu dispositivo de baixo custo e flexível, que consiste de eletrodos cuidadosamente impressos em papel de tatuagem temporária. A ideia nasceu do conhecimento de que íons sódio (aquele mesmo do sal de cozinha) são um dos principais carregadores de moléculas do fluido existente entre nossas células, inclusive da nossa pele. Quando estes íons de sódio migram em direção ao eletrodo impresso na tatuagem, eles acabam produzindo uma espécie de fluxo que carrega consigo também as moléculas de glicose. Assim, o sensor incorporado na tatuagem seria capaz de medir a intensidade da carga elétrica produzida pela glicose e assim determinar os níveis totais deste açúcar nos pacientes.

Para avaliação in vivo, ou seja, quando colocado sobre a pele, o dispositivo foi testado em sete pacientes voluntários (homens e mulheres entre 20 e 40 anos), antes e após a ingestão de uma refeição rica em carboidratos. Assim, o dispositivo pôde ser avaliado quanto à sua eficácia. A princípio, estas medidas foram realizadas basicamente através da leitura da corrente elétrica que percorria o dispositivo. Mas calma! A corrente elétrica em questão é tão pequena que não foi capaz de provocar sequer um formigamento na pele dos voluntários, quanto mais um choque! Para comparação, o estudo foi conduzido ao mesmo tempo em que se fazia o acompanhamento tradicional, ou seja, com o velho e famoso método das picadas de agulha.

No momento, a tatuagem ainda não fornece o tipo de leitura numérica que um paciente necessita para monitorar a sua própria glicose. Mas este tipo de leitura está sendo desenvolvida por outros grupos de pesquisa especializados em biosensores ao redor do mundo. Segundo a pesquisadora, “o instrumento de leitura também poderá ter a capacidade de transferência de dados via Bluetooth para enviar essas informações diretamente para o médico do paciente em tempo real”. Fantástico, não é!?

E não acaba por aí… além disso, os cientistas afirmam que o tal dispositivo em forma de tatuagem, poderá, em um curto espaço de tempo, ser utilizado para medir outras moléculas orgânicas importantes, tais como o lactato, que é um composto analisado nos músculos de esportistas para monitorar as suas aptidões atléticas, por exemplo. A tatuagem também pode, um dia, vir a ser usada para testar o quão eficazmente um medicamento está funcionando ou detectar o consumo de álcool ou de drogas ilícitas. Até lá, os principais esforços estão voltados à durabilidade desta “tatuagem” e à garantia de que, após a comercialização, seu preço permaneça baixo (em torno de alguns centavos)…. será?!

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