A Ciência da Arte para diminuir o estresse

Por Giordano W. Calloni, Dpto de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC

Jackson Pollock pintando em Long Island, Nova York, 1950.
© Hans Namuth. Fonte: Encyclopedia Britannica

–  E então Giordano vamos?

–  aham…

–  Giordano, o museu vai fechar e você está em frente a esse quadro faz mais de uma hora. 

– ok, se não há saída, vamos…

Bem meu caro leitor, essa é uma conversa banal de um casal banal em uma tarde nada banal do mês de junho do ano de 2007. Os elementos presentes: um homem emocionado, sua esposa impaciente (com razão), e um quadro dentro de um dos mais belos museus do mundo: a Tate Modern Gallery em Londres. Talvez você tenha percebido que o homem diante do quadro é o interlocutor que aqui vos escreve. O quadro, “ah, o quadro!”, era nada mais nada menos do que “Summertime Number 9A” de Jackson Pollock. Solicito que o leitor clique aqui para ver o quadro antes de continuar a leitura.

Podemos nos questionar como uma pintura, que para alguns pode parecer “feia”, “desorganizada” ou, no melhor dos casos, completamente sem sentido, atrai atenções e invoca emoções das mais diversas. A rigor, não precisaríamos tentar entender e muito menos explicar essas emoções, pois, como bem disse Freud “não é fácil lidar cientificamente com sentimentos”. Mas como todo bom cientista não resisti à tentação e resolvi encarar o desafio de lidar cientificamente com as emoções suscitadas pela arte de Jackson Pollock.

Durante sua breve vida (apenas 44 anos), Jackson Pollock, desenvolveu e utilizou uma técnica que ficou conhecida por “drip” que podemos traduzir em português por gotejamento. Essa técnica também é chamada de “action-painting”, pois Pollock literalmente servia-se de pincéis para derramar, salpicar e gotejar a tinta nas suas imensas telas que eram dispostas horizontalmente no chão. Ele fazia isso usando a força do corpo sobre a tela, ora inclinando-se e retrocedendo, realizando o que parecia ser quase que uma “dança” sobre o quadro que pintava. Solicito que o leitor assista o vídeo abaixo, para ver como Pollock trabalhava:

O quadro Summertime Number 9A, que o leitor viu acima foi pintado dessa maneira. Essa forma extrema de arte, que ficou conhecida como Expressionismo Abstrato, dividiu os críticos: alguns elogiaram o ineditismo da criação, enquanto outros zombaram dos efeitos aleatórios criados por Pollock.

Finalmente, o caos presente nos quadros de Jackson Pollock mostrou-se apenas “aparente”. Como? Pois bem, Cientistas descobriram que as pinturas de Pollock possuem uma geometria fractal. Essa descoberta foi publicada na revista científica Nature no ano de 1999. Um fractal é um objeto (galhos de uma árvore, folhas de uma samambaia, por exemplo) ou uma imagem (aqueles clássicos protetores de telas de computadores) em que suas partes separadas repetem os traços do todo completo. Esse padrão fractal é inclusive utilizado hoje em dia para atestar a legitimidade de algumas das obras atribuídas à Pollock. 

Caro leitor, parece que não fui o único a me questionar sobre o impacto emocional causado pelas obras de Pollock. Cientistas descobriram que…. determinadas imagens fractais promovem um estado de relaxamento no observador. Para demonstrar isso, 24 participantes de um experimento realizado no Centro de Pesquisas NASA-Ames, foram colocados sentados em uma cabine simulada de estação espacial. Cada participante estava voltado para uma imagem fractal projetada na parede. Durante a exposição contínua à imagem, cada participante executou uma sequência de tarefas mentais destinadas a induzir o estresse fisiológico. Cada período de tarefa era separado por um período de recuperação de 1 minuto, criando assim uma sequência de períodos alternados de alto e baixo estresse. Os resultados mostraram que as tarefas mentais induziram menor estresse quando o observador estava visualizando um determinado padrão fractal que também pode ser encontrado em algumas obras de Jackson Pollock. Os resultados dessa pesquisa foram publicados na revista científica Nature, no ano de 2006. 

Bem, meu caro leitor, parece que não foi à toa que me abandonei de mim mesmo em frente a essa magnânima obra de arte por algumas horas. Meu cérebro estava sendo conduzido a um estado de relaxamento pelos fractais de Pollock. Apenas um conselho final, se algum dia você se ver diante de uma obra de arte e de surpresa com lágrimas escorrendo, euforia seguida de tranquilidade, uma sensação de plenitude absoluta, tudo misturado, ordenado e bagunçado ao mesmo tempo, deixe-se levar. Realmente “não é fácil lidar cientificamente com os sentimentos”, e nem mesmo necessário, apenas curta o momento…

Para saber mais detalhes, acesse os artigos originais abaixo:

Para os curiosos que desejam saber mais:

Uma revisão científica sobre o assunto:

Alguns vídeos sobre o assunto:

Um comentário sobre “A Ciência da Arte para diminuir o estresse

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s