Estamos cada vez mais perto de descobrir os segredos da imortalidade dos Vampiros?

Por Giordano W. Calloni – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC

Fonte: favpng.com

Quem não sente um certo fascínio por histórias de vampiros? Esses personagens amedrontam e excitam na mesma proporção sobretudo as crianças e os adolescentes. A miríade de personagens vampirescos é imensa. Uma excelente introdução a respeito do assunto foi realizada no projeto SPORUM (páginas 107-111) que uniu professores e alunos da Universidade Federal de Santa Catarina – Brasil, em um belo livro de Divulgação Científica. Vocês podem acessar gratuitamente o pdf do livro clicando aqui.

As histórias de vampiros são muito antigas, mas sem dúvida o livro Drácula escrito por Bramm Stoker, em 1897 tornou-se um marco para o mito. A potência dessa obra parece eternizar a si mesma e seus intérpretes cinematográficos, tais como, Bela Lugosi que interpretou Drácula em 1931; Gary Oldman que o interpretou em 1992, em belíssimo filme de Francis Ford Coppola e porque deixarmos de fora o vampiro Edward interpretado por Robert Pattinson na série crepúsculo de 2008? Esse último é um personagem curioso, apresenta-se como um vampiro “vegetariano”, pois não se alimenta de sangue humano, mas apenas do fluído de outros animais. Tentarei lhes mostrar no texto de hoje que para manter os neurônios tinindo, a dieta correta de um vampiro não deveria se preocupar com o gênero, espécie ou nacionalidade de sua vítima, mas apenas com um quesito: a idade.

Para contextualizarmos um pouco, em 2014 um grupo de pesquisa publicou na conceituada revista Nature um estudo* provocador: a transfusão de sangue de camundongos jovens em camundongos velhos causou o rejuvenescimento de vários órgãos , especialmente do cérebro (acesse o artigo clicando aqui). Mais fantástico ainda, esse rejuvenescimento reverteu os danos cognitivos causados pela idade e aumentou o número pontos de comunicação entre os neurônios, chamados de espinhos dendríticos (ver figura 1), no córtex cerebral dos animais idosos. Os espinhos dendríticos são pequenas projeções da membrana plasmática dos neurônios que aumentam significativamente a área de contato entre as conexões neuronais (sinapses). Portanto, os espinhos dendríticos são importantíssimos para a correta transmissão de informações entre os neurônios e no estabelecimento das memórias.

Figura 1: Espinhas dendríticas em neurônios. Fonte: http://arquivobioqui.blogspot.com/2015/11/uma-reconstrucao-tridimensional-de.html

Em 2017**, outro artigo também publicado na revista Nature mostrou que a injeção de uma única proteína, chamada TIMP2 e que se encontra em altas concentrações no sangue do cordão umbilical humano era suficiente para rejuvenescer o cérebro de camundongos idosos (acesse o artigo clicando aqui). Assim, a saga da ciência continua e os pesquisadores curiosos como sempre, questionaram-se, se a TIMP2 seria realmente a única responsável pelos efeitos miraculosos.

Pois bem, agora em 2019, o ganhador do prêmio Nobel de 2013, Thomas Sudhof (apresentado aqui no CDQ) e Kathlyn Gan, descobriram dois novos elementos que podem ser responsáveis pela fonte da juventude presente no sangue de camundongos jovens. Tratam-se de duas proteínas: thrombospondin-4 (THBS4) e SPARC-like protein 1 (SPARCL1)(acesse clicando aqui).

Diferentemente dos estudos anteriores, nos quais foram realizadas aplicações sistêmicas de sangue entre animais jovens e velhos, o trabalho atual testou diretamente os efeitos das duas proteínas sobre culturas de neurônios. Com um detalhe muito importante: os neurônios testados eram provenientes de células tronco embrionárias humanas.

Assim, no estudo em questão, os pesquisadores trataram os neurônios humanos com soro bovino fetal (controle), com soro obtido de camundongos velhos (12-15 meses) e com o soro obtido de camundongos jovens (15 dias após nascimento). Após cerca de 30 dias eles observaram que os neurônios que receberam o soro de camundongos jovens apresentavam um aumento de 30% na arborização dendrítica quando comparado as outras duas condições. Os dendritos são prolongamentos dos neurônios e se assemelham aos ramos que se prolongam de um galho (ver figura). Nos dendritos observamos os já mencionados espinhos dendríticos e eles também estavam em número aumentado nos neurônios tratados com o soro de animais jovens. Os dendritos e seus espinhos são os responsáveis pela conexão entre os neurônios, portanto, quanto mais dendritos e seus espinhos maior será a capacidade de comunicação entre as células. Isso resultou no aumento no número de sinapses formadas entre os neurônios e essa poderia ser uma das causas das melhorias cognitivas observadas em trabalhos anteriores

A grande novidade do trabalho atual é que os pesquisadores conseguiram isolar duas dentre as milhares de proteínas que estão presentes no soro. São as já citadas proteínas THBS4 e SPARCL1. Ambas estavam presentes em grande quantidade no soro de camundongos jovens, mas não no soro dos camundongos velhos. Entretanto, apenas um aumento na quantidade dessas proteínas não era garantia de que eram elas as responsáveis pelos efeitos rejuvenescedores no soro dos camundongos jovens, certo? Então, os pesquisadores estimularam por engenharia genética a produção de ambas e as adicionaram em soros de camundongos velhos. Qual não foi a surpresa quando verificaram que agora os soros de camundongos velhos funcionavam exatamente como o soro dos camundongos jovens! Fantástico não?

Bem caros leitores, acredito que por razões óbvias essa história de vampiros deverá interessar mais aos velhos do que aos jovens e crianças. Se a ciência ainda não pode nos garantir a eternidade que ao menos nos prolongue a juventude!

Para saber mais acesse:

Figura retirada de: http://arquivobioqui.blogspot.com/2015/11/uma-reconstrucao-tridimensional-de.html

 

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