Um novo tratamento contra tumores pediátricos mostra resultados promissores

Por Bruno Costa Silva Champalimaud Centre for the Unknown Lisboa – Portugal

Em um trabalho liderado pelo cientista italiano Dr. Franco Locatelli demonstrou-se o potencial uso de uma nova modalidade de terapia antitumoral para o tratamento de cânceres pediátricos. Fonte da imagem: Briorender.

Tumores pediátricos representam apenas 1% da totalidade dos casos de câncer. Dentre estes, a maioria se refere a leucemias, linfomas e tumores cerebrais. Graças a avanços recentes no desenvolvimento de terapias mais eficientes, 80% das crianças acometidas por esses tumores se mantém vivas passados 5 anos do diagnóstico. Isso inclui tumores pediátricos menos frequentes como neuroblastomas, que correspondem a aproximadamente 7% dos tumores pediátricos, e que apresentam uma sobrevida de 75% num período de 5 anos. Entretanto, vale ressaltar que apesar deste percentual de sobrevida chegar a 95% em casos menos agressivos, este número cai para menos de 50% quando tumores mais agressivos estão presentes.

Além de serem mais capazes de se espalhar para outros órgãos na forma de metástases, tumores mais agressivos também costumam apresentar menor resposta a tratamentos existentes (ex. quimioterapias e radioterapias).

Além disso, mesmo quando respondem a estes tratamentos, neuroblastomas agressivos costumam reaparecer e resistir a novos ciclos de tratamento, sendo nestas circunstâncias letais em até 95% dos casos.

Buscando reverter este prognóstico abismal, em um trabalho liderado pelo Dr. Franco Locatelli do hospital pediátrico Bambino Gesù, em Roma (Itália), e publicado na renomada revista médica americana New England Journal of Medicine, foi demonstrado o potencial de uma nova modalidade terapêutica antitumoral.

A terapia em questão envolveu o uso de células imunes, modificadas geneticamente em laboratório, para reconhecer e desencadear a eliminação de células tumorais, mais conhecidas como células T com receptores de antígeno quimérico (chimeric antigen receptor T (CART) cells). Especificamente, os cientistas desenvolveram células CART dirigidas à molécula dissialogangliosídeo GD2 presente especificamente em células de neuroblastomas. Dentre os 27 pacientes participantes do estudo, 12 (44%) com doença resistente a tratamentos convencionais, 14 (52%) com doença reincidente e 1 (3%) com reposta completa após a primeira linha de tratamento que foram inoculados com células CART, 9 (33%) apresentaram uma eliminação completa do tumor em um período de 6 semanas após o início do tratamento, sendo que metade destes se mantiveram livres do tumor em um período de pelo menos 1,7 anos. Além disso, outros oito pacientes (30%) apresentaram resposta parcial ao tratamento. Outro ponto importante foi o associado à toxicidade resultante deste tratamento, que apesar de presente foi considerada aceitável.

Visto que o grupo de pacientes em questão pode ser entendido como “intratável” por terapias convencionais, os resultados alcançados por este estudo podem ser considerados encorajadores. Cabe ressaltar que ainda será necessário reavaliar o estado de saúde destes pacientes por períodos mais longos de tempo após o tratamento para sustentar ou não as conclusões parciais referentes à eficiência deste tratamento. A estrutura logística para a geração de células CART, que envolve a coleta seguida por manipulação em laboratório e inoculação de células T dos pacientes, e o acompanhamento dos pacientes após a inoculação destas células ainda é bastante complexa e cara, o que, pelo menos no futuro próximo, ainda limitará o acesso de pacientes a este tratamento. Apesar disso, o número crescente de estudos clínicos que indicam o sucesso desta estratégia terapêutica sugere um futuro encorajador no tratamento de tumores, sejam eles de menor ou maior incidência. 

Para saber mais acesse:

Deixe um comentário