Desvendando os mistérios dos cabelos brancos: a intrigante jornada das células-tronco melanocíticas

Desvendando os mistérios dos cabelos brancos: a intrigante jornada das células-tronco melanocíticas

Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas, Fiocruz Curitiba – Paraná 

Um estudo recente, realizado na Universidade de Nova York, revelou descobertas notáveis sobre as células-tronco melanocíticas (McSC), que dão origem às células responsáveis pela pigmentação da pele e dos cabelos. Ao contrário do modelo clássico, no qual uma célula-tronco origina uma célula madura sem possibilidade de voltar atrás, cientistas descobriram que as McSC podem oscilar entre os estados não especializado e especializado, dependendo dos sinais do microambiente em que estão inseridas (considerando as diferentes partes do tecido capilar, como o bulbo e o germe do cabelo). O que torna essa descoberta ainda mais fascinante é o fato de que, à medida que o folículo piloso envelhece, um maior número de McSC fica preso em um estado não especializado, perdendo a capacidade de amadurecer e produzir melanina.

Publicado na revista Nature em 19 de abril de 2023, este estudo desafia não apenas a visão tradicional de como as células-tronco se especializam, mas também oferece pistas sobre o motivo pelo qual o cabelo fica grisalho com o envelhecimento.

Inicialmente, os cientistas esperavam que as McSC seguissem o modelo clássico das células-tronco, no qual algumas permanecem não especializadas para reabastecer o reservatório de células-tronco, enquanto outras se especializam em células progenitoras que eventualmente se transformam em células maduras produtoras de melanina.

No entanto, descobriram que estas McSC não residem no bulbo capilar, como se pensava anteriormente, mas estão localizadas em um compartimento chamado germe do cabelo. À medida que o cabelo cresce, essas células transitam para um estado intermediário de especialização, a partir do qual podem se transformar em melanócitos totalmente maduros na base do cabelo em crescimento ou, então, se deslocar para o bulbo capilar, onde permanecem como células não especializadas. Posteriormente, essas células-tronco retornam ao germe do cabelo à medida que o cabelo entra na fase de repouso de seu ciclo de crescimento.

Os cientistas também identificaram sinais específicos dentro desses compartimentos (bulbo e germe do cabelo) que impulsionam essas mudanças. Eles descobriram que as células epiteliais próximas do germe do cabelo liberam sinais que amadurecem as McSC, enquanto esses sinais são suprimidos no bulbo, onde as células recuperam suas características não especializadas.

Considerando que os melanócitos são responsáveis pela coloração do cabelo e que essa pigmentação diminui com o envelhecimento, os cientistas se questionaram sobre o que aconteceria com a mobilidade das McSC em um folículo capilar envelhecido. Para entender isso, a equipe de pesquisa provocou a regeneração dos folículos capilares em camundongos, observando as McSC ao longo do tempo. Nos animais mais velhos, descobriram que mais células-tronco permaneciam na área do bulbo capilar em vez de retornar ao germe do cabelo. Isso sugere que, à medida que o folículo capilar envelhece, as McSC ficam retidas em uma região onde há menos sinais que induzem a pigmentação. Este mecanismo pode explicar por que o cabelo fica grisalho muito mais rapidamente do que cai com o envelhecimento.

Embora os cientistas soubessem que as células poderiam oscilar entre seus estados de maturidade em caso de lesões teciduais, este estudo é importante porque revela que a desdiferenciação (volta ao estado não especializado) também pode ocorrer sob condições fisiológicas normais. Apesar de ter sido realizado em camundongos, o estudo abre caminho para futuras pesquisas sobre regeneração capilar e intervenções para reverter o envelhecimento capilar. Essas descobertas desafiam nosso entendimento atual das células-tronco e têm implicações significativas não apenas para a saúde capilar, mas também para nossa compreensão mais ampla dos processos de envelhecimento e regeneração celular no corpo humano.

Para saber mais:

Dedifferentiation maintains melanocyte stem cells in a dynamic niche.

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