Por Michelle Tillmann Biz – Departamento de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
O dente é suportado nos maxilares por uma rede de fibras grossas que o prendem no osso alveolar: o chamado periodonto de sustentação. O periodonto é uma estrutura complexa que dá suporte ao dente, composto pelo ligamento periodontal (tecido mole) que ancora o dente através do cemento (tecido mineralizado) ao osso alveolar (tecido mineralizado). Tal qual outros tecidos do nosso corpo, o periodonto de sustentação pode sofrer inflamação/infecção, o que caracteriza uma doença periodontal. Os últimos relatórios da OMS indicam que cerca de 19% da população adulta sofre de sua forma grave, que acarreta destruição irreversível do periodonto, causando perda dentária. Regenerar esse arranjo complexo de tecidos mineralizados e moles é um grande desafio clínico nos dias atuais.
Dentre as estratégias adotadas atualmente encontram-se os materiais que combinam silício e lítio. Estes materiais têm sido amplamente estudados na regeneração periodontal, pois estimulam o reparo ósseo por meio da liberação de ácido silícico, ao mesmo tempo em que fornecem estímulos regenerativos por meio do lítio, o qual ativa a via Wnt/β-catenina (uma via de sinalização celular envolvida no processo de regeneração). No entanto, os materiais existentes para liberação combinada de lítio e silício apresentam controle limitado sobre as quantidades e a cinética de liberação de íons. Mas, recentemente Cientistas Descobriram Que é possível combinar silício poroso com pré-litiação para obter a regeneração do periodonto de sustentação. Mas o que isso significa?
A pré-litiação, uma estratégia desenvolvida para tecnologia de baterias, pode introduzir grandes quantidades controláveis de lítio dentro do silício poroso. Com esta estratégia em mãos, os cientistas criaram uma forma de litiar nanofios de silício poroso (LipSiNs), gerando um material biocompatível e bioreabsorvível para ser aplicado no periodonto de sustentação a ser regenerado.
A partir da obtenção do LipSiNs, realizaram uma extensa análise físico-química no que diz respeito à incorporação de lítio e liberação de lítio e ácido silícico. Verificaram que obtiveram um LipSiNs com incorporação de lítio entre 1% e 40%, liberando lítio e ácido silícico de forma adaptável de dias a semanas.
Em um segundo momento, analisaram o efeito do LipSiNs em células derivadas do ligamento periodontal. Com isso, verificaram que o LipSiNs foi capaz de estimular a liberação de marcadores osteogênicos e cementogênicos, os quais são importantes em um processo de regeneração do periodonto. Ainda verificaram que o contato direto de LipSiNs com as células estimulou a via de Wnt/β-catenina, importante via para a regeneração tecidual.
Por fim, partiram para um estudo em animais (ratos) com defeitos periodontais simulando uma doença instalada, onde o LipSiNs foi aplicado. Os cientistas realizaram uma extensa análise histológica e imuno-histoquímica, a qual revelou que o LipSiNs foi capaz de regenerar o periodonto de sustentação, causando a recuperação de tecido mineralizado (osso e cemento) e, também, de tecido mole (ligamento periodontal). As análises imuno-histoquímicas realizadas revelaram que LipSiNs estimularam a via Wnt/β-catenina in vivo e exibiram uma atividade regenerativa em relação ao osso, ao cemento e ao ligamento periodontal.
Ao final de seu trabalho, os autores puderam concluir que LipSiNs combinam estímulos osteogênicos, cementogênicos para regenerar fibras ósseas, de cemento e de ligamento periodontal em um defeito periodontal de ratos, o que representa um grande passo no possível tratamento desta doença. Especificamente para a regeneração periodontal, os cientistas ressaltam que adaptar a formulação de LipSiNs para a ampla gama de apresentações clínicas de defeitos periodontais é essencial para levar a tecnologia para a clínica.
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