Âmbar Gris, Almíscar, perfumes e outros mistérios…

Por Paulo César Simões-Lopes – Dpto de Ecologia e Zoologia – UFSC

Como sempre uma história puxa a outra e quando se vê há uma distância enorme entre a realidade e o imaginário popular. Recentemente, a notícia de um pescador na Indonésia que teria achado um bom naco de ambar gris (ou ambergris) causou uma verdadeira avalanche nas mídias sociais e na imprensa formal. Nessa notícia, se falava de um valor astronômico da substância na indústria de perfumes e assim por diante. E se dizia tratar-se de um “vômito de baleia”…

O âmbar gris não é um vômito e sim um produto do intestino dos cachalotes, uma das várias espécies de baleia. Pode ou não conter os restos de bicos das lulas gigantes e polvos de que eles se alimentam. Faz algum tempo, Cientistas Descobriram Que o âmbar gris só ocorre entre 1e 5% dos cachalotes! Ele é produzido pelo suco biliar que se encarrega de criar essa massa informe que acaba retida no intestino. Em boa parte, são álcoois terpenoides, ambreína (seu componente orgânico mais importante) e proporções significativas de esteroides fecais1. Assim, é improvável que a avalanche midiática de “vômitos” corresponda à realidade…, mas o que isso tem a ver com o almíscar? Ou com os perfumes?

Almíscar é uma palavra antiga. Diz-se que vem do sânscrito muská e que representaria o odor de secreções produzido com a finalidade de comunicação em vários mamíferos. Os cervos-almiscarados “pintam” o tronco das árvores com as secreções dessa glândula e com isso marcam sua passagem. Funcionaria, mais ou menos, como um perfil nas redes sociais. Os bois-almiscarados fazem o mesmo, assim como muitos outros mamíferos sociais.

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