Abaixo à corrupção tumoral!!

Por Bruno Costa da Silva

ImagemEm um trabalho publicado em setembro de 2013 na revista Nature Medicine, os autores propuseram que, em determinados casos de terapias contra cânceres, não basta simplesmente atacar as células tumorais, é necessário atuar sobre a “corrupção” das células de defesa que deveriam combater os tumores. Neste trabalho, cientistas descobriram que utilizando uma droga que atua não nas células tumorais, mas em células brancas (células de defesa do organismo, nesse caso, os macrófagos) associadas ao tumor, é possível reverter o crescimento de alguns tumores de cérebro (um dos tumores mais agressivos e menos curáveis) em camundongos e, quem sabe, futuramente em humanos.

A Organização Mundial da Saúde estima que em 2008 ocorreram mais de 12,5 milhões de novos diagnósticos e 7,5 milhões de mortes por câncer no mundo. Apesar dos avanços obtidos, as tecnologias atuais, frequentemente, muito pouco tem a oferecer à pacientes acometidos por esta doença. Geralmente a estratégia adotada contra o câncer lembra muito como os crimes são tratados em nossa sociedade.

Ao longo de nossa vida, possivelmente, surgem milhares de potenciais tumores, todavia nosso corpo é extremamente eficiente na eliminação destes pequenos focos de células cancerígenas, sem mesmo nos darmos conta disso (ufa!!). Quando estas células cancerígenas conseguem burlar a defesa do nosso corpo e se tornar tumores, as estratégias clínicas entram em campo. Apesar das crescentes exceções, na maioria dos casos, tumores são encarados como os criminosos a serem atacados e neutralizados. Nesse raciocínio, a melhor maneira de eliminar o crime é eliminar o criminoso. Cientistas e médicos são capazes de localizar e atacar, em muitos casos, de maneira pontual as células tumorais – os criminosos. Essa abordagem permite minimizar, na maioria das vezes, grandes danos a inocentes eventualmente vitimados em uma ação mais enérgica, nesse caso as nossas células saudáveis. Essa estratégia, amplamente utilizada para o tratamento da maioria dos tumores, frequentemente é capaz de conter o foco de criminalidade. Falo aqui de métodos usuais como radioterapia e quimioterapia. Infelizmente, não raramente o foco do crime volta, e quase sempre fortalecido, uma vez que teve tempo de aprender possíveis maneiras de manobrar a ação policial.

Tendo isso em mente, novas estratégias têm sido propostas na busca de melhores maneiras de tratar pacientes com câncer. Perceba aqui que propositalmente falo em tratar o paciente, não necessariamente o câncer. Digo isso porque, ainda usando a analogia dos criminosos, nos últimos anos tem se percebido que, assim como na sociedade, muitos crimes só são praticáveis com a devida conivência dos responsáveis pela segurança. Assim, não bastaria atacar o criminoso, mas também ter certeza que policiais, delegados, juízes e/ou políticos envolvidos no crime sofram as medidas disciplinares necessárias. No nosso organismo estes agentes de segurança são as células brancas.

O mais interessante da descoberta acima mencionada é que a ação dessa droga não consiste em eliminar as células de defesa “corrompidas” pelo tumor, mas fazer com que elas parem de ajudar às células tumorais, resultando na diminuição do crescimento do tumor e no aumentando da sobrevida dos pacientes. Aqui, como já visto em outros tumores, ações corretivas sobre a corrupção dos mecanismos antitumorais do nosso corpo parecem ser mais uma ferramenta útil para a desejada queda do império do crime dos tumores.

Para acessar o artigo original: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24056773

3 comentários sobre “Abaixo à corrupção tumoral!!

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