
Por Bruno J. Gonçalves da Silva Prof. Dpto de Química – UFPR
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O reconhecimento biométrico, seja ele por digitais, pela leitura da íris ou pelo timbre das nossas vozes, é o recurso disponível na tecnologia da informação que pode identificar pessoas a partir das suas características morfológicas. Com certeza o mais conhecido é o datilograma (que é o nome técnico para a impressão digital), onde o desenho que vemos é formado pelas linhas e curvas presentes nas polpas dos dedos das nossas mãos quando deixado em uma superfície lisa, como aquelas indesejáveis marquinhas nas telas dos dispositivos eletrônicos por toque, como tablets e smartphones.
Atualmente, o reconhecimento é feito através de algoritmos e de sensores que comparam rapidamente as impressões digitais coletadas com aquelas presentes em um banco de dados, permitindo o acesso (ou não!) do indivíduo a uma máquina, por exemplo. Como muitos de vocês já devem saber, cada ser humano possui sua própria digital, não se repetindo de qualquer forma em outra pessoa, inclusive em gêmeos idênticos! Apesar de visualmente semelhantes, cada uma possui um padrão dessas linhas e curvas, e são justamente estas diferenças que são utilizadas nos sistemas de segurança por reconhecimento biométrico em grandes empresas, na polícia civil e federal e nas instituições bancárias, por exemplo.
Pois bem… a novidade nestes tipos de sistemas de segurança está em algo que não conseguimos enxergar a olho nu: os poros sudoríparos! Em outras palavras, aqueles buraquinhos minúsculos que liberam o suor do nosso corpo, mais especificamente, dos dedos. Vamos entender isso melhor…
Cientistas da Coreia do Sul desenvolveram um polímero baseado em dois componentes químicos, o polidiacetileno e o carboxilato de césio. Este polímero tem a grande vantagem de ser um material hidrocrômico, ou seja, muda de cor instantânea e permanentemente quando exposto à água, neste caso, de azul para vermelho. O interessante é que mesmo pequenas quantidades de umidade, como no caso do suor secretado pelas pontas dos dedos, são suficientes para este fenômeno.
A descoberta, publicada na Nature em abril de 2014, nasceu de conhecimentos prévios da morfologia dos nossos dedos, pois já se sabia que eles contêm poros permanentes, imutáveis e únicos e que, além disso, apenas 20 a 40 poros seriam suficientes para gerar padrões necessários para a identificação de um ser humano. O problema é que até então não existia uma tecnologia rápida e reprodutível na geração das imagens diretas desses poros.
O que os coreanos, liderados pelo pesquisador Jong-Man Kim, da Hanyang University (Seul, Coreia do Sul), fizeram foi desenvolver um dispositivo adicionando este novo polímero sobre uma superfície plana de um termoplástico, curiosamente, um pedaço de garrafa PET (politereftalato de etileno). Pois bem, quando o dedo toca essa superfície, a água contida no suor é retida em sua estrutura, que, por causa da sua morfologia especial, não permite que a pequena quantidade de água se espalhe. Assim, origina-se um ponto de umidade no dispositivo que corresponde exatamente à localização do poro sudoríparo do indivíduo. Neste momento, este ponto imediatamente adquire coloração vermelha, sendo facilmente evidenciado pelo contraste em relação à cor azul do polímero seco em sua volta (veja a ilustração). É claro que, para uma melhor visualização dessas imagens, algumas artimanhas podem ser utilizadas, como a adição de compostos fluorescentes ao polímero, o que deixa esses pontos ainda mais evidentes a olho nu!
Talvez a grande vantagem desta nova estratégia de mapeamento de impressão digital esteja na forma como é coletada. Enquanto que os métodos convencionais de detecção de impressões digitais dependem dos padrões das linhas e curvas deixadas na superfície, e, consequentemente, requerem grandes porções de uma impressão digital para que a análise seja confiável, no novo método, baseado no material hidrocrômico, a identificação humana pode ser realizada mesmo quando existe uma porção relativamente pequena de uma impressão digital.
Segundo os cientistas envolvidos na pesquisa, além da aplicação óbvia na melhoria dos sistemas de segurança baseados em biometria, o novo dispositivo também poderá ser utilizado como diagnóstico clínico, sendo bastante útil na identificação do mau funcionamento dos poros sudoríparos, não apenas das pontas dos dedos, mas de todo o corpo. Este estudo reforça que a leitura biométrica encaminha para uma evolução muito maior, especialmente nos quesitos de segurança e reconhecimento individual. No fim, vale lembrar que qualquer aumento na segurança é válido. Esta nova tecnologia pode até deixar mais complicado o uso dos caixas eletrônicos, mas é melhor prevenir do que remediar, não é verdade?
Obrigado pelo artigo, que esclarece a parte técnica destes avanços tão importantes. Não são especialista, mais acredito na importância e no valor do reconhecimento de padrões. A base para os sistemas de visão, de segurança, das aplicações para a agricultura e a industria agroalimentar, para as linhas de montagem da industria ou para os aparelhos de pago nas lojas e os supermercados. A informática e os aparelhos baseados nos sistemas de reconhecimento de padrões serão os alicerces do sistema industrial 4.0. Não há duvida.