Por Marina Novak Weege e Marco Stimamiglio Psicóloga; Pesquisador no ICC/FIOCRUZ – PR
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Há muitos anos que o modelo de educação infantil mais aceito e adotado como eficaz e correto é a punição física. Era comum observar pais realizando esta prática e também profissionais da saúde orientando métodos punitivos como maneira de obter comportamentos socialmente aceitos dos filhos. Pretendia-se, desta maneira, garantir aos filhos uma boa educação, já pensando na inserção social e obtenção do êxito na educação dos filhos.
Se observarmos, a prática da disciplina punitiva física é, até hoje, largamente utilizada. Esta é a conclusão de um estudo publicado recentemente na revista inglesa Journal of Clinical Child & Adolescent Psychology. Um conjunto de dados reunidos em 2012, referentes a um período de 20 anos de pesquisa, mostra um fato intrigante: punição corporal não é eficaz em estimular a obediência quando comparado a outros métodos educacionais. Segundo esta pesquisa, a punição física tem como reflexo o aumento de comportamentos agressivos em crianças, gerando mais violência infantil no contexto de punição. Além deste fato, a pesquisa aponta numerosos estudos que convergem para a descoberta de que o castigo físico aumenta o risco de resultados negativos amplos e duradouros no desenvolvimento da criança.
Segundo esta pesquisa, a punição física traduz um número considerável de problemas de desenvolvimento a médio e longo prazo, incluindo depressão, tristeza, ansiedade, sentimento de melancolia, uso de drogas e álcool, desajuste psicológico geral na vida adulta, comportamento agressivo, inclusive em seu núcleo familiar. Outros fatores seriamente adversos referem-se a transtornos psiquiátricos, como demonstrados em estudos realizados nos Estados Unidos e Europa.
Apesar da nossa reação inicial diante destes fatos ser a de imaginar que este tipo de pesquisa é tendenciosa e que as conclusões científicas mudam constantemente, provavelmente isso reflete nossa própria insegurança por estarmos inseridos nesta cultura desde muito tempo. Entretanto, nem sempre o que é considerado senso comum necessariamente traz os benefícios esperados.
A pesquisa publicada na revista inglesa teve como preocupação evitar resultados que não refletissem a realidade mundial, abrangendo uma maior gama de dados obtidos em oito países (China, Colômbia, Itália, Jordânia, Quênia, Filipinas, Tailândia, Estados Unidos) de diferentes regiões do mundo, inseridos em contextos sócio econômicos bastantes diversos, culturalmente e socialmente distintos, que mostram uma convergência nestas conclusões. Portanto, levar em consideração uma pesquisa de alto rigor cientifico e com tão ampla diversidade entre continentes e culturas do mundo demonstra uma preocupação com o futuro visando a evolução do comportamento social o que se traduz em uma necessidade de mudança.
Acrescenta-se que, mesmo com a diferença cultural avaliada nesta pesquisa, nas quais o castigo é utilizado como forma de educar, um consenso apareceu: apesar dos efeitos da punição apresentarem prejuízos e o acolhimento materno reverter este quadro, quando estes procedimentos são realizados conjuntamente – o conhecido “bater e assoprar” – os efeitos negativos são ainda piores. A pesquisa baseia-se na avaliação dos dados obtidos, mas não explica o porquê destes efeitos.
É possível que a explicação para este fato esteja justamente na educação estar baseada no humor instável, na qual a criança está sujeita à punição física ou à aceitação (comportamento caloroso). Esta alternância comportamental dos pais aumenta a probabilidade de gerar insegurança nas crianças uma vez que sem um padrão definido, os filhos nunca sabem o que esperar.
Como a punição física está altamente enraizada na cultura da educação mundial, também nota-se a dificuldade de transformar este pensamento de acordo com as contribuições científicas. É importante ressaltar que os efeitos adversos dificilmente se refletem em comportamento agressivo evidente, porém podem promover deterioração do senso moral, culminando em sentimentos de insegurança, baixa autoestima, desvalorização pessoal (autoboicote).
Portanto, a partir deste estudo, fica evidente que ao se escolher uma forma de educar, usando punição física ou disciplinando de forma positiva, estaremos também escolhendo o futuro modelo de cidadãos que desejamos.
Para acessar os artigos originais clique nos links abaixo:
então qual seria a conclusão? não punir? não falar nada nem fazer nada diante a rebeldia? no contexto fica claro somente que não é interessante punir mais não mostra uma outra visão.
Olá Dênis, obrigado pelo comentário. No final do texto tem um link com dicas de alternativas às punições físicas. Se ainda ficar com dúvidas, não hesite em entrar em contato.
Abraço!