Por Bruno José Gonçalves da Silva Prof. Dpto. de Química – UFPR
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O assunto deste post é a prova de que, quando a ciência caminha junto aos interesses comerciais, descobertas extraordinárias podem surgir diante dos nossos olhos, especialmente se estivermos em um daqueles dias de muita sorte! Pois bem, foi unindo esses três ingredientes que a pesquisadora de um laboratório de química da IBM, Jeannette Garcia, descobriu a mais nova classe de polímeros recicláveis e com possibilidades de regeneração, com destaque para a polihexahidrotriazina (PHT), batizada com o nome de Hydro.
Há pouco tempo, pensávamos que os polímeros eram formados apenas por reações irreversíveis, e uma vez transformados, não voltavam aos seus constituintes originais. Esse tem sido o grande obstáculo no uso desses materiais, ao que se refere à sustentabilidade do meio ambiente. A descoberta do Hydro por si só já causou grande alvoroço no meio científico, pois faz parte do primeiro grupo de polímeros descobertos no século 21, já que, segundo a pesquisadora e responsável pelo projeto, “a maioria dos polímeros que utilizamos hoje em dia foi descoberta entre 1930 e 1950” e os novos produtos são na verdade apenas variações de outros materiais já sintetizados e existentes no mercado, como as garrafas de plástico de refrigerante. O mais interessante: a descoberta foi totalmente acidental!
A pesquisadora trabalhava em outra análise quando percebeu que, por esquecimento de um reagente, a mistura líquida, a qual havia deixado em repouso por alguns instantes, havia se transformado em um plástico! Essa mais nova família de polímeros, da qual o Hydro faz parte, é denominada família dos polímeros termofixos, os quais são criados sob calor, formando uma rede 3D de ligações, conferindo valiosa resistência ao material sem, contudo, deixar de ser leve.
O Hydro, que mais se assemelha a um gel (diferente do outro polímero também descoberto pela mesma pesquisadora, o Titan, que é mais rígido e apresenta um terço da capacidade de tensão do aço), é um composto 70 % líquido, 100 % solúvel em água e extremamente flexível. Sua propriedade mais importante é sua capacidade de se regenerar, ou seja, quando uma parte deste polímero é dividida e colocada lado a lado, as duas metades se grudam novamente em um mesmo material. A princípio, o Hydro poderá ser usado como um poderoso adesivo de contato. Já o Titan tem sua evolução como matéria prima para fuselagens de aviões ou na composição de chips complexos, alvo de interesse da empresa.
Para o Professor Edwin L. Thomas, da Universidade de Rice (EUA), o lado reciclável destes novos materiais tem chamado a atenção da comunidade científica de todo o mundo. Segundo ele, estes materiais têm grande importância, pois estamos tratando de um produto que pode ser usado e reutilizado para o mesmo fim ou para outras aplicações. Assim poderá se recuperar diversos materiais que vão para o lixo e poluem o meio ambiente se não forem reciclados. Em tempos de conscientização ambiental, esta descoberta nos desperta a esperança de um mundo mais sustentável e menos poluído, com mais reaproveitamento e menos desperdício.
Apesar de muita pesquisa ainda ser necessária para que, de fato, tanto o Hydro quanto o Titan sejam encontrados em produtos do cotidiano, esta descoberta acidental mostra também que é possível criar materiais fortes e autorregenerativos que são duráveis quando preciso, mas podem ser quebrados e reciclados quando seu trabalho está concluído. Para novas descobertas neste ramo, além de saber um pouco sobre ciência, ter a matéria prima certa e investimento, há também que se contar com a sorte de vez em quando, pois ela é, sem dúvida alguma, uma grande aliada de todo cientista!