A convite do Cientistas descobriram que…
Por Augusto S. P. Ramos Pesquisador no Instituto Carlos Chagas – Fiocruz PR
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Cientistas descobriram que… bem, este texto não é sobre uma recente descoberta científica, mas sobre uma discussão antiga. E polêmica. Trata-se do debate sobre as origens da vida e do ser humano. A teoria amplamente aceita pela comunidade científica para explicar a grande diversidade de formas de vida é a Teoria da Evolução (TE) pela seleção natural, proposta por Charles Darwin e Alfred Wallace, em 1858. De acordo com a TE, todos os seres vivos evoluíram a partir de ancestrais comuns, em um processo que se iniciou há cerca de 3,8 bilhões de anos.
Os organismos de qualquer espécie apresentam variações naturais, tais como a cor dos olhos ou a espessura do bico de uma ave. Darwin postulou que, devido a estas variações, alguns indivíduos teriam mais chances de sobreviver e se reproduzir, gerando um maior número de descendentes. Lembre-se que, na natureza, nasce um número de indivíduos muito maior do que aquele que efetivamente atinge a idade adulta e se reproduz. Com o tempo, geração após geração, aquelas características que favorecessem a sobrevivência e a reprodução se tornariam mais frequentes, tornando a população resultante diferente de sua ancestral. Assim, através de mudanças graduais, geradas por mutações aleatórias no DNA e pela seleção dos mais adaptados ao ambiente, novas espécies seriam formadas. Este processo se aplicaria a todos os organismos, de bactérias a seres humanos.
A teoria da evolução é corroborada por evidências de várias áreas da ciência, tais como: a idade da Terra, o registro fóssil, a distribuição geográfica das espécies, o desenvolvimento embrionário e o fato de o código genético ser universal, o que é compatível com todos os organismos possuindo uma ancestralidade comum. Nas palavras do eminente biólogo Theodosius Dobzhansky, “nada em Biologia faz sentido, exceto à luz da evolução”.
Nos últimos anos, tem havido um intenso debate entre evolucionistas e os defensores da Teoria do Design Inteligente (TDI). De acordo com a TDI, os seres vivos seriam muito complexos para terem surgido por processos naturais. A natureza teria um arquiteto inteligente, que teria sido responsável pelo surgimento da vida. O olho, o flagelo bacteriano e a informação contida no DNA são exemplos citados de estruturas tão complexas, que não poderiam ter se originado pela seleção natural. Seriam exemplos de “complexidade irredutível”, no sentido em que a ausência de qualquer um de seus componentes tornaria a estrutura não funcional. Como, então, poderiam ter surgido por um processo gradual de pequenas alterações, a partir de estruturas mais simples? De acordo com a TDI, tais estruturas demostram o projeto de uma mente inteligente.
Mas o design inteligente se constitui, de fato, em uma alternativa científica válida à teoria da evolução? Não, de acordo com a ampla maioria da comunidade científica. Por recorrer a uma entidade sobrenatural, a TDI está além do alcance da ciência; por esta razão, ela não pode ser testada experimentalmente, o que a torna não falseável e pouco útil do ponto de vista científico. O argumento de complexidade irredutível, por sua vez, não se sustenta. O caso do olho, por exemplo, foi tratado pelo próprio Darwin. Há animais invertebrados com olhos simples, para os quais não há a necessidade de uma visão nítida. Dessa forma, olhos mais complexos poderiam ter surgido, gradualmente, a partir de estruturas pré-existentes mais simples pela seleção natural.
A TDI não oferece um modelo explicativo do mundo, restringindo-se a atribuir a um ser sobrenatural o que a ciência ainda não é capaz de explicar. Para muitos cientistas, o design inteligente corresponde à nova face do criacionismo, baseado na interpretação literal do livro Gênesis, revestido de um caráter supostamente científico. Esta versão do criacionismo teria surgido após várias derrotas judiciais, especialmente nos Estados Unidos, de inserir o ensino do criacionismo na educação básica.
E quanto ao debate no Brasil? A disputa provavelmente irá se intensificar com a organização, no ano passado, do I Congresso Brasileiro do Design Inteligente.
Mas, apesar de todas as evidências em favor da evolução, por que o criacionismo persiste, seja na sua forma mais convencional ou através do design inteligente? Talvez os adeptos da TDI estejam se aproveitando de um espaço deixado pela própria comunidade científica e do jornalismo especializado, que parecem não considerar a discussão em torno do assunto como necessária ou produtiva.
Por último, é importante ressaltar que aceitar o desenvolvimento científico não significa abdicar da crença em Deus. Líderes religiosos importantes, como o ex-papa João Paulo II, ou cientistas renomados, como Francis Collins, diretor dos Institutos de Saúde dos Estados Unidos (NIH), conciliam sua crença em Deus com a teoria da evolução. Ciência e religião, ao tratar de questões diferentes sobre o ser humano e a razão de sua existência, não necessariamente se opõem. A harmonia entre elas talvez dependa de não haver interferência entre suas esferas de ação.
Sugestões de leitura:
…”olhos mais complexos poderiam ter surgido”…; é sempre assim: “…poderiam…”, “…em certo momento passaram à…”, “…de alguma forma aconteceu…”, em algum momento da história…”.
Leio artigos evolucionistas e encontro com freqüência essas expressões. Criticam o design inteligente e a complexidade irredutível, mas os artigos que li sobre esses assuntos são muito mais rico em detalhes e explicações do que artigos sobre a evolução.
Olá Elias!
Primeiramente, é importante dizer que a ciência é muito cautelosa. Todo cientista aprende desde cedo que é fundamental não tirar conclusões que os dados não sustentem. Por exemplo, os dados de um experimento cientifico particular podem corroborar sua hipótese de trabalho, mas não necessariamente excluem outras possibilidades. Por isso, usamos com frequência termos como “é possível”, “está de acordo”, “poderiam ter sido assim”, entre outros.
Quanto à evolução, há uma ampla documentação, de várias áreas da ciência, a favor do desenvolvimento da vida pela seleção natural. Como escrevo no texto, os próprios cientistas podem estar se omitindo de levar a ciência ao grande público, ao contrário dos defensores do design inteligente, que miram exatamente o publico em geral.
Mas vamos imaginar, por um momento, que não pudéssemos explicar o surgimento de uma estrutura altamente complexa pela seleção natural, de forma gradual, a partir de estruturas mais simples. Isto significaria que esta estrutura foi projetada por um ser superinteligente? É o tipo de conclusão simples e automática que a ciência se recusa a fazer. E se conseguirmos fazê-lo amanhã? Muitas formas transicionais previstas pela teoria da evolução foram descobertas pelo registro fóssil nas últimas décadas.
De qualquer forma, é claro que há limites para a ciência. E a formação de fósseis é um evento extremamente raro. Mas mesmo sem fósseis de qualquer tipo, as evidências da evolução de outras áreas da ciência já seriam suficientes para acreditarmos nela.
Essa postagem é desonesta. Não explicou o que é de fato a TDI, e ainda por cima mentiu dizendo: “Por recorrer a uma entidade sobrenatural, a TDI está além do alcance da ciência; por esta razão, ela não pode ser testada experimentalmente, o que a torna não falseável e pouco útil do ponto de vista científico.”, Quando na verdade a teoria do design inteligente não se ocupa em querer provar um ser sobrenatural(Deus), mas um ser criador. Ela usa o método científico, investiga e busca padrões que mostrem (ou não) um planejamento inteligente por detrás dos objetos de análise. As implicações filosóficas por consequência das descobertas está por conta de cada indivíduo, da mesma maneira que a esmagadora massa de darwistas/naturalistas tomam pra si a filosofia atéia baseando-se em suas conclusões/teorias. Como existe no Darwinismo pessoas que não acreditam na existência de Deus com base nas suas teorias, na TDI não é diferente, já que também com base nas conclusões cada indivíduo crê ou não num Deus, e outros numa inteligência Alien criadora. O que acontece hoje em dia, é que vocês Darwinistas fazem birra e agem feito crianças que não sabem reconhecer nem conviver com uma opinião diferente, por isso dominaram e vetaram o ensino nas instituições de tudo que abra questionamentos sobre uma teoria que nem foi científicamente provada (Isso mesmo, teoria!), “queimando e condenando” os hereges que ousam discordar, da mesma maneira que a igreja católica fez na idade média. Vocês são meninos!
É um equívoco considerar que a ciência prova alguma coisa, e que uma teoria abarca toda a realidade. As teorias são interpretações resultantes de analises criteriosas de fenômenos mensuráveis a partir de um arcabouço teórico estabelecido. Uma teoria para se estabelecer precisa garantir a coerência entre as diversas análises e intepretações das diversas áreas que pesquisam o tema. Estudando-se a história, filosofia e sociologia da ciência, a história do darwinismo e da teoria sintética da evolução fica claro que os critérios de produção científica foram preenchidos ao longo dos seus mais de 150 anos de existência. Toda a produção científica que tratou do tema contribuiu com a consolidação da teoria e não sua refutação. Destaco que, com o desenvolvimento da biologia molecular, da citologia e da genética, as inconsistências da teoria de Darwin foram.descartadas, e, atualmente, é ela que mais adequadamente interpreta os fenômenos observados (fósseis, código genético comum, mutações, etc.). A critica que faço à teoria do Design Inteligente é de que seus defensores apropriam-se do discurso científico, mas não dos critérios mínimos necessários à produção de conhecimento científico. Como um corpo de conhecimento a TDI tem todo direito de existir, assim como a astrologia, mas não podemos aceitá-la como um corpo de conhecimento científico, pois não passou pelos crivos necessários à produção científica.
Olá Guilherme, se leu nosso texto com atenção percebe que não defendemos que a TDI seja uma teoria científica! Abraço!
Teoria científica é diferente de teoria no sentido comum meu amigo, segundo que ciência não é questão de opinião como você fala, é questão de dados e evidências !
A crença em deus e espiritualidade são coisas que estão dentro de cada um. Só conflita com a ciencia se e somente se for colocada ambas de forma em negativo. Penso que uma síntese política entre ciencia e crença em deus seja possível a partir da transversalidade, conforme coloca o Capra em “O ponto de mutação”.