
Por Bruno José Gonçalves da Silva Prof. Dpto. de Química – UFPR
O verão está próximo e uma das primeiras coisas que nos vem à mente é o calor, não é mesmo?! É um período de aproveitar uma bela praia, uma piscina ou qualquer outro programa que inclua como ator principal o sol! Como se trata de quase uma unanimidade, as preocupações com relação à exposição exagerada à luz do sol em busca do bronzeado perfeito já fazem parte das nossas vidas há algum tempo. Neste sentido, por exemplo, não é novidade para ninguém a importância de nos protegermos contra os temidos raios ultravioleta (raios UV) que são emitidos pelo sol e que agridem não só os nossos olhos, mas em especial a nossa pele, causando entre outros males, o envelhecimento precoce e o surgimento de câncer de pele.
Por isso, uma das maneiras mais usadas e eficazes para nos proteger é o uso diário (e não apenas em dias de sol forte e praia!) de bloqueadores, os tão conhecidos protetores solares. Mas você sabe qual é o melhor protetor solar? Pois bem… alguns cientistas também se fizeram essa pergunta e acabaram por desenvolver, utilizando a nanotecnologia, uma nova classe de protetores solares extremamente eficazes e com baixa absorção pelo nosso organismo!
A ideia inicial dos pesquisadores era desenvolver um protetor que durasse mais tempo após aplicação, mas rapidamente o foco dos estudos foi em direção à segurança do uso deste produto. Mas porque se preocupar com a segurança do uso de algo que é aplicado justamente para nos proteger? Acontece que os protetores solares convencionais possuem a característica, pela sua composição química, de serem absorvidos pela nossa pele, e desta maneira, adentram no nosso organismo não permanecendo apenas na superfície onde são aplicados. Vamos entender isso melhor…
Estes produtos podem, basicamente, agir de duas maneiras distintas. A primeira delas é bloqueando completamente os raios UV, que é o caso de quando a sua composição é baseada em óxido de zinco (que deixa aquela famosa marca branca nas bochechas dos surfistas e de pessoas que passam muito tempo expostas ao sol), sendo chamados de bloqueadores solares. A segunda maneira é filtrando quimicamente os raios UV prejudiciais antes destes entrarem em contato com a pele, chamados de filtro solares. Embora este segundo tipo de protetor solar não te deixe como um fantasma, ele possui alguns inconvenientes. O principal deles está justamente relacionado com a nossa saúde, já que os seus constituintes químicos têm sido encontrados na urina e no leite materno, mostrando que podem penetrar a camada exterior da pele, entrando mais profundamente no nosso corpo. Uma das grandes preocupações surgiu depois de estudos recentes descobrirem que as mesmas substâncias químicas que nos protegem dos danos UV também pode produzir moléculas que danificam o DNA após a absorção de radiação UV.
Então, para manter a vantagem dos filtros solares de não deixar aquela marquinha branca em nossa pele, mas, ao mesmo tempo, impedir que estes produtos entrem efetivamente na nossa pele, o grupo de pesquisa de engenharia biomédica da Universidade de Yale (Estados Unidos), liderado pelo professor Mark Saltzman, aplicou a tecnologia de nanopartículas para tentar resolver este problema! Hoje em dia, a nanotecnologia tem sido bastante estudada e aplicada para resolver inúmeros problemas do nosso cotidiano. Basicamente, as nanopartículas são estruturas bastante pequenas, da ordem de 1 a 100 nanômetros, ou seja, algo como dividir uma cabeça de alfinete em 1 milhão de vezes!
Em estudo publicado em setembro de 2015 na revista científica Nature Materials, os pesquisadores descobriram que uma grande variedade dessas nanopartículas tem a capacidade de aderir fortemente às proteínas presentes na nossa pele e que, por isso, não conseguem entrar mais profundamente no nosso organismo, ao ponto de alcançar a corrente sanguínea, por exemplo. No estudo, cada nanopartícula é, na verdade, uma pequena bolha recheada de filtro solar que forma uma camada ultrafina sobre nossa pele, protegendo-a da luz do sol! Os pesquisadores descobriram que, essas estruturas não só permaneceram fora do corpo, mas foram até mais eficientes que os protetores convencionais, necessitando de apenas 5% da quantidade antes aplicada para ter o mesmo efeito. Além disso, todas as moléculas provindas das reações entre os constituintes químicos do protetor e os raios UV que poderiam danificar o DNA também ficam retidas nas nanopartículas, sem adentrar nosso organismo.
Os testes, que foram realizados em ratos, mostraram também que os protetores solares desenvolvidos com esta tecnologia podem permanecer até 5 dias e são resistentes à água, mas são facilmente retirados da pele passando-se uma toalha onde foi aplicado. O que acontece com esses produtos quando são eliminados no meio ambiente ainda é objeto de estudos futuros (lembram-se dos “contaminantes emergentes” dos quais falamos em um post passado!). Porém estima-se que, pela baixa quantidade de protetor solar adicionada às nanopartículas, uma menor toxicidade também será evidenciada quando comparamos ao uso dos protetores convencionais.
O professor Saltzman diz que ainda não tem permissão para testar a nova descoberta em seres humanos, mas que espera que a permissão venha rapidamente e que em breve este produto seja uma opção eficaz e segura. Talvez seja o fim da dúvida quando nos deparamos com as inúmeras opções de protetores solares que lotam as prateleiras das farmácias de todo o mundo, não é mesmo?! Que venha o verão…