Por Paula Borges Monteiro Grupo de Estudos em Tópicos de Física – IFSC

Fonte: Vectorcontactcenter. Acesso em abril de 2019.
Diferente da maioria dos textos publicados pelo CDQ, cujo objetivo principal é descrever avanços científicos em uma linguagem acessível, este texto pretende provocar uma reflexão sobre o que podemos compreender acerca da natureza e em que acreditamos.
Se você busca entender o que é ativismo quântico, cura ou terapia quântica, infelizmente este não é o lugar correto. Mas se você gostaria de entender qual o papel da Física em nosso mundo, pode ser que fique satisfeito. A Física é uma ciência que estuda a natureza, observando seus fenômenos, construindo modelos e relações para explicá-los e prevendo suas consequências. O reconhecimento de uma relação física, como por exemplo, P = m.g (peso é igual à massa vezes a aceleração da gravidade), está intimamente relacionado à reprodutibilidade de resultados. Dentro das condições previstas para a validade dessa equação, sempre é encontrado que o valor do peso de um corpo é igual ao valor de sua massa multiplicada pela aceleração da gravidade. Tudo isso pode ser quantificado e o peso de algo pode ser previsto se conhecemos sua massa. O que acontece se, em alguma situação, a equação não “funcionar”? Se a utilização estiver correta, a teoria pode precisar ser revista, sendo necessário acrescentar ou suprimir algum pressuposto ou ainda ser reformulada.
No início do século XX, fenômenos relacionados à interação da luz com a matéria, por exemplo, não poderiam ser explicados pelos modelos físicos já consolidados. Assim, fez-se necessária a proposição de novas hipóteses para o entendimento desses eventos. Surge, nesse período, a Física Quântica, área da Física que apresenta novos conceitos que fogem do nosso senso comum por contrariar impressões da natureza já estabelecidas (Física Clássica). A Física Quântica é a área da Física que estuda a matéria em escalas próximas à escala atômica. Em um curso de graduação, a Física “Moderna” é ministrada nos anos finais, quando o estudante já possui um conhecimento da Física Clássica e as ferramentas matemáticas necessárias para compreender as relações propostas pelos cientistas na época, entre eles, nomes como Einstein, Heisenberg, Bohr e Schrödinger.
Nesse sentido, há um grande incômodo por parte de físicos e outros cientistas quando se deparam com a oferta de cursos de Física Quântica como base para o ativismo quântico, a cura ou a terapia quântica, que são ministrados em um final de semana, ou à distância em vídeos que não chegam juntos a 5 horas de duração. É claro que há pessoas bem intencionadas envolvidas, mas é preciso fazer uma diferenciação entre ciência e fé. A fé, entendida como crença no sentido religioso ou mesmo como uma convicção pessoal, não pode ser questionada, e dificilmente poderá ser reproduzida. Se você acredita que os fundamentos, do ativismo quântico, por exemplo, podem mudar a sua vida e que faz todo o sentido, isso não pode ser reprovado por nenhuma pessoa, seja um cientista ou um religioso. O grande problema é tomar isso como uma verdade científica. Todas essas iniciativas poderiam ser mais bem definidas com o termo autoajuda, que representa a procura individual ou coletiva de aprimoramento espiritual ou intelectual de acordo com as suas crenças.
O objetivo aqui não é colocar a fé contra a ciência ou vice-versa, já que elas são essencialmente diferentes e podem coexistir. Não há problema nenhum em nomear a cura como cura quântica desde que seja entendido que essa quântica não é a mesma quântica de Einstein e sim, entendida como uma analogia, uma mudança de paradigma ao enfrentar alguma situação.
Lembro aqui do uso de outros conceitos da Física no nosso dia-a-dia, como o magnetismo. Quando falamos de magnetismo pessoal, não queremos dizer que uma pessoa tem um polo sul nos pés que vai puxar o polo norte na cabeça de outra pessoa. Nem mesmo podemos dizer que você poderá aprender tudo sobre magnetismo em um final de semana para aprimorar o seu poder de atração pessoal. Assim, considerando o termo quântico como uma licença poética, sob a luz do nosso conhecimento atual sobre a natureza e o ser humano, colocamos cada coisa em seu devido lugar.
Fonte da imagem: Disponível em: http://vectorcontactcenter.com.br/blog/atraia-clientes-com-tecnicas-simples-parte-2/. Acesso em abril de 2019.