O impacto emocional do COVID-19

Por Filipe Modolo – Dpto. de Patologia, UFSC

Por acaso você tem se sentido angustiado ultimamente? Quando você pensa sobre como serão os seus próximos dias, você fica ansioso? Você tem dificuldade para dormir? Quando dorme, não descansa? Passou a sentir medo de coisas que até pouco tempo não te preocupavam? Saiba que você não está sozinho….

Cientistas descobriram que… a pandemia do COVID-19 tem causado um grande impacto psicossocial devido à chamada “coronofobia”, um medo generalizado da COVID-191. Um grupo de pesquisadores das áreas de psiquiatria, neuromedicina e cardiologia da Índia e dos Estados Unidos pesquisou publicações científicas que associavam COVID-19 com saúde mental e descobriu que a associação do medo da doença (coronofobia) com o isolamento imposto pela quarentena obrigatória produziu crises de pânico, ansiedade, comportamentos obsessivos, acumulação de bens materiais sem utilidade específica para doença (como não se lembrar da falta de papel higiênico no início da pandemia?!), paranoia, depressão e estresse pós-traumático. Tudo isso foi mais intenso nas famílias que precisaram ser separadas pela doença… Segundo os cientistas, esses problemas psicossociais podem causar maiores prejuízos (emocionais, sociais, econômicos e etc.) a longo prazo do que a COVID-19 propriamente dita!

Mas, quais seriam os motivos para tudo isso? Diversos fatores podem ser os principais causadores dos problemas emocionais, com destaque para a sensação de estar “contra a parede”, de perder o controle sobre a sua rotina e saúde (literalmente perder o controle da vida), a incerteza sobre o curso e as consequências da doença, as perdas financeiras, a percepção de um aumento progressivo do risco de contaminação, tudo isso multiplicado pelas informações vagas e pelas fake news (para saber mais sobre as fake news na saúde, veja o texto “Dr Youtube, a evolução do Dr. Google”, publicado em 18 de dezembro de 2019 neste Blog).

Novamente as redes sociais exerceram (e continuam exercendo) um papel muito importante nesse quadro de doenças, devido ao seu efeito amplificador (para saber mais sobre o efeito amplificador das redes sociais, veja o texto “A influência das redes sociais em nossa alimentação”, publicado em 16 de junho de 2020 neste Blog) e devido à sensação de reafirmação de diversos sentimentos ruins nos seus usuários, levando à explosões de racismo, estigmatização e xenofobia contra algumas comunidades, com destaque para um sentimento “anti-chinês” pelo mundo.

As pessoas “coronavírus positivo”, ou seja, que foram infectados e manifestaram ou não a COVID-19, incluindo os profissionais da saúde que trabalham diretamente com a doença, correm sério risco de estigmatização, podendo ser entendidos como os novos leprosos*. Estes passaram a temer um possível isolamento, racismo, discriminação e marginalização, com todas as suas ramificações sociais e econômicas. Populações estigmatizadas costumam procurar atendimento de saúde mais tarde e isso pode ser crítico para uma doença grave e com grande taxa de transmissão.

Os pesquisadores concluíram que, depois do COVID-19, o século 21 será a era da “pandemia das doenças mentais” e, portanto, existe uma necessidade urgente do estabelecimento de medidas públicas de prevenção contra uma crise social, além de modelos de intervenção, direcionados para os mais diversos estratos sociais. Muito importante também é o estímulo para a correta utilização dos serviços de internet, tecnologia e redes sociais. Finalmente, diante de um mundo globalizado e com cada vez menos fronteiras, é extremamente necessário que nos preparemos emocionalmente para eventuais futuras pandemias.

*os portadores de Hanseníase (leprosos) sempre foram muito estigmatizados nas idades antiga e média, produto de uma conjunção de fatores como ignorância sobre as causas da doença, impossibilidade de cura, medo de ser infectado, grandes deformidades físicas resultantes, entre outros. Considerava-se que essa doença era um castigo dos deuses pelos pecados cometidos pelo doente e estes sofriam com a extrema desconfiança e grande ódio alimentado contra eles. Durante muito anos o tratamento preconizado foi o isolamento do convívio social. Saiba mais, clique aqui e acesse o artigo: O estigma do pecado: a lepra durante a idade média.

Para saber mais acesse o artigo: 1- Psychosocial impact of COVID-19.

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