Uma assinatura microscópica das cidades: o que as abelhas nos revelam sobre os microrganismos urbanos

Uma assinatura microscópica das cidades: o que as abelhas nos revelam sobre os microrganismos urbanos

Por Fabienne Ferreira – Dpto. de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de metade da população mundial vive atualmente em áreas urbanas, e estima-se que essa proporção aumente para 70% até 2050. Nas cidades, temos uma mistura de muitos seres vivos, como pessoas, animais não humanos e plantas, cada um com suas próprias comunidades de microrganismos. A soma de todas essas comunidades microscópicas (invisíveis aos nossos olhos nus) é chamada microbioma. Essas diferentes formas de vida interagem o tempo todo, tanto entre si quanto com os prédios e ruas que criamos. 

Uma crescente quantidade de evidências científicas nos mostra que a saúde e bem-estar dos seres vivos dependem dessas interações.

Na verdade, o desenvolvimento e a saúde dos seres humanos estão relacionados a uma combinação de características individuais e características dos microrganismos que habitam nosso corpo.

Além disso, foi descoberto que o momento de floração das plantas depende do conjunto de microrganismos no solo, e que compostos metabólicos úteis em plantas medicinais são possivelmente sintetizados em conjunto com suas bactérias parceiras. 

Em um estudo publicado em 2023 na revista científica Environmental Microbiome, cientistas coletaram amostras de colmeias de abelhas nas cidades para entender melhor esses microbiomas. Eles acharam que as colmeias de abelhas são ótimos lugares para estudar esses microrganismos, porque as abelhas voam até cerca de 3 quilômetros todos os dias, interagindo com microrganismos presentes no ar, na água, em animais e plantas (onde se sabe que elas coletam néctar e pólen).  

Quando eles coletaram amostras de colmeias nas cidades de Nova Iorque, Veneza, Sydney, Melbourne e Tóquio, os cientistas descobriram que os diferentes materiais presentes nas colmeias (mel, abelhas mortas, entre outros resíduos) eram cheios de informações sobre os microrganismos da cidade.

Eles descobriram que cada cidade tem seus próprios grupos de microrganismos, como uma “assinatura microbiológica” de cada local. Por exemplo, em Veneza (Itália), as amostras eram predominantemente dominadas por material genético de fungos relacionados à deterioração de madeira, que é uma característica comum dos edifícios construídos em estacas de madeira submersas da cidade. Já as amostras de Tóquio (Japão) incluíam rastros de microrganismos utilizados na fermentação do molho de soja, muito utilizado na culinária japonesa. 

Além disso, em cada material analisado, os cientistas encontraram tanto DNA de microrganismos benéficos para a saúde de humanos e outros animais, quanto microrganismos que poderiam causar doenças. Isso é interessante porque esses seres microscópicos podem afetar como as coisas funcionam nas cidades, e até mesmo como as pessoas ficam doentes. Estas informações podem nos ajudar a detectar possíveis problemas ou soluções para a população. 

Assim, este estudo mostrou que as colmeias de abelhas urbanas nos ajudam a entender melhor este mundo invisível dos microrganismos, e a descobrir coisas importantes para a saúde das cidades e das pessoas. É como se elas fossem pequenos cientistas nos ensinando segredos que não podemos ver com nossos olhos. 

Para saber mais:

Deixe um comentário