Os vírus que combatem o câncer: uma nova esperança na terapia

Os vírus que combatem o câncer: uma nova esperança na terapia

Izabella Thaís da Silva – Departamento de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Você já ouviu falar que os vírus podem ser nossos aliados na luta contra o câncer? Acredite ou não, a pesquisa médica está explorando essa ideia. 

Vamos explicar de uma maneira mais simples.

O efeito antitumoral da infecção viral natural em pacientes com câncer não é nenhuma novidade. Recentemente, por exemplo, foi relatado que um homem de 61 anos, na Inglaterra, com Linfoma de Hodgkin em estágio III (um câncer no sistema linfático) teve remissão da doença após ser infectado pelo novo coronavírus (veja o estudo completo AQUI). 

O mesmo efeito já havia sido constatado pela medicina há mais de um século, porém, somente nos últimos anos, os avanços científicos permitiram a elucidação de como os vírus oncolíticos (ou seja, os vírus capazes de matar as células tumorais) funcionam e interagem com o sistema imunológico. Sabe-se que os vírus naturalmente possuem uma capacidade inata de eliminar células cancerígenas, porém para otimizar o seu potencial oncolítico, são necessárias alterações para melhorar a sua seletividade pelas células cancerígenas e diminuir a sua toxicidade. 

O desenvolvimento da engenharia genética na década de 1990 possibilitou a alteração dos genomas virais e, consequentemente, contribuiu para melhorar a seletividade tumoral e diminuir a toxicidade desses vírus oncolíticos. 

É aí que a Viroterapia entra em cena: ela utiliza as ferramentas biotecnológicas para converter os vírus em agentes terapêuticos permitindo o tratamento de doenças oncológicas. Esses vírus podem matar as células do câncer diretamente ou estimular o sistema imunológico do corpo a combatê-las.

E a boa notícia é que diferentes modelos virais podem ser empregados na viroterapia, como por exemplo o adenovírus, herpesvírus e até mesmo o vírus do sarampo. Além disso, os cientistas estão explorando a combinação de vírus com medicamentos e genes especiais, o que pode tornar o tratamento ainda mais eficaz.

Em outubro de 2015 um Herpesvírus humano do tipo 1 (HSV-1), geneticamente modificado, foi o primeiro vírus oncolítico aprovado pelo órgão regulatório norte-americano (FDA) para o tratamento do melanoma avançado. Comercialmente conhecido como T-VEC (talimogene laherparepvec), ele foi alterado geneticamente para ser altamente seletivo para células tumorais (poupando as células saudáveis) e, ao mesmo tempo, expressar o fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos (GM-CSF) o qual ativa de forma mais efetiva a resposta imune do paciente, favorecendo a eliminação dessas células. Posteriormente, no ano de 2016, o T-VEC foi aprovado na Europa e na Austrália. Veja mais detalhes nesse link e na Figura 1. 


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Figura 1: Como funciona o T-VEC no tratamento e eliminação das células de melanoma? O T-VEC é injetado de forma intratumoral e os vírus oncolíticos começam a se replicar no interior das células tumorais o que as leva a sofrer um processo de morte conhecido por Apoptose. Ao morrerem, essas células liberam GM-CSF o qual vai levar as células tumorais vizinhas também a morte. Ao mesmo tempo, o GM-CSF ativa células dendríticas que são células especializadas do nosso sistema imunológico para posterior ativação de células T CD8+. Esse efeito orquestrado leva a eliminação completa do tumor.  Fonte: Adaptado de Javanbakht et al., (2023) 

Embora haja mais pesquisas a serem realizadas antes que isso se torne um tratamento comum, os resultados até agora são promissores. A viroterapia oferece esperança na busca por tratamentos mais eficazes e menos prejudiciais para outros tipos de câncer, como é o caso do câncer de mama.

Fique atento, pois as descobertas científicas estão avançando rapidamente, e a viroterapia pode ser a chave para vencer diferentes tipos de câncer no futuro!

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