Extra! Extra! Transplante de polpa dental realizado com sucesso em paciente

Por Michelle Tillmann Biz – Departamento de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

A polpa dental é o tecido que se encontra dentro do dente, e é responsável pela sua vitalidade e sensibilidade. Com isso, perder a polpa dental (seja por cárie ou trauma) faz com que o dente perca completamente sua vitalidade e sensibilidade. 

O tratamento atual disponível na Odontologia para dentes já formados que perdem sua polpa dental prevê limpeza e alargamento do espaço que contém a polpa dental (câmara pulpar) e seu preenchimento com um material resinoso. Entretanto, apesar da manutenção do dente na arcada dentária em sua função (o que é ótimo para o paciente!) este mesmo dente não apresentará mais a sensibilidade e a sua vitalidade, ou seja, perde as caraterística de um dente vital. 

Dentro desta perspectiva do reestabelecimento da vitalidade pulpar, muito se tem falado na utilização das células tronco. Alguns trabalhos já demonstraram ser possível a utilização de células tronco de dentes humanos para a revitalização da polpa, mas enfocando principalmente em dentes em formação. Porém são trabalhos que foram realizados em animais, com fragmentos de dentes, sempre deixando a pergunta no ar: seria possível transpor para a clínica diária? Seria possível realizar esta técnica em pacientes alcançando a revitalização da polpa dental?

E se eu te disser que cientistas descobriram que é possível realizar o autotransplante de polpa humana em pacientes com sucesso? Simmmmm! E este relato traz particularidades muito interessantes. Vem comigo para saber mais!

Sobre o paciente: um homem de 44 anos de idade com histórico de lesão periapical em um primeiro pré-molar superior contendo dois canais radiculares, sendo este portador de um tratamento endodôntico (tratamento de canal) prévio. Sim! Aqui se encontra a primeira particularidade: trata-se de um caso de retratamento endodôntico, ou seja, houve um tratamento prévio convencional, que falhou e levou a uma nova infecção.

Sobre o dente: apesar da lesão periapical e da presença de cárie abaixo da restauração, estava assintomático, negativo para o teste de sensibilidade e com saúde dos seus tecidos periodontais. Para melhor entender o tratamento realizado por completo vou dividi-lo em três fases sequenciais.

Fase 1: nesta fase realizou-se a coleta da polpa a ser transplantada. Esta polpa foi oriunda de um terceiro molar do próprio paciente. O dente foi extraído e a polpa removida e levada para laboratório onde foi acondicionada, tratada e mantida até o momento do transplante. Importante ressaltar que as células provenientes dessa polpa (as chamadas células tronco da polpa de dentes, DPCS) foram testadas para todos os marcadores de células tronco, e apresentaram excelente desempenho. 

Fase 2: nesta fase os pesquisadores ocuparam-se de remover o tratamento anterior (restauração, cárie e resina dentro dos canais radiculares) e promover a limpeza dos canais radiculares. Esta limpeza prevê um protocolo de irrigação com solução antimicrobiana e também o uso de medicamentos antibióticos e antifúngicos. Entre sessões de retorno do paciente, testes de microbiologia (PCR) foram realizados para atestar que os canais estavam livres de bactérias e fungos. Esta fase durou aproximadamente cinco semanas. Assim, foi possível dar o próximo passo!

Fase 3: neste momento, o dente estava pronto para receber as células da polpa (DPSC) a serem transplantadas. O transplante foi realizado um mês após o início do tratamento e o paciente foi acompanhado por 1, 4, 12, 24, 48 e 79 semanas após o transplante.

Figura 2 – Tratamento de canal do primeiro molar superior direito. (a) Uma imagem da vista bucal pré-operatória com descoloração, (b) imagem espelhada de vista oclusal da pré-operação com restauração de incrustação de metal, (c) após a remoção da incrustação, (d) após a remoção de cáries, (e) após a formação da antepara e (f) após a preparação da cavidade de acesso para o tratamento. B, bucal; D, distal; M, medial; P, palatino.

Acompanhamento: neste tempo de acompanhamento não foi verificado sinais de toxicidade relacionados com o transplante celular. Uma semana após o transplante o teste de sensibilidade era positivo, o que se manteve pelas próximas semanas, demonstrando um estado de revitalização pulpar. Acompanhamentos com tomografias computadorizadas demonstraram regressão da lesão e reestabelecimento do tecido periapical. Houve a formação de tecido mineralizado na porção apical da raiz. A ressonância magnética do tecido regenerado no dente afetado demonstrou ser comparável à da polpa normal nos dentes adjacentes após 24 semanas. 

Em conclusão, este relato de caso, publicado recentemente na literatura, demonstra a possibilidade de regeneração de tecido pulpar usando terapia regenerativa pulpar com DPSCs autólogas (do próprio paciente). A presente técnica apresentada pode ser útil no campo da endodontia pensando na possibilidade de manter a função pulpar de dentes já formados, incluindo a formação de dentina, prevenindo assim a progressão da inflamação periapical e fratura vertical dos dentes afetados. Mais um passo foi dado!

Para saber mais:

Pulp Regenerative Therapy Using Autologous Dental Pulp Stem Cells in a Mature Tooth with Apical Periodontitis: A Case Report

Deixe um comentário