Reverter o envelhecimento do timo… E renovar as nossas defesas naturais…

Por Hélia Neves                                                                                                                                       Prof. da Faculdade Medicina de Lisboa – Portugal

Para ouvir o áudio do texto com a autora, clique aqui.

Hélia - imagemRuas estreitas e labirínticas, ladeadas por pequenas casas caiadas de branco, com ombreiras coloridas e janelas salpicadas por flores é um dos cenários típicos de muitas das vilas alentejanas Portuguesas. Uma dessas vilas é a vila de Castelo de Vide, localizada a 200km de Lisboa, já perto da fronteira com Espanha. Na minha mais recente visita a esta vila fui na companhia dos meus tios, alentejanos da “gema”. E foi ao subirmos pelas apertadas ruelas em direcção ao castelo, que eles me foram chamando a atenção para um conjunto de detalhes arquitectónicos, como o de algumas casas terem portas ogivais… Símbolos que indicam que num passado, não muito longínquo, aquele lugar era o bairro judeu da vila.

E o que é que têm os símbolos a ver com o tema desta matéria? Na verdade, no nosso dia-a-dia, de forma mais ou menos consciente, somos ensinados a reconhecer e a interpretar símbolos. A simbologia, uma forma de comunicação, é à escala do organismo, também utilizada pelas nossas células, para comunicarem entre si. Uma das formas mais especializada desta comunicação é a capacidade que algumas células, os linfócitos T, têm de reconhecer símbolos que identificam o que é nosso (do “próprio”) do que é estranho ao nosso corpo (quando há, por exemplo, infecções por microorganismos). Os linfócitos T fazem parte dos glóbulos brancos e têm funções de defesa no nosso organismo (fazem parte do sistema imunitário). Os linfócitos T desenvolvem-se num órgão junto ao coração, o timo. No timo, existem células “professoras” especiais (as células epiteliais tímicas) que ensinam os linfócitos T a reconhecer a simbologia do “próprio” (assim como os meus tios me ensinaram a reconhecer os símbolos judeus na vila de Castelo de Vide). A produção de linfócitos T é máxima nos primeiros anos de vida (até aos 3 anos), havendo depois uma perda de mais de 80% desta actividade até à puberdade. Esta peculiaridade faz do timo o órgão que “envelhece” (involui) mais cedo no nosso corpo.

No entanto, uma publicação em Abril deste ano (2014) trouxe uma nova esperança, ao apresentar o trabalho duma equipe de investigadores da Universidade de Edimburgo, que descreve pela primeira vez, a capacidade de rejuvenescer o timo num animal idoso. Neste trabalho, a equipe da Clare Blackburn (professora no departamento de Medicina Regenerativa do Medical Research Council, MRC, no Reino Unido) usou ratinhos (camundongo) geneticamente modificados. Nesses ratinhos, a administração de uma droga leva à reactivação de um mecanismo natural que reduz com a idade. Em concreto, a droga determina que ocorra no timo um aumento da expressão do gene que codifica a proteína Foxn1. Foxn1 é um factor de transcrição que regula a actividade de outros genes nas células epiteliais tímicas (as células “professoras” dos linfócitos T). Após a administração da droga, os ratinhos apresentaram um aumento dos níveis da proteína Foxn1 para valores semelhantes aos encontrados nos timos jovens. Também, os timos dos ratinhos idosos começaram a produzir mais linfócitos T e apresentaram um tamanho e uma estrutura semelhantes aos encontrados nos timos de ratinhos jovens. Para a conclusão deste trabalho, falta ainda provar se o sistema imunitário dos ratinhos idosos foi melhorado, isto é, se os linfócitos T produzidos nestes ratinhos são verdadeiramente capazes nas suas funções de defesa. Também, será necessário fazer mais ensaios no futuro para compreender como “reactivar” em segurança a proteína Foxn1, em timos humanos.

Não obstante, este avanço poderá iniciar novas abordagens de como reforçar o sistema imunológico dos idosos (mais susceptíveis a infecções como a gripe) e abrir caminho para novas terapias para pessoas com sistemas imunológicos suprimidos. Como referiu o Dr. Rob Buckle, responsável pelo departamento de Medicina Regenerativado MRC, “um dos principais objectivos da medicina regenerativa é aproveitar os mecanismos de reparo do nosso corpo manipulando-os de forma controlada para tratar a doença.” E comentando também a grande inovação deste trabalho, “ este estudo sugere que a regeneração de órgãos é possível através da manipulação duma única proteína, o que poderá ter implicações também noutras áreas da biologia regenerativa”.

Para acessar o artigo original, clique aqui.

Convido-vos a visitar Castelo de Vide!

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