Macacos me mordam!!! Mitocôndrias viajam entre células?

Por Giordano Wosgrau Calloni – Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Figura 1– Imagem gerada pela I.A. Gemini

Você já ouviu alguém dizer “macacos me mordam”? Essa expressão divertida ficou famosa no Brasil graças aos desenhos do Popeye, exibidos na TV nas décadas de 1980 e 1990, onde era usada como tradução da frase inglesa “Well, blow me down!” – algo como “Bem, me derrube!”. Muito mais criativo do que um simples “não acredito!”, “macacos me mordam” virou uma forma bem-humorada de mostrar surpresa diante de algo inesperado. E é justamente esse espanto curioso que sinto ao compartilhar com você uma das descobertas mais recentes e fascinantes da ciência sobre as minhas organelas favoritas: as mitocôndrias.

Já tive a oportunidade de explicar em outros artigos meus a origem das mitocôndrias¹. Mas para os recém-chegados ao Blog, um brevíssimo resumo da Teoria Endossimbiótica me parece necessário. Esta teoria explica que as mitocôndrias, organelas presentes em todas as células eucariontes e responsáveis pela maior parte da produção de energia, originaram-se de bactérias. Há cerca de 1,5-2,0 bilhões de anos essas bactérias foram englobadas por células maiores, mas, em vez de serem digeridas, estabeleceram uma relação de simbiose: as bactérias passaram a fornecer energia para a célula, recebendo proteção e nutrientes em troca. Com o tempo, essa parceria evoluiu, transformando essas bactérias nas mitocôndrias que conhecemos hoje, verdadeiras usinas, produzindo ATP, uma das principais fontes de energia celular. E um detalhe importante: estas organelas são, neste momento, completamente dependentes da célula, não são mais organismos próprios, de vida livre, independentes. Mas até que ponto?

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Terapias de substituição mitocondrial: bebês de três Pais?

Por: Giordano W. Calloni – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC

O leitor achou que o título deste texto é provocativo ou no mínimo estranho? Que ótimo, a intenção era justamente esta. Pois saiba, caro leitor, que realmente já temos bebês nascendo com o material genético não apenas do papai e da mamãe como é de praxe, mas com a contribuição de um terceiro “genitor”. Para entendermos o que parece mais uma história saída dos livros e filmes de ficção científica, precisamos voltar a falar delas: as mitocôndrias.

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Bactérias ancestrais poderiam nos proteger do Acidente Vascular Cerebral (AVC)?

Bactérias ancestrais poderiam nos proteger do Acidente Vascular Cerebral (AVC)?

Por: Giordano W. Calloni                                                                                                                    Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC

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Transferência de mitocondrias entre células eucariontes

Em 28 de julho de 2016, um grupo de cientistas dos EUA e da China publicou algo incrível na conceituada revista Nature. Neurônios de camundongos, submetidos à um estresse similar ao que ocorre em pessoas com acidente vascular cerebral (AVC), foram capazes de receber mitocôndrias saudáveis de células vizinhas (chamadas de astrócitos). Incrivelmente, essas mitocôndrias saudáveis passam a fazer parte desses neurônios auxiliando-os a recuperarem-se do estresse causado. Continuar lendo