Por Tiago Góss dos Santos Pesquisador do CIPE no Hospital AC Camargo
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Retardar ou reverter os efeitos do envelhecimento é um sonho da humanidade. Esse sonho está implícito nas místicas histórias da fonte da juventude com sua água mágica e amaldiçoada, ou então, no elixir da longa vida, feito a partir da pedra filosofal dos antigos alquimistas. A busca por substâncias com capacidade regenerativa ou rejuvenescedoras tem sido também alvo da ciência, deixando de lado, claro, todas as soluções mágicas!
Há alguns anos é conhecida a capacidade do sangue de camundongos jovens em recuperar certos problemas apresentados por camundongos mais velhos. Porém, no ano de 2013, um grande passo foi dado por um grupo de cientistas da universidade de Harvard. Eles conseguiram identificar uma proteína (chamada GDF11) com elevada capacidade regenerativa. A GDF11 é abundante no sangue de camundongos jovens (dois meses de idade) e a quantidade dessa proteína vai diminuindo com o passar do tempo, ao ponto de ser quase indetectável em indivíduos mais velhos (15 meses, sendo que a média de tempo de vida desses animais é de 27 meses). Inicialmente esse grupo demonstrou que GDF11 tem a habilidade de reverter um tipo de degeneração que ocorre em um coração senil, a hipertrofia cardíaca. O experimento consistia em unir cirurgicamente a circulação de um camundongo velho, portador de hipertrofia cardíaca, com um camundongo jovem sadio. Esse processo é chamado de parassimbiose e tem sido utilizado desde o século 19 para estudar a influência de fatores sanguíneos no envelhecimento dos tecidos. Os animais parassimbiontes foram mantidos por 4 semanas e, após este período, os animais velhos apresentaram uma reversão quase que completa da hipertrofia cardíaca. Esse experimento evidenciou que fatores presentes no sangue de um animal jovem foram capazes de “rejuvenescer” um tecido cardíaco envelhecido.
Através de estudos de larga escala de proteínas (ou o Proteoma como será abordado no post da próxima semana), foi comparado o repertório de proteínas presentes no sangue de animais jovens e velhos. Entre as 13 proteínas candidatas (um dos critérios utilizados foi abundância em jovens e diminuição nos velhos), foi demonstrado que o GDF11 seria a proteína responsável pela maior parte do efeito rejuvenescedor. Animais velhos, tratados com GDF11 sintético, apresentavam melhorias tão significativas quanto os parassimbiontes. Esse artigo, que demonstrou o GDF11 como sendo uma molécula rejuvenescedora do coração, foi publicado na conceituada revista Cell e gerou uma série de outros artigos. Três deles foram recentemente publicados em revistas do mesmo calibre, Science (2 artigos)e Nature Medicine. Nestes artigos foi demonstrado que o efeito do GDF11 não se restringe apenas ao coração, podendo atuar também no cérebro, incluindo melhorias nas funções cognitivas e também em tecido muscular esquelético.
Evidentemente que estes dados, apesar de extremamente animadores, precisam ser reavaliados em outros modelos e situações experimentais para que os cientistas consigam gerar terapias antienvelhecimento ou para doenças relacionadas a esta situação. Por exemplo, é necessário entender como a expressão de GDF11 é perdida com o passar dos anos e se esse fenômeno pode ser revertido (ou evitado). Também é preciso coletar evidências de que em humanos o GDF11 também pode ter a mesma função como regulador do envelhecimento. Resultados preliminares já mostram que níveis muito baixos de GDF11 são observados em um grupo de pacientes com doenças coronarianas. Muita coisa deverá ser feita, mas frente a evidências tão excitantes é possível que em breve tenhamos boas novidades.
Para saber mais acesse:
Demonstração inicial do GDF11 na hipertrofia cardíaca
GDF11 no sistema nervoso, vascularização e manutenção de células-tronco neurais
Fatores presentes no sangue que revertem disfunções cognitivas.
Excelente artigo, muito interessante!