Metástases tumorais iniciam muito antes do que se imagina

Por Bruno Costa Silva                                                                                                                Pesquisador no Medical College, Cornell University/Nova Iorque – EUA

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Bruno - imagemQuando o assunto é câncer, um ponto é unânime:tratamentos eficazes demandam detecção precoce antes do espalhamento do tumor pelo corpo, processo esse conhecido como metástase. As lesões metastáticas são especialmente complicadas por serem de difícil detecção em sua plenitude, sendo difícil garantir a remoção de todos os focos por meio de cirurgias e/ou quimioterapias. Por ser a principal causa de morte por câncer, estudos sobre os processos envolvidos na formação de metástases são de grande importância.

A maioria dos estudos sobre o câncer está focado em tumores já estabelecidos, especialmente nas células cancerígenas de tumores primários (como melanomas na pele e tumores hepáticos no fígado etc). Apesar de diversos avanços, estudos sobre tumores e seus depósitos metastáticos ainda são escassos. Além disso, esses estudos comumente se concentram na análise de metástases já estabelecidas (assim como os estudos de tumores primários). E se o local de uma metástase pudesse ser identificado antes dela acontecer?

Vindo nesse caminho, cientistas descobriram que os órgãos metastáticos sofrem alterações importantes e mensuráveis muito antes do aparecimento das metástases. No trabalho liderado pelo pesquisador americano David Lyden (Weill Cornell Medical College, em Nova Iorque), publicado em 2005 na revista Nature, observou-se que, ao contrário do que comumente se acredita, os órgãos de um indivíduo com tumor que não desenvolverá metástases são muito diferentes dos órgão de outro indivíduo com tumor que apresente potencial metastásico.

Observou-se em camundongos com tumores que células não tumorais oriundas da medula óssea chegam aos futuros tecidos metastáticos antes mesmo das metástases, constituindo o que se denominou de “sítio pré-metastático”. Essas células, pelo menos neste estudo, formaram novos vasos sanguíneos nos sítios pré-metastáticos, contribuindo ao “suporte alimentar” necessário para o crescimento de futuras metástases. Paralelamente, estudos em camundongo mostraram que a injeção de produtos secretados por células tumorais (sem injetar os tumores em si) induz o desenvolvimento dos mesmos sítios pré- metastáticos. Isso seria como se os tais tumores enviassem sinais para os futuros órgãos metastáticos, informando que eles deverão se remodelar para “acomodar” as células tumorais da futura metástase.

Além disso, os investigadores conseguiram promover a formação de metástases de tumores menos metastáticos (como tumores de pulmão), ao induzirem novos sítios pré-metastáticos. Para tal, camundongos foram injetados com os produtos secretados por tumores mais metastáticos (como melanomas) que em seguida foram inoculados com tumores menos metastáticos (como tumores de pulmão). Esses animais, além do tumor no pulmão (que em situações normais só formam metástases nos próprios pulmões), passaram a desenvolver metástases em sítios típicos para melanomas, espalhando-se para intestino, rins e ovidutos. Isso sugeriu que os tais sítios pré-metastáticos são não apenas favoráveis, mas também determinantes para o desenvolvimento de futuras metástases.

Além de caracterizar as proteínas presentes nos produtos indutores de metástases, este estudo demonstrou que é possível bloquear a formação dos sítios pré-metastáticos e de metástases pelo uso de drogas dirigidas às tais células da medula óssea geradoras de vasos sanguíneos. Ambos os casos representam grandes oportunidades para o aprimoramento de métodos de diagnóstico precoce (como exames de sangue, patológicos e de imagem capazes de detectar sítios pré-metastáticos) e para o desenvolvimento de terapias com potencial de neutralizar as metástases.

Nos próximos CDQ falaremos mais dos próximos capítulos dessa história, falando da evolução na compreensão dos sítios pré-metastáticos, de 2005 pra cá, e das repercussões clínicas desta descoberta já observadas em pacientes.

Para saber mais acesse os artigos originais, clique aqui e aqui.

4 comentários sobre “Metástases tumorais iniciam muito antes do que se imagina

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