Prêmio Nobel 2015: medicina, física e química

Cientistas descobriram que… preparou um post especial para nossos leitores. Reunimos três pesquisadores das áreas de Biologia/Biomedicina, Física e Química para explicar as grandes descobertas que renderam o prêmio Nobel de Medicina, Física e Química de 2015. O prêmio Nobel é o reconhecimento mais importante que um cientista pode receber. Aproveitem!

2015 Nobel

Prêmio Nobel Medicina / Fisiologia

Por Ricardo Castilho Garcez                                                                                         Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC

O caráter político do prêmio Nobel de Medicina de 2015 chamou a atenção do mundo inteiro. O irlandês William Campbell (85 anos) e o japonês Satoshi Omura (80 anos) dividiram 50% do prêmio, pela descoberta da avermectina (ivermectina derivado comercializado atualmente), uma droga derivada de bactérias do solo, muito potente no combate de verminoses causada por nematoides (vermes cilíndricos). Os outros 50% do prêmio foi para a chinesa Tu Youyou (84 anos). Esta pesquisadora, após estudar mais de 2000 plantas utilizadas na medicina tradicional chinesa, isolou a artemisinina, um principio ativo capaz de matar o Plasmodium sp, um protozoário unicelular causador da malária (também chamado de paludismo). Curiosamente, a pesquisadora chinesa só teve o reconhecimento pela sua descoberta em seu próprio país, mais de 20 anos depois. Questionada sobre essa injustiça, ela responde: meu trabalho salvou vidas, esse é o maior reconhecimento que poderia querer!

Criança e sua mãe numa unidade pediátrica no hospital de Bangui, África Central

Criança com malária e sua mãe numa unidade pediátrica no hospital de Bangui, África Central

Tanto as veminoses causadas por namatoides, quanto a malária são doenças predominantemente de países pobres, atingindo populações que normalmente vivem em condições precárias, as quais não despertam muito interesse das grandes companhias farmacêuticas (simplesmente pelo fato de não terem dinheiro para pagar pelos medicamentos). Juntos, esses medicamentos já salvaram a vida de milhões de pessoas, mas poderia salvar ainda mais! Estima-se que na África, 90% das mortes de crianças sejam devido a malária, isso ainda ocorre pois a grande maioria da população, por falta de recursos, não tem acesso a estes medicamentos. Atualmente, a Merk, gigante farmacêutica detentora de uma das patentes, concordou em doar a ivermectina para as regiões mais atingidas.

O Comitê do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia envia uma clara mensagem aos governos e pesquisadores do mundo inteiro. As políticas de investimento em pesquisa devem focar na saúde, não no lucro com a vida humana.

Prêmio Nobel Física: Os neutrinos camaleões

Por Paula Borges Monteiro                                                                                                        Grupo de estudos de Física Teórica – IFSC

2015 - Nobel FisicaO prêmio Nobel de Física de 2015 foi dedicado a uma descoberta na área de Física de Partículas ou Física de Altas Energias. Esse é o ramo da Física que estuda os componentes elementares da radiação e da matéria e suas interações. Os premiados foram o canadense Arthur B. McDonald (72 anos) e o japonês Takaaki Kajita (56 anos) pela descoberta da metamorfose dos neutrinos, indicando que estas partículas têm massa.

O neutrino é uma partícula sem carga elétrica, com massa centenas de vezes menor que a do elétron e que interage muito fracamente com a matéria, tornando sua detecção uma árdua tarefa. Sua existência foi proposta em 1930 pelo físico Wolfgang Pauli e somente foi detectada em 1956. Há três tipos de neutrinos: o neutrino-elétron, o neutrino-múon e o neutrino-tau.

O grupo de pesquisa liderado por McDonald estudou os neutrinos criados em reações entre raios cósmicos e a atmosfera da Terra, enquanto o grupo de Takaaki estudou os neutrinos gerados pelo Sol. O resultados de suas pesquisas foram apresentados em 1998 e 2001, respectivamente. Eles conseguiram demonstrar que o neutrino pode mudar de identidade durante a sua propagação, alternando entre um neutrino-elétron, múon ou tau.

Um dos enigmas resolvidos pela metamorfose dos neutrinos é que o cálculo dos neutrinos produzidos pelo Sol, o neutrino-elétron, não batia com o respectivo número de neutrinos que chegavam à Terra, sempre chegava um número menor. Com o fenômeno da oscilação da identidade do neutrino, a explicação é que os neutrinos que oscilaram para neutrino-tau e neutrino-múon durante a trajetória não entravam na conta. Outra conclusão é a de que os neutrinos possuem massa, já que eles podem apresentar-se como diferentes partículas.

Para saber um pouco mais acesse (conteúdo disponível apenas em inglês).

Prêmio Nobel Química: correção do DNA contra o câncer

Por Giordano Wosgrau Calloni                                                                                        Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC

Segundo estimativas, cerca de um quinto dos seres humanos irá morrer de câncer. Este número lhe parece elevado? Saiba que poderia ser muito maior, na verdade toda a espécie humana poderia perecer de câncer. A própria existência da Vida talvez fosse impossível se não fossem pelos chamados “Mecanismos de Reparo do DNA”. Todos os dias, milhares de células do nosso corpo estão se multiplicando de acordo com a instruções contidas em nosso DNA. Durante este complexo processo, muitos erros ocorrem. Caso não existissem mecanismos que reconhecessem e reparassem estes erros, provavelmente a vida sequer existiria e caso existisse provavelmente não seria na forma que conhecemos.

Foi a elucidação destes mecanismos de reparo do DNA, estudados desde 1970, que garantiram o prêmio Nobel de Química em 2015 a três pesquisadores: Tomas Lindahl (do Instituto Francis Crick na Inglaterra) que descobriu que o DNA não é uma molécula tão instável quanto se pensava, Paul Modrich (do Howard Hughes Medical Institute na Universidade de Duke, Estados Unidos) que descreveu como uma célula pode remover e substituir uma parte do DNA que foi corrompida e Aziz Sancar (da Universidade da Carolina do Norte, também Estados Unidos) que descobriu quais proteínas eram responsáveis por “remendar” o DNA após um dano. É muito importante salientar que estas descobertas da ciência básica tem permitido o desenvolvimento de novos fármacos e metodologias vislumbrando a cura de doenças como o câncer.

Nos links abaixo, você pode escutar a reação de alguns dos ganhadores ao saberem da novidade:

Um comentário sobre “Prêmio Nobel 2015: medicina, física e química

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