Por Bruno Costa da Silva Pesquisador do Medical College, Cornell University/Nova Iorque – EUA
Como já mencionado em outros textos no CDQ, como no texto “Abaixo à corrupção tumoral”, de 30 de outubro de 2013, uma linha no campo de pesquisa sobre o câncer que vem ganhando força nos últimos vinte anos considera que células tumorais não atuam isoladamente. Nesta visão, para o progresso de tumores, processo que envolve crescimento, invasão e disseminação de células tumorais para órgãos distantes (ou mais tecnicamente “metástases”), é necessária a participação de células não tumorais que residem nos arredores do foco de células cancerígenas.
Dentre estas células auxiliares destacam-se os fibroblastos, células que em situações normais possuem papel importante em processos fisiológicos como o de cicatrização, mas que em alguns casos de tumores podem atuar como auxiliares para o progresso desta doença. Assim como em casos de cicatrização, aonde desempenham um papel importante na reorganização do tecido lesionado de forma a restaurá-lo estruturalmente, os fibroblastos podem atuar modificando as áreas que circundam os tumores (dentre outros, criando ou desmontando “trilhos” de proteínas que podem ser utilizados pelos tumores em seu processo de invasão) de forma a permitir a disseminação destas células tumorais. É importante enfatizar que a disseminação local de tumores é um passo importante para o agravamento desta doença, já que é necessário para os passos seguintes de entrada na corrente sanguínea, invasão de órgãos distantes e formação de metástases.
Em um trabalho recente, publicado em agosto de 2105 na revista científica EMBO reports, cientistas descobriram que o perfil pró ou antitumoral destes fibroblastos pode ser influenciado pelo seu grau de oxigenação. Descobriu-se que, quando em baixos níveis de oxigênio, situação tecnicamente chamada de “hipóxia”, fibroblastos apresentam-se “desativados” e com uma menor capacidade de modificar áreas ao redor do tumor. Em consequência, viu-se que os tumores rodeados por estes fibroblastos asfixiados apresentavam menor capacidade de invasão local.
Buscando compreender este processo em mais detalhes, com o objetivo de tentar desenvolver um potencial novo tratamento para pacientes oncológicos, descobriu-se ainda que o que liga a hipóxia à desativação dos fibroblastos é a inibição de uma proteína chamada Prolil-2-hidroxilase, ou P2H. Esta descoberta representa uma grande oportunidade para uma potencial intervenção terapêutica sobre tumores, já que drogas conhecidas, como a dimetiloxalil glicina, ou DMOG, têm a capacidade de inibir P2H e criar um efeito similar ao de hipóxia.
Para avaliar o uso potencial dessa descoberta no tratamento de pacientes com tumores, camundongos foram inoculados com tumores de mama que possuem a capacidade de formar metástases em pulmões e no fígado. Viu-se que, apesar de não influenciar o crescimento dos tumores, a injeção intratumoral frequente de DMOG resultou na desativação dos fibroblastos adjacentes e em uma diminuição significativa na formação de metástases distantes. Este resultado é bastante animador, visto que a principal causa de mortes por tumores é a formação de metástases.
Em conjunto com outros trabalhos que já vinham sugerindo a modulação de hipóxia em focos tumorais como potencial estratégia para o tratamento de pacientes com câncer, este estudo deverá estimular pesquisas mais detalhadas, envolvendo o teste desta estratégia em outros tipos tumorais além de tumores de mama, assim como em tumores humanos e a avaliação da segurança e eficácia do uso de inibidores de P2H e outros indutores de hipóxia em pacientes.
OI Bruno! Acho super interessante essa área de pesquisa de hipóxia em câncer…mas vale lembrar o contraponto, em que alguns clones metastáticos evoluem justamente nas condições de hipóxia 🙂 Grande abraço
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