Câncer ou Cânceres?

Por Bruno Costa da Silva                                                                                                 Pesquisador do Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa – Portugal

Bruno CS - imagemApesar de podermos dizer que significantes batalhas estão lentamente sendo vencidas na longa e acirrada guerra contra o câncer, especialmente por aprimoramentos na detecção precoce deste tipo de doença, ainda há muitos itens em branco a serem preenchidos na descrição do perfil do inimigo.

Primeiramente, um dos grandes desafios é que, como em muitas das guerras longas e sangrentas, especialmente as que se dirigem a rivais pouco definidos como “o terror” e “as drogas”, a guerra contra o câncer não diz respeito a apenas um inimigo. Certamente, se assim fosse, já teríamos vencido o câncer há algum tempo. O aparecimento da “doença câncer” em diversos órgãos, implica em desenhos estratégicos muitas vezes diferentes para cada órgão. Tem se descoberto que para um câncer que aparece em um mesmo órgão, pode haver diversos subtipos de doenças. Isso significa que uma droga utilizada para cânceres, que se desenvolvem em certo órgão, pode acabar funcionando apenas para uma fração dos pacientes tratados.

Seguindo esta ideia de diferenciar os perfis dos inimigos que possuem predileção por habitar uma mesma faixa de território (no caso o órgão), um grupo de mais de 100 cientistas liderados pelo Dr. Sean Grimmond da Universidade de Queensland na Austrália demonstrou, em um trabalho pré-publicado em 24 de fevereiro de 2016 na revista inglesa Nature, que cânceres que acometem o pâncreas podem ser na verdade de quatro tipos diferentes.

A partir do estudo dos tumores pancreáticos de 456 pacientes, em que se buscou fazer uma análise detalhada de alterações recorrentes do (ou no) genoma esses tumores, verificou-se que, baseado em 32 tipos comuns de alterações genéticas, foi possível dividir os tumores em quatro grandes grupos: os “escamosos”, os “progenitores pancreáticos”, os “imunogênicos” e os “endócrinos exócrinos aberrantemente diferenciados” ou simplesmente “ADEX”. Dentre esses tipos, os escamosos parecem ser os mais agressivos, 95% dos pacientes diagnosticados com tumores de pâncreas não sobreviverem mais do que cinco anos após o aparecimento dos primeiros sintomas.

Um aspecto interessante deste estudo foi observar que o perfil de alterações genéticas de, por exemplo, tumores escamosos se assemelham muito com os observados em alguns tipos de tumores de mama, bexiga e de pulmão. Isso significa que, em termos de escolha de medicamentos para o tratamento de cânceres de pâncreas, a melhor opção poderá, eventualmente, ser encontrada em drogas nunca antes utilizadas neste tipo de câncer. Além disso, visto o descobrimento de alterações genéticas nunca antes associadas a cânceres de pâncreas, abre-se a possibilidade para o desenvolvimento de drogas mais eficientes e para o tratamento dessas doenças.

Seguindo a mesma lógica, de que mais importante do que o órgão onde está o câncer é o perfil genético e as consequentes repercussões no comportamento das células tumorais, já estão sendo realizados testes, em alguns grandes centros de referência para o tratamento de cânceres, que tomam como base não apenas o local da lesão, mas especialmente o perfil específico do câncer em questão (o que tem se chamado de medicina personalizada). Para mais detalhes desta novidade fique de olho no Cientistas descobriram que.

Para acessar o artigo original, clique aqui.

Crédito das imagens:

 

Deixe um comentário