Autofagia e esmalte dos dentes: Defeitos podem ser causados por estresse nutricional no ameloblastos

Por  Michelle T. Biz. Dpto. de Ciências Morfológicas, UFSC

Recentemente, Cientistas Descobriram Que a ausência de autofagia pode levar à condição de amelogênese imperfeita. Mas o que é autofagia?

A autofagia é o processo fisiológico básico responsável por eliminar da célula possíveis proteínas ou componentes celulares danificados ou desnecessários. Também é um mecanismo da célula para prover nutrientes em momentos em que estiver passando por condições de provação ou estresse, funcionando como um mecanismo de sobrevivência celular.

Mas como a autofagia pode ter relação com alterações no esmalte?

Pois bem, aqui precisamos lembrar que o esmalte é um tecido derivado de células epiteliais (os ameloblastos), ou seja, é perfeitamente compreensível que a condição de alteração na autofagia em tecidos derivados do epitélio afete também o esmalte dentário.

E de fato, ao realizarem imagens de microtomografia computadorizada em camundongos com deficiência de autofagia, foi confirmada uma redução significativa da densidade e da espessura do esmalte. Em nível celular, observaram que a diferenciação de ameloblastos também estava comprometida. Esta diferenciação afeta enormemente a secreção da matriz de esmalte na sua qualidade e quantidade, o que pode estar colaborando também para a amelogênese imperfeita.

Ok. Já entendemos que a deficiência de autofagia pode estar interferindo na quantidade e qualidade da matriz de esmalte, certo? Mas como isso ocorre? Essa foi a pergunta que os cientistas se fizeram. E para responder, buscaram os mecanismos que controlam a autofagia.

Estudos recentes têm demonstrado que a autofagia é regulada pela sinalização de NRF2 (fator nuclear eritroide relacionado 2), e ao investigarem encontraram um acúmulo anormal de NRF2. O NRF2 é uma proteína celular que exerce atividade na ativação de genes, no sentido de proteger a célula em situações de estresse. Neste caso, genes relacionados à autofagia.

Os genes a serem ativados pelo NRF2 atuam como citoprotetores, ajudando a célula na sua sobrevida e necessidades básicas. Quando o NRF2 é ativado (na presença de estresse, por exemplo), ele encaminha-se para o núcleo celular e realiza a ativação de genes específicos para uma resposta de defesa.

Assim, a célula irá transitar entre a ativação e a desativação do NRF2 para controlar estes fatores adversos e proteger-se contra danos, promovendo sua sobrevivência. Como vimos anteriormente, os ameloblastos são células sensíveis às mudanças ambientais. Além disso, estudos têm demonstrado que há uma maior prevalência de alterações em esmalte quando há deficiências vitamínicas e nutricionais.

No caso dos animais neste estudo, os autores verificaram que há um acúmulo ectópico de NFR2 (ou seja, há NFR2, porém em localização inadequada), e, ainda, os genes relacionados com amelogênese e que estão na via de ativação de NRF2 (Bcl11b, Dlx3, Klk4 e Nectin1) encontraram-se inibidos nestes animais. Sabe-se pela literatura que estes genes quando inativos/inibidos provocarão uma falha na diferenciação de ameloblastos e na produção do esmalte.

Em conclusão, este estudo mostra que a autofagia desempenha um papel crucial no desenvolvimento de ameloblastos e do esmalte dentário, sendo que a perda da autofagia pode levar à condição de amelogênese imperfeita.

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