Células reprogramadas pelo confinamento espacial podem promover o rejuvenescimento e a regeneração da pele

Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas, Fiocruz Curitiba – Paraná 

Um estudo recente, realizado no maior instituto de pesquisa em ciências naturais e de engenharia da Suíça (PSI – Instituto Federal de Tecnologia de Zurique), demonstrou que células envelhecidas, reprogramadas por meio de um estímulo mecânico para se comportarem como células-tronco, são capazes de melhorar a cicatrização de feridas.

O estudo, desenvolvido por cientistas do PSI, foi publicado no final de 2023 pela revista acadêmica Aging Cell. Porém, o grupo de cientistas já havia demonstrado no passado a possibilidade de transformar células somáticas maduras em células jovens por meio de estímulos mecânicos relativamente simples. Neste trabalho, os cientistas usaram fibroblastos da pele humana, células que têm como função a síntese de proteínas do tecido conjuntivo, como o colágeno e a elastina.

O método utilizado para reprogramar estes fibroblastos consistiu em cultivar as células sobre um substrato de fibronectina, uma proteína à qual as células se aderem. A malha de fibronectina fornece espaço para os fibroblastos se multiplicarem, distribuindo-se ao longo deste substrato. Porém, ao restringir a malha de fibronectina a um pequeno compartimento, os fibroblastos são forçados a se espalhar na terceira dimensão, ou seja, para cima como mostrado na figura. Consequentemente, os fibroblastos sofrem uma reprogramação transformando-se em células semelhantes a células-tronco quando crescem nestas condições espacialmente confinadas.

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Podemos ganhar resiliência ao Alzheimer!?

Por Rita Zilhão – Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (ULisboa)

A doença de Alzheimer (AD) é a forma mais comum de demência, afetando 47 milhões de indivíduos em todo o mundo. Por esta razão, urge identificar fatores de risco e avançar na identificação de fatores e componentes que possam reduzir a incidência do AD. 

O diagnóstico final inclui a detecção de características neuropatológicas clássicas da AD, como as designadas placas de beta amiloide (Aβ) e a agregação desordenada da proteína Tau fosforilada (pTau) em determinadas zonas do cérebro. 

Recentemente verificou-se que alguns indivíduos mostram uma discrepância entre a cognição e a quantidade de alterações neuropatológicas, indicando que estas alterações em si podem não ser suficientes para explicar o declínio cognitivo. Por outras palavras, algumas pessoas apresentam alterações compatíveis com o Alzheimer, não tendo, no entanto, nenhum sintoma da doença … quase como se os seus cérebros fossem mais resistentes a esta patologia neurodegenerativa. A compreensão dos mecanismos moleculares e celulares subjacentes a este fenômeno que se designou de “resiliência”, ainda é mal compreendida. A fim de elucidar melhor como indivíduos resilientes podem permanecer cognitivamente intactos, e quem sabe no futuro descobrir novas vias terapêuticas, um grupo de cientistas na Holanda selecionou numa coleção cerebral do Banco de Cérebros*, um conjunto de:

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A rinite alérgica pode ser agravada pela presença de uma bactéria no nariz

Por Fabienne Ferreira – Departamento de Microbiologia – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Você é uma das pessoas que sofrem com rinite alérgica? Apresenta sintomas como espirros, coceira no nariz, nariz escorrendo e obstrução nasal (o famoso nariz entupido) ao entrar em contato com pólen, ácaros, poeira, pelos de animais, fungos (mofo), entre outros? Se este é o seu caso, você faz parte dos 10-30% dos adultos que, de acordo com uma pesquisa recente, sofrem, em diversos países do mundo, de rinite alérgica. 

Apesar de haver tratamento para esta condição clínica, ainda não há uma cura definitiva. Além disso, os mecanismos exatos pelos quais a rinite alérgica se estabelece não são completamente compreendidos. Neste texto, são apresentados novos dados da ciência sobre este assunto, que estão ajudando na pesquisa de novos tratamentos e até de uma possível cura.

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Você ouve sua voz interior? Explorando as consequências comportamentais da anendofasia 

Por Vanessa Shigunov (Psicóloga) e Patrícia Shigunov (FIOCRUZ)

A anendofasia é um fenômeno psicológico caracterizado pela ausência de um monólogo interno ou fala interior, que é a capacidade de “ouvir” pensamentos verbais na mente. Enquanto muitas pessoas experimentam uma forma contínua de diálogo interno que ajuda na organização de ideias, na tomada de decisões e na reflexão sobre experiências, indivíduos com anendofasia não possuem essa narrativa interna verbalizada. Em vez disso, seus processos de pensamento podem ocorrer de maneira não verbal, utilizando imagens visuais, sensações ou outras formas de cognição. Cientistas descobriram que a variabilidade na fala interna das pessoas possui consequências comportamentais e em tarefas cognitivas.

Pesquisadores da Dinamarca e dos Estados Unidos estudaram as diferenças entre pessoas com graus distintos de fala interna em relação aos processos da memória operacional verbal. Eles acreditavam que lembrar de palavras seria mais difícil para as pessoas sem voz interna, pois elas não utilizam o exercício de repetir para si mesmas o que precisam memorizar. Por outro lado, aquelas que possuem voz interior mais ativa reforçariam a informação que precisam reter por meio desse diálogo interno. Essa hipótese foi confirmada pela pesquisa, demonstrando que a presença de uma voz interna facilita a memorização de palavras.

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