Por Rita Zilhão – Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (ULisboa)
A doença de Alzheimer (AD) é a forma mais comum de demência, afetando 47 milhões de indivíduos em todo o mundo. Por esta razão, urge identificar fatores de risco e avançar na identificação de fatores e componentes que possam reduzir a incidência do AD.
O diagnóstico final inclui a detecção de características neuropatológicas clássicas da AD, como as designadas placas de beta amiloide (Aβ) e a agregação desordenada da proteína Tau fosforilada (pTau) em determinadas zonas do cérebro.
Recentemente verificou-se que alguns indivíduos mostram uma discrepância entre a cognição e a quantidade de alterações neuropatológicas, indicando que estas alterações em si podem não ser suficientes para explicar o declínio cognitivo. Por outras palavras, algumas pessoas apresentam alterações compatíveis com o Alzheimer, não tendo, no entanto, nenhum sintoma da doença … quase como se os seus cérebros fossem mais resistentes a esta patologia neurodegenerativa. A compreensão dos mecanismos moleculares e celulares subjacentes a este fenômeno que se designou de “resiliência”, ainda é mal compreendida. A fim de elucidar melhor como indivíduos resilientes podem permanecer cognitivamente intactos, e quem sabe no futuro descobrir novas vias terapêuticas, um grupo de cientistas na Holanda selecionou numa coleção cerebral do Banco de Cérebros*, um conjunto de:
1) pacientes com AD cognitiva e patologicamente bem caracterizados;
2) indivíduos com cognição intacta e quantidades significativas da neuropatologia AD (resilientes);
3) controles de indivíduos saudáveis agrupados por idade.
Investigaram mudanças globais na expressão gênica no giro frontal (importante para funções executivas, como a memória e a flexibilidade cognitiva, ambas prejudicadas na AD) e verificaram que 897 genes foram significativamente alterados entre AD e controle, 1121 entre resilientes e o controle, e 6 entre resilientes e AD.
Após extraírem o RNA dessas amostras, procederam a uma análise bioinformática utilizando diferentes algoritmos. Ao agruparem os genes por classes funcionais detetaram (detectaram, em português brasileiro) que determinados conjuntos de genes estavam mais associados à resiliência vs demência, sendo coletivamente responsáveis por processos que podem ajudar a manter a homeostasia (equilíbrio) celular, e apoiando a hipótese de que a saúde celular é mantida melhor em indivíduos resilientes, apesar da presença de patologia da AD.
Globalmente os Cientistas Descobriram Que os cérebros das pessoas resilientes parecem ter melhor capacidade de eliminar proteínas tóxicas associadas ao desenvolvimento do Alzheimer e de produzir energia mais eficientemente nas células, podendo manter a cognição apesar da presença de sinais da patologia. Parece que mais uma vez tanto a genética quanto o estilo de vida, podem estar na origem de diferentes manifestações patológicas, neste caso cérebros “mais resistentes” ao Alzheimer.
Numerosos trabalhos feitos na área da nutrição e de controlo (controle, em português brasileiro) da microbiota têm realçado o papel dos fatores ambientais na AD esporádica. Em diferentes estudos observou-se que a administração de probióticos, com efeito antioxidante e que aumentam a riqueza de espécies bacteriana na microbiota intestinal, reduziram os marcadores inflamatórios e melhoraram o funcionamento cognitivo em modelos animais de AD. A associação de dados obtidos em cérebros resilientes, com as observações feitas relativamente ao eixo microbiota-intestino-cérebro serão interessantes para entender alguns dos fundamentos das formas resilientes de Alzheimer.

*Banco de cérebros – unidade que coleciona tecido cerebral, por doação, de cérebros de doentes com diferentes doenças neurodegenerativas e neurológicas, mas também de dadores sãos. Estas amostras estão disponíveis para estudos de investigação devidamente autorizados em qualquer parte do mundo O objetivo é compreender melhor o cérebro humano e desenvolver terapias para doenças do foro neurológico e psiquiátrico
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