Temos de falar sobre a pandemia… da resistência aos antibióticos

por Rita Zilhão, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

A resistência a agentes antimicrobianos (antimicrobial resistance – AMR) continua na sombra, apesar de ser a principal causa de morte no mundo e com um peso superior nos países de poucos recursos económicos. A piorar este cenário está o facto de que a medicina moderna, incluindo cirurgias, quimioterapia, transplantes de órgãos e outros procedimentos invasivos requerem antibióticos eficazes. As infeções incuráveis reduzem o valor destes procedimentos e, assim, reduzem o seu valor para os pacientes.

No sentido de perceber como se pode minorar este problema de saúde pública, que começa a ser um flagelo, têm sido feitas várias tentativas para estimar o fardo global da AMR e as suas causas, e identificar as zonas geográficas com maior prevalência. Estas avaliações visam implementar programas de prevenção e controlo de infeções, e influenciar os políticos na tomada de decisões bem informadas para investirem na resolução deste problema ou pelo menos no abrandamento da sua extensão.

No sentido de perceber como se pode minorar este problema de saúde pública, que começa a ser um flagelo, têm sido feitas várias tentativas para estimar o fardo global da AMR e as suas causas, e identificar as zonas geográficas com maior prevalência. Estas avaliações visam implementar programas de prevenção e controlo de infeções, e influenciar os políticos na tomada de decisões bem informadas para investirem na resolução deste problema ou pelo menos no abrandamento da sua extensão.

Entre as várias conclusões a que se tem chegado, há um denominador comum: os doentes com estadias hospitalares mais longas são mais propensos a ter agentes patogénicos AMR do que aqueles com estadias mais curtas. Contudo, ficam pendentes as questões: será a AMR que causa estas estadias hospitalares mais longas ou é porque os doentes que ficam mais tempo internados contraem infeções bacterianas AMR? Como se pode distinguir entre doentes que morreram com agentes patogénicos resistentes (sem que seja a causa direta), daqueles que morreram de agentes patogénicos resistentes (como causa direta)? 

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A Guerra dos Tronos. Quem é esse tal Homem Dragão?

Por Paulo César Simões-Lopes, Dpto de Ecologia e Zoologia, UFSC

Nos vemos como uma espécie apartada do todo, o apogeu da evolução, o pináculo. É uma ideia colorida, mas é também uma fantasia tola a qual estamos apegados. Com quem partilhamos o trono de nossa longa linhagem evolutiva? Quem é nossa espécie irmã? Aquela com a qual temos um ancestral comum?

Esqueleto Neandertal

O mais nobre e conhecido de nossos parentes imediatos, o neandertal, reinou livre e desimpedido, por anos, ocupando o lugar de honra ao nosso lado. Aí estava nossa espécie irmã, um tanto robusta para nossos padrões soft: narizes largos, ossos pesados, supercílios proeminentes, pernas arqueadas. Então, lá por 2008, descobriu-se os denisovanos. Um novo pretendente ao trono? Uma variação asiática do neandertal? Fica a dúvida…

Agora voltemos quase cem anos para encenar uma nova peça em três atos. 

Crânio do Homo erectus 

Ato número 1: em 1933, durante a construção de uma ponte no Rio Songhua, no nordeste da China, um trabalhador comum recuperou um crânio bastante completo, mas vivia-se a invasão japonesa na Manchúria e o seu descobridor resolveu escondê-lo longe dos olhos do odioso invasor. O que levou este homem a ver ali uma preciosidade permanece um mistério, mas anos antes se havia anunciado, com toda pompa, a descoberta do tal homem de Pequim (Homo erectus).

Ato número 2: vem a Segunda Guerra Mundial e o sanguinário extermínio do povo chinês pelo Império japonês. A China é destroçada de ponta a ponta. Depois, tomou fôlego o movimento comunista de Mao, a revolução cultural e, por fim, a China partiu da pré-história para o mundo moderno num salto veloz.

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