Temos de falar sobre a pandemia… da resistência aos antibióticos

por Rita Zilhão, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

A resistência a agentes antimicrobianos (antimicrobial resistance – AMR) continua na sombra, apesar de ser a principal causa de morte no mundo e com um peso superior nos países de poucos recursos económicos. A piorar este cenário está o facto de que a medicina moderna, incluindo cirurgias, quimioterapia, transplantes de órgãos e outros procedimentos invasivos requerem antibióticos eficazes. As infeções incuráveis reduzem o valor destes procedimentos e, assim, reduzem o seu valor para os pacientes.

No sentido de perceber como se pode minorar este problema de saúde pública, que começa a ser um flagelo, têm sido feitas várias tentativas para estimar o fardo global da AMR e as suas causas, e identificar as zonas geográficas com maior prevalência. Estas avaliações visam implementar programas de prevenção e controlo de infeções, e influenciar os políticos na tomada de decisões bem informadas para investirem na resolução deste problema ou pelo menos no abrandamento da sua extensão.

No sentido de perceber como se pode minorar este problema de saúde pública, que começa a ser um flagelo, têm sido feitas várias tentativas para estimar o fardo global da AMR e as suas causas, e identificar as zonas geográficas com maior prevalência. Estas avaliações visam implementar programas de prevenção e controlo de infeções, e influenciar os políticos na tomada de decisões bem informadas para investirem na resolução deste problema ou pelo menos no abrandamento da sua extensão.

Entre as várias conclusões a que se tem chegado, há um denominador comum: os doentes com estadias hospitalares mais longas são mais propensos a ter agentes patogénicos AMR do que aqueles com estadias mais curtas. Contudo, ficam pendentes as questões: será a AMR que causa estas estadias hospitalares mais longas ou é porque os doentes que ficam mais tempo internados contraem infeções bacterianas AMR? Como se pode distinguir entre doentes que morreram com agentes patogénicos resistentes (sem que seja a causa direta), daqueles que morreram de agentes patogénicos resistentes (como causa direta)? 

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Antivitaminas: uma nova estratégia no combate a bactérias resistentes a antibióticos?

Por Rita Zilhão, Faculdade de Ciências de Lisboa, Portugal

Provavelmente, o tema da resistência bacteriana aos antibióticos já foi diversas vezes abordado neste blog. Mas nunca é demais insistir, pois estas superbactérias continuam a ser uma ameaça real em saúde pública.

Tradicionalmente as infecções bacterianas combatem-se com a administração de antibióticos que atuam sobre alvos bacterianos específicos como os ribossomos ou parede celular que, de uma forma genérica, permitem a eliminação das bactérias. Estas estruturas celulares formam-se de acordo com as instruções (expressão dos genes) contidas no DNA cromossômico (genoma) da bactéria. As bactérias na sua extraordinária capacidade de adaptação, podem tornar-se resistentes a determinados antibióticos quando o gene que codifica o referido alvo sofre uma mutação e o produto resultante da sua expressão passa a apresentar uma diferença estrutural deixando de ser reconhecido pelo antibiótico. E, atenção!, que já são muitos os genes mutados que se têm disseminado pelas inúmeras espécies bacterianas.

Então o que há de novo relativamente a esta questão? Como em muitas descobertas científicas, a história começa quando os investigadores se questionam para além dos limites dos esquemas mentais pré-estabelecidos. Foi o que aconteceu com um grupo de investigação liderado por Kai Tittmann, que propôs uma alternativa para debelar as bactérias recorrendo a um grupo de moléculas raras – as antivitaminas. Como todos Continuar lendo